quinta-feira, abril 04, 2013

Não fique só nas ideias

Neste semana, alguns alunos apresentaram um trabalho que inclui uma proposta de "semana da diversidade" a ser organizada e implementada em alguma escola. O esboço do projeto já inclui possíveis palestrantes e também uma página da internet. Claro, tem muito ainda a melhorar, mas como qualquer projeto que foi iniciado (ou seja, que saiu da exclusividade do plano das ideias), ele está ali e agora pode ser interferido por outras pessoas.

Ontem, na aula, pediram para que eu falasse sobre processo criativo. É um tema que eu gosto muito, mas que nunca parei para sistematizar uma foma de orientar um processo de aprendizagem. Eu acredito, no que tange à criatividade, que devemos antes de mais nada fazer o que quer que seja. A partir das primeiras tentativas, geralmente fadadas ao insucesso, chegaremos a ideias melhores e também a execuções mais competentes. As primeiras coisas que rabiscamos costumam ser as óbvias, as fáceis, as mais acessíveis no nosso cérebro. Criação não é inspiração, criação é ofício. Sem prática, sem evolução.

quadrinhos gay
http://oquartoaolado.com/
O livro O quarto ao lado foi uma grata surpresa que cruzou meu caminho. Como iniciei meu mestrado interessado em histórias em quadrinhos com personagens queer (para depois passar por um longo período de reconsideração do que eu entendo como "personagem queer"), acabei conhecendo pessoas com interesses semelhantes. Foi assim que o livro veio parar na minha mão: o moço responsável por ele (Marcelo Lima) entrou em contato e me enviou uma cópia para que eu pudesse conhecer o trabalho.

O livro traz quatro histórias, três delas em quadrinhos e uma em forma de conto, que abordam possibilidades de diversidade sexual. É um projeto inspirador acima de tudo pela sua construção e efetivação, provando que é possível dar visibilidade a vozes e histórias que muitas vezes tendem a ser ignoradas. São narrativas de encontros e desencontros que se misturam bem do jeito que a vida gosta de fazer: com um sabor de "não achei que pudesse, mas aconteceu".

produção editorial
https://www.facebook.com/eloeditorial
Outro projeto que também tem me inspirado é a Elo Editorial, grupo de estudantes do curso de Produção Editorial da Universidade Federal de Santa Maria que se reuniu para começar a experimentar os modos de fazer livro. E fizeram. Já lançaram duas edições do livro Bang, que reúne prosas e poesias selecionadas a partir do material enviado por interessados. O resultado, entre textos e ilustrações, é bastante agradável.

E a raposa, publica quando?

Os leitores costumeiros sabem que eu tenho um interesse por publicação que aparece em inúmeras vias. Como pesquisa de doutorado, jovens que se publicam nus na internet. Como profissional, os processos de escrita, revisão e diagramação de livros e periódicos. Como artista/escritor, a parte de escrever e efetivamente publicar ou ser publicado.

O que falta para qualquer um desses três "eixos" crescer? Eu dar os passos necessários para isso, tirar as ideias da cabeça e dar forma real a elas. Recentemente tive uma grata surpresa: enviei um conto para um concurso e fui aprovado como um dos autores que serão lançados no livro da Editora Escândalo. O que isso significa? Que minha vida de escritor foi definitivamente retomada e que estou escrevendo 748473 textos por dia? Não. Significa que um grupo de pessoas que publica materiais na linha dos que eu escrevo gostou das minhas letras e resolveu publicar. Significa que o mimimi de "talvez eu não escreva tão bem pra publicar" não deveria mais ser sustentado como desculpa para me impedir de trilhar os caminhos que desejo.

Acima de qualquer coisa, significa que se eu não der um primeiro passo (e todo dia precisa de um novo primeiro passo), nada mais vai acontecer. Enquanto agir não for um hábito, eu serei a raposa que apenas gostaria de ser, mas não é.

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