Durante o mestrado, tive aula com uma professora que contava muitas histórias. Em um desses causos, ela relatou que trabalhara com crianças em situação de risco, ou seja, que moravam na rua. Junto com uma ou outra colega, aos poucos foi cativando os jovens e trazendo-os para um espaço escolar diferenciado, não formal. Sentavam em círculos, conversavam individualmente, caminhavam pelos lugares. Propostas dinâmicas. Um dia, havendo já conquistado uma certa dose de confiança, convidou a meninada a organizar a sala de aula do jeito que eles achassem melhor. Eles toparam o desafio e ajeitaram as mesas e o quadro e tudo mais exatamente igual a uma sala de aula padrão.
Alguns estereótipos se configuram em nós e se reproduzem de tal forma que acreditamos neles e não os questionamos. Acreditamos cegamente que há um jeito correto de aprender, uma forma específica que é melhor que todas as outras. Esse jeito seria a escola, a sala de aula, o mestre em frente aos alunos. O silêncio absoluto, a atenção irrestrita por horas, o corpo silenciado e imóvel.
Estou ao longo desta semana pensando muito nestas questões: como dissipar o tédio que domina as salas de aula? De que maneira colocar o corpo – e não apenas supostamente a cabeça – dos estudantes no espaço de educação? Acho improvável que eu seja capaz de motivá-los, especialmente na faculdade, já que eles estão lá por escolhas razoavelmente próprias. O Ensino Superior não é compulsório (ainda que seja basicamente uma exigência social "para melhorar de vida").
Não tenho respostas. Continuo achando melhor ter perguntas, embora seja difícil não me afogar na inundação de expectativas por respostas.
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