Eu não sei ser sutil. Não que eu ache desimportante ser sutil, pelo contrário. É simplesmente algo que eu nunca aprendi e que agora me faz falta. Se eu tenho algo a dizer, eu geralmente digo tudo sem lubrificante ou não digo nada, para evitar problemas. O oito e o oitenta funcionam fácil, aqui, mas o trinta e cinco, não. Aí tem uma pessoa que não é o que eu queria que ela fosse: eu me fecho. Aí tem um amigo que vai se afastando e eu vejo isso: eu me fecho. A alternativa é agressiva demais, é gritar "tu está indo embora da minha vida, se continuar assim estamos acabados!". Bem, é o que vejo, é o que sinto. É o que eu não queria ver nem sentir, mas se for para manifestar, manifesto gritando. Tenho vontade de perguntar "é isso que tu quer?", quando na verdade nem sei se a pessoa sabe que está fazendo isso. E se souber e quiser, dói mais ainda.
Essa coisa de não saber jogar com o meio termo também é um problema nas minhas relações. Se eu te quero pra amigo, te quero pra amigo agora, para sempre e com tudo. Alguém uma vez disse que o que lhe cativava era perceber que confiavam nele. É assim comigo: a confiança me anima, me aquece, me conforta. Saber que tu escolheu conversar comigo, falar o que não falaria para outros, tudo isso me dá um ar de importância, um ar de tempo dedicado. Eu retribuo isso. Ao mesmo tempo, ver e sentir e saber coisas que estão ali, mas não são ditas nem compartilhadas me dói, me dá vontade de afastar, de voltar para um mundo que seja só meu e que não dependa da vontade dos outros.
Acho que era por isso que, quando criança, eu gostava tanto de escrever. O mundo transcorria como eu queria, como eu desejava. Eu estava plenamente no controle. O mesmo acontecia com os jogos de RPG. A única coisa que nunca se confortou em me obedecer foi a vida, o resto dos humanos. Aí tu conhece uma pessoa e ela te promete mundos, mas nem aparece de novo para cumprir. Aí tu conhece outra e acha que estabeleceu uma relação de abertura, mas na verdade existem muitas pontes quebradas.
Eu não sei ser 50%, 95% também não me serve. Para a minha vida, só rola quem quer os meus 100 e, em troca, também dá 100.
É pedir demais, esperar um mundo no qual as pessoas se entreguem como eu estou disposto a me entregar?
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