Esse textinho é uma resposta a duas perguntas que foram feitas pela ohlais em comentários. A primeira foi nem bem uma pergunta, mas uma empurradinha sobre eu estar escrevendo. A segunda, sim, uma pergunta daquelas bem perguntas e bem difíceis: o que eu e meu digníssimo fizemos quando o moço nos ameaçou? Como se reage a esse tipo de coisa?
Meu segundo primeiro romance está caminhando. Eu e ele já conversamos por sete páginas e é aqui que entra a mágica da escrita: a cada vez que abro o arquivo e volto a escrever, ele se transforma. Já sinto como se eu não tivesse exatamente controle sobre o que virá, sobre o que será o produto literário final. A história se conta através de mim, é verdade, mas ela se modifica conforme as ideias vão se autoavaliando e questionando. Meu personagem principal já mudou tantas vezes em poucos dias que tenho a certeza de que não sei aonde ele terminará. Sim, ele terminará, como jaz acontecer a qualquer forma de vida, nem que seja na minha imaginação. Talvez ele persista na de outras pessoas, talvez siga comigo até o meu fim. Não sei, a única coisa que sei é que ele é poderoso assim.
Quero continuar a escrever e pretendo que essa história seja publicada. Lutarei por isso quando a terminar. Acho que está na hora de enfrentar meus medos de ser público e de ir atrás dos meus sonhos de escritor. Posso levar anos até concretizá-los, então é bom começar o quanto antes. Isso tem sabor de vida.
O que, aliás, já é a resposta ao "o que vocês fizeram, o que se pode fazer?". Na hora, a gente soltou as mãos e morreu de medo. Uma parte de nós certamente morreu ali, isso pode ser dito: a parte que andava de mãos dadas na rua sem tanto medo. Ontem mesmo, caminhando na rua, soltamos as mãos quando avistamos algumas pessoas vindo de longe. De certa forma, uma parte da nossa liberdade se perdeu.
Por outro lado, eu estou escrevendo um romance a partir desse evento. Meu personagem principal é meu cúmplice e ele sente o que eu senti. Na verdade, eu senti uma parcela do que ele sentiu. Então pode-se dizer que a minha resposta à ameaça homofóbica seja essa: se fui ameaçado de morte, então respondo com vida, respondo com transformar parte de mim em algo que tenha um alcance maior. Eu não tenho o poder de mudar pensamentos, pensamentos se mudam por força própria. O que eu posso fazer é jogar no mundo sementes de inquietação e, espero, meu livro será uma delas. Essa, aliás, também é uma mágica da escrita.
2 comentários:
Que honra um comentário meu render um post! :D
Fico muito muito triste pela parte de vcs que morreu.
Mas é consolador saber que tu tá conseguindo transformar isso numa coisa boa. E vou querer o livro :)
Pode ter certeza que ficará sabendo quando minha história se tornar livro =D
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