Eu ainda tenho dúvidas sobre o que me trouxe ao jornalismo. É muito fácil acreditar que eu queria ser como o Tintin, do Hergé, e viver aventuras pelo mundo desvendando mistérios e enfrentando perigos. De certa forma, isso seria compatível com a vontade de ser arqueólogo e viver templos antigos e lugares abandonados e cheios de armadilhas.
Quando pequeno eu queria muito saber desenhar. Por mais que eu tentasse, entretanto, nunca conseguia sair dos desenhos de super-palito, que são um bocado limitados quando se deseja construir uma história mais complexa do que aventuras de super-heróis super-poderosos. Eu atribuo à minha incapacidade de desenhar o fato de ter começado a escrever. Se não poderia manifestar visualmente minhas histórias, pelo menos elas seriam convertidas através das palavras em algo que pudesse fazer os outros verem o que eu vejo.
Desde pequeno, portanto, eu me acredito um escritor. E, talvez por excesso de estímulos, um bom escritor. Tenho certa competência natural para usar as palavras, o que é uma ironia em pensar que escrever pode ser, no fim (ou início?) das contas uma alternativa.
Tanto escrever literatura quanto fazer jornalismo possuem uma exigência em comum: a necessidade da experiência. O jornalista não pode reportar senão em virtude de algo que aconteceu com ele ou com alguém. Os dados que ele junta e coordena para produzir (ou montar, dependendo do autor a quem nos filiamos) as notícias vêm de um passado, de uma experiência prévia que está sendo traduzida em jornal. O mesmo com escritor: para dar partida ao seu mundo de imaginação, ele precisa trabalhar aquilo que está dentro dele, sua vida se converte em arte.
Do jornalismo já desisti, talvez por ter notado que o crescimento do texto não está obrigatoriamente associado com a vida de repórter. Não posso desistir, porém, da experiência, de viver o mundo, ouvir e observar histórias que farão parte de mim e, depois, transformar-se-ão em literatura.
O curioso nessa vida é que, tendo desejado ser desenhista, eu hoje trabalho com editoração eletrônica, design gráfico ou qualquer outro sinônimo. Terei eu chegado num ponto de confluência entre o texto e a imagem, por conta de aptidão e desejo?
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