sábado, agosto 11, 2012

O segundo sol - Cássia Eller



Hoje estou pensativo, e o CD da Cássia Eller só está ajudando. Ouvi essa música pela primeira vez em um passeio de carro com a minha família. Estávamos cruzando uma cidade que estou em dúvida se é Novo Hamburgo, Cachoeirinha ou São Leopoldo. Eu ainda achava até uma semana atrás que ela cantava "derrubando com as sondas de Antar", e não "com assombro exemplar". Antar, Antares, sabe?

Essa música sempre me remete a algumas lembranças de escola, particularmente por volta da sétima série. Eu era ainda BV. É, Boca Virgem, nunca tinha beijado ninguém e, como qualquer criança da minha idade, isso assumia proporções absurdas de pressão e desejo de deixar de ser. É como não saber falar de sexo após uma certa idade - dependendo do contexto, a partir dos treze ou catorze, se tu ainda não te gaba sobre haver transado, tu é virgem e todos vão rir -, o que eu certamente passei muito tempo sem saber. Aí ocorre que um dia eu tinha aula de Educação Física e o céu ficou verde. Sim, verde, pergunta para qualquer colega meu e eles vão afirmar com veemência que também lembram dessa mesma tarde. Eu acho tão espantoso que as pessoas ainda lembrem disso, mas pelo menos não foi uma alucinação apenas minha. Por volta do mesmo período havia uma previsão de Nostradamus de que o mundo acabaria. Acho que acabaria inclusive naquele dia. Ou seja: céu verde, mundo acabando.

Minha tarefa na Educação Física era, junto com as meninas e os garotos que não curtiam futebol, ficar dando voltas na quadra. Tudo bem, era até divertido aquele momento de caminhada conversante. O que não era divertido eram as perguntas do tipo "o que fazer se o mundo for mesmo acabar hoje?", que pululavam entre meus colegas. Eu não queria confessar o que estava na minha cabeça o tempo inteiro: beijar aquela colega que eu tanto gostava. Sim, aquela, pois nessa época era inconcebível para mim querer ou desejar um menino. (Bem, não tanto inconcebível quanto impossível de pensar. Eu sabia que tinha tesão, que queria, que isso me atraía e que eu até tentaria avançar sobre um ou outro moço, sempre sem sucesso, mas não conseguia manifestar isso linguisticamente nem mesmo para mim. Era esquisito, ainda preciso estudar mais sobre isso.)

Fiquei um bom tempo naquele dia ensaiando como me aproximaria da dita colega e lhe beijaria. Não seria possível falar, pedir, ela talvez quisesse outras pessoas. Ou quem sabe me amasse tanto quanto eu a ela, óh!. Sério, a Disney e a Sessão da Tarde contaminavam muito o meu entendimento do que era amor e como ele se processa. Não que eu saiba hoje, verdade seja dita. Cheguei à conclusão de que eu não sei me relacionar com pessoas. Não sei ser namorado, não sei ser amigo, só sei ser eu e estar aqui, o que muitas vezes não é suficiente. Há quem goste, verdade, mas eu sinto que deveria fazer um esforço, algo voltado para isso, mas simplesmente não acontece. Passa despercebido. Ou só percebo depois. É, eu sempre percebo depois. Em alguns casos, anos depois.

Pensei tudo isso enquanto esperava a água temperar. Sério, eu deveria pagar meu chuveiro como se fosse um analista.

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