domingo, março 06, 2011

Questionando

Comprei um netbook e, com ele, veio um juicer que, caso eu fosse comprar, me custaria cem reais. Além disso, ganhei um bônus de cinquenta reais para consumir algum produto acima de cento e noventa e nove reais no site, em virtude de um alegado atraso na entrega. Agora, deitado na minha cama, me pus a pensar o que motivaria um site de vendas a oferecer-me gratuitamente um fazedor de sucos de preço considerável. Entendo que para uma grande corporação, o valor de cem reais possa ser algo próximo de simbólico. Não duvido que eles não sintam a perda como algo memorável, como eu sentiria se fosse, digamos, assaltado. Ou, num paralelo mais adequado, se comprasse um presente deste valor, visto que há uma intenção no ato de entregar o "presente".

O que o site ganha com perder cento e cinquenta reais? A lógica me diz que não há razão para que isso aconteça, salvo se eles puderem reverter esse custo em lucro, tornando-o assim um investimento a longo prazo. O que aconteceu comigo nos dias seguintes ao recebimento do juicer e do bônus para compras acima de duzentos reais? Saí vasculhando o site em busca de possibilidades de novas aquisições, e teria aceitado comprar um item mais caro que em outras lojas apenas para usufruir do meu presente.

Recentemente, interessado nas promoções possíveis para a troca de operadora de celular, inclinei-me a trocar também meu aparelho. Tendo chegado a dois anos com ele no bolso, imaginei que já estava na hora de começar a utilizar algo novo. Motivado por um inspirado vendedor, comprei um celular que acessa a internet e tem wifi, podendo atingir velocidades impressionantes. Eu imediatamente ganhei uma nova necessidade: conexão sem fio em qualquer lugar. Por quê? Por estar ciente de que esse tipo de acesso pode me ser útil, em algumas situações. Bem, tantas outras coisas podem me ser úteis em situações tão específicas quanto!


Eu fui burro e estou me desacostumando a pensar, questionar, duvidar, ponderar, medir. A minha desenfreada busca por compreender melhor as relações humanas e suas consequentes emoções e desejos está me levando a explorar também as fraquezas e idiotices das quais eu tanto ri em outros momentos.
Passarei os próximos dez meses pagando por um aparelho que é bom, tem funcionalidades interessantes e tudo mais, mas que eu poderia estar feliz sem. Por quê? Porque eu posso, tenho dinheiro e crédito para comprá-lo. Além da estupidez. Argh.

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