Em certo momento, o guri comentou que tem uma doença que precisa de acompanhamento constante. Não recordo exatamente as especificidades da enfermidade, mas era algo dermatológico e tal. Então em dado instante fui fazer uma piada que envolvia esse ponto e, subitamente, me segurei. Tudo bem, o meu motivo considero justo: não sei se ele aceitaria a piada (certamente humor negro) sem constrangimento ou, até mesmo, algum rancor, por isso segurei.
Aí surgiu a dúvida moral, pois comecei a pensar se, descontado o potencial de reação do indivíduo, poderia haver algum lado "maligno" em fazer piada sobre doença. Cheguei a duas respostas possíveis, ambas aceitáveis no meu olhar: de um lado, não fazer a piada seria tornar o garoto um excluído, o que provavelmente já acontece o suficiente, e talvez ele não queira ser considerado diferente por algo que não é uma escolha; de outro, fazer a piada é torná-lo justamente alguém que não pertence ao todo, uma pessoa com características que o distinguem do todo.
Lembrando que meu raciocínio, aqui, está excluindo o sentimento do fulano, acho que ficaria com a segunda possibilidade. Para mim, ter minha diferença lembrada é algo que me agrada, contanto que isso não se torne uma definição do tipo "Ah, o Tales é o que tem a doença tal". Entra aqui, também, o papel duplo do humor, que ao mesmo tempo sedimenta uma visão já consolidada (para que os motivos da graça sejam reconhecidos) e rompe com valores pré-construídos (pois o humor geralmente está numa resolução inusitada para uma situação conhecida).
Nisso tudo, o que é o certo?
Amplio: será possível, um dia, alguém estar certo?
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