Essa é daquelas que eu sempre tive medo, mas não vivia há décadas. Bem, há uma década. E meia. No meu sonho desta noite, era um dia de jogo de futebol, Brasil x Argentina, algo corriqueiro e desinteressante para mim, não fosse o fato de que vieram me perguntar se eu atacava no gol. Eu. Futebol. Seleção brasileira. Aí fui lá e fiquei no gol. Defendi várias, mas sempre espalmando as boladas e devolvendo-as - inadvertidamente - para os jogadores argentinos. Era um massacre emocionante, cada defesa corrida e suada e com pulos imensos, mas sempre cometendo um erro e a bola não indo longe o bastante, não indo para o lado certo e assim por diante. Por fim, acabei levando um gol e me dirigindo ao rapaz que havia me indicado para jogar. Afirmei fortemente - e foi quando começou a chover, se é que isso importa - que eu precisava treinar mais, estava decidido a não viver aquele fracasso de novo. De pronto, acordei.
Eu não quero psicologizar nada, mas não deixo de remeter isso à quinta série, quando fui pela primeira vez perguntado "ataca no gol?" e acabei aceitando, mais por não saber o que iria acontecer do que por sim, ser um bom goleiro. Em questão de dez minutos, todos meus colegas do colégio entenderam que eu não era uma pessoa para jogar futebol. Em questão de dez minutos, levei uns cinco ou seis gols e acho que não defendi nada. Assim começou minha rica relação com o futebol: sempre que tinha jogo, no time em que eu estivesse, eu era o goleiro. Aos poucos, fui melhorando. Nunca fui bom, aquele que as pessoas pensavam "nossa, vamos jogar, mas o Tales fica no gol". Contudo, eu fui deixando de ser tão ruim, de ser simplesmente uma pessoa que fugia da bola.
Essa, contudo, não é uma história de superação pessoal.
É, na verdade, uma história de alguém que morre de medo de falhar e que hoje em dia prefere não entrar na frente de uma goleira se não acreditar que tem condição de defender alguns, senão todos, chutes. Agora sim psicologizando, isso é algo que quero mudar em mim, esse medo de tentar. Aos poucos, vou criando coragens e desafiando esses meus medos, mas nem sempre funciona. Fico feliz que no meu sonho desta noite eu tenha decidido treinar e me esforçar, ao invés de dar de ombros e aceitar que não sei jogar. Já fiz tanto na vida real que até o meu inconsciente já está de saco cheio.
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