As sociedades avançadas industrialmente estão baseadas na determinabilidade de todas as suas funções e elementos. Elas trabalham no sentido de otimizar as performances do sistema, na direção da eficiência e da operacionalidade do todo (Lyotard, 1985). Elas ensejam que seus protagonistas contribuam para esse esforço de produtividade com receitas utilitárias e "conteúdos" pragmáticos. Nesse sentido, elas esperam que o artista se integre da forma menos dolorosa possível em seu projeto diretivo e aceite sem dramas o lugar e a função que lhe cabe na linha de produção. Da parte do artista, a pressão se faz sentir de forma bem concreta. Para trabalhar com tecnologias de ponta, o artista precisa aprender a excercitar a disciplina e a produtividade. O acesso às másquinas de grande porte é superlativamente caro e o preço cobrado por intervalos de tempos (horas, minutos), não estando nas cogitações do sitema a ociosidade das máquinas. O trabalho com tecnologias de ponta, no interior de instituições poderosas, exige sistematização, eliminação do improviso, o que quer dizer: saber exatamente o que se quer, sem excentricidades ou irracionalismos. Por outro lado, porém, o trabalho artístico se alimenta da ambigüidade, dos acidentes do acaso e das liberdades do imaginário; ele se define pelas utilizações desviantes ou lúdicas, de modo a transformar em jogo gratuito a função produtiva. O trabalho artístico depende muito pouco dos valores da produção e progride na direção contrária à da tecnocracia; ele precisa de um certo coeficiente de desordem, de um certo espaço de imprevisibilidade, sem os quais degenera na metáfora da utilidade programada. A arte é indiferente a qualquer teleologia; ela é o que é, esse enigma inesgotável, entre outras coisas porque lhe faltam finalidades. Ao fluxo quantitativo das mensagens utilitárias, ela responde com a incerteza e a indeterminação qualitativas. Toda arte produzida no coração da tecnologia vive, portanto, um paradoxo e deve não propriamente resolver essa contradição, mas pô-la a trabalhar como um elemento formativo.
sexta-feira, agosto 14, 2009
Máquina e Imaginário
Estou lendo apaixonado este livro do Arlindo Machado, e já no primeiro capítulo eu preciso registrar uma citação que pensei magnífica:
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