sábado, agosto 15, 2009

Cultura

Li hoje de tarde um texto incrível. É o primeiro capítulo do livro A idéia de cultura, de Terry Eagleton. Já havia ouvido falar sobre quão complexo o texto do homem era, mas não tinha ainda me dedicado a lê-lo. O fiz hoje de tarde, meio que como um início de estudo para o mestrado, já que este texto foi bibliografia obrigatória para a prova de seleção do ano passado no PPG em Cultura Visual da UFG.
Colocarei aqui alguns pensamentos que me ocorreram durante a leitura, e não referências resenhadas sobre o escrito. Caso queiram mais do texto, bem, leiam-no, pois é fabuloso. Escreverei na forma de citação as minhas anotações (escrevi na primeira página do meu xerox), mas elas são minhas, viu?

A tradição se mantém através do desejo de não ferir o olhar tradicional dos outros. O diferente, para não assustar aos comuns deve, ele mesmo, contentar-se com o comum; ou, então, aceitar o olhar da diferença.

O "olhar da diferença" acompanha desprezo, distância, medo, preconceito. Costumamos, geralmente, temer aquilo que escapa à nossa compreensão e à nossa capacidade de percepção. Não é uma idéia estranha, difícil de compreender: quando saem da caverna, os acostumados com sombras em preto e branco não ficarão confusos, assustados e, ao mesmo tempo, maravilhados, com a luz e todas as suas cores?
Lidar com esse sentimento de diferença é uma tarefa complexa, pois baseia-se na inteligência dos outros. Acredito, sinceramente, que todas as pessoas têm o potencial para a abertura, para a compreensão de que suas verdades são apenas suas, e que apesar de serem verdades elas não são universais.

O olhar sobre a cultura, para ser verdadeiramente pluralista, precisa estar aberto ao que consideramos tradicionalmente como maldade e vilania, tal como a tortura e a pornografia infantil.

Este pensamento me assustou, em princípio, pela crueza e singeleza. Acompanhe meu raciocínio: se aceitamos a diferença ilimitadamente, não podemos deixar de lado a idéia de que a tortura é algo culturalmente possível, e que em si pode carregar grande inventividade e até mesmo criatividade. Ah, é maldade, fere os irmãos humanos e tudo mais? Sim, verdade.
Onde está, porém, na idéia de aceitação universal, a cláusula limite? Como sempre, na tradição, e a nossa hoje (não sei se em todo o planeta, parece-me que não) requer a proteção de certos preceitos, como a vida e a segurança, mesmo que precisemos invadir e matar para isso.
Por sinal, uma citação maravilhosa do Eagleton: "[os governos {não tenho certeza e estou com preguiça de procurar}] não percebem que o melhor modo de garantir a independência política é concedendo independência política". Amei.

Educar é estabelecer tradições.

Nosso modelo atual de ensino prioriza a repetição do que já foi ensinado, confirmado, estabelecido, desenvolvido, etc. A criatividade, o olhar alternativo, nada disso é favorecido ou esperado. As questões apontam para uma única resposta, e sempre a mesma para todos os alunos. O pensamento evolui para o estabelecimento de uma biblioteca específica e muito limitada, ao invés de um banco de dados intercambiável e facilmente acessível. Resta apenas aos alunos geneticamente ou culturalmente favorecidos a possibilidade de enxergar essa limitação e vencê-la quando ainda crianças, ao invés de terem essa oportunidade apenas quando mais velhos.
Tive um professor que disse, certa vez, que não podemos culpar a ignorância alheia. Concordo. Ele comentou, em seguida, que poderia sim odiar o desejo de não aprender, que isso era pequenez do homem. Concordo de novo.

A tradição se estabelece como crença, com um edifício a partir do qual olhamos o mundo. Para vermos diferentemente é preciso, primeiro, sair dele.

Não sei se a metáfora ficou tão clara quanto eu desejava, acho que desenhada ficaria melhor. Assim como o conhecimento científico é uma pilha de folhas de seda, ou ainda uma escada, em que aproveitamos os estudos alheios para fundamentar e chegar mais alto aos nossos, muitas vezes subimos em um degrau e não descemos para chegar até outros, mantendo-nos sempre no mesmo lugar, sempre nas mesmas opiniões.
Flexibilidade, variação, abertura. São habilidades importantes para o homem, e provavelmente as que permitem o melhor desenvolvimento da inteligência.

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