Revisitando algumas escolhas passadas, comecei a tentar localizar o que, exatamente, me motivou a sair de Porto Alegre rumo a Goiânia. Foi o medo de lidar com a vida gaúcha? Foi o desejo de respirar novos ares? A vontade de crescer intelectualmente? Profissionalmente? Estar cansado da rotina porto alegrense? Eu tenho uma boa resposta pra isso, mas ainda quero guardá-la por mais algumas linhas.
Hoje na empresa eu fiz um cálculo referente a um relatório que todos os funcionários preenchem. Cada um participa de uma etapa diferente, é claro, mas é a soma de todas elas que faz o produto ir para a frente. Realizando algumas operações, cheguei à conclusão de que cada etapa concluída - cada uma, em teoria, por um grupo de profissionais diferente - resultaria em aproximadamente 0,03% do objetivo concluído. Evidentemente, o fato de uma empresa ter um objetivo delineado e quantificado facilitou esse cálculo. Não seria possível dar a mesma resposta numérica a uma questão de ordem qualitativa, uma vez que valores e qualidades são difíceis de quantificar e justamente por isso têm sido considerados, ao menos em termos de pesquisa, distintos de categorias quantificáveis, estatísticas.
Enquanto eu pensava sobre esses números e apresentava à minha chefe o fato de que a produção geral da empresa estava girando em torno de 2% ao dia, bem como as variações que o crescimento desse número há de sofrer em função das operações qualitativas, dei-me conta do quão confortável eu me senti com essa quantificação palpável. Em termos estatísticos, a resposta está ali, clara e coerente. Se seguirmos na mesma taxa de produtividade, alcançamos a meta em 100% / 2% dias. A tendência é que a taxa diária sofra variações conforme as tarefas se alternem e os tipos de envolvimento profissional também. Tudo muito claro, tudo muito matemático.
Não há uma fórmula matemática que responda o porquê de eu haver saído de Porto Alegre. Da mesma forma, não existe uma quantificação possível entre medo, coragem, loucura etc. Eu senti que era isso que deveria fazer e julguei que o correto seria seguir meus sentimentos. Não foi fácil e continua não sendo, pois essa pequena decisão alterou fundamentalmente todos os processos da minha vida. Minha casa, minha família, meus amigos, as pessoas pelas quais eu poderia me apaixonar, tudo isso se transformou no instante em que eu tomei a decisão de sair de Porto Alegre.
A vida, como essa coisa louca que é, não me deixa saber se esse meu dia é 0,03% da minha vida, da minha felicidade, da minha sanidade, ou se mais ou se menos. Na vida e nas nossas escolhas qualitativas, a gente não enxerga o todo, portanto não pode se abstrair e decidir o que é mais coerente. A gente pode sentir, a gente pode calcular, a gente pode supor, mas termina por aí. Após dois anos, considerando o que eu vivi em Goiânia, eu suponho que estive certo: Porto Alegre dificilmente me ofereceria o mesmo tipo de experiências e, pelo menos hoje, isso é suficiente para que eu acredite que fiz a escolha certa.
Eu odeio ser repetitivo e algo óbvio, mas não há resposta certa.
Aliás, há: a que eu acabei de escrever. Fora isso, são apenas palavras, números, probabilidades.
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