Todo dia eu posto meus sonhos no Facebook, coisa boba, um hábito singelo. Aí hoje eu tive um pesadelo horrível envolvendo as coisas que mais me assustam na vida, e o primeiro impulso foi ir ao computador e relatar detalhadamente o pesadelo. Ao contrário do que faço todos os dias, eu não quero contar a ninguém esse sonho, exceto àqueles que mais confio. É uma coisa tão clara, para mim, que os elementos envolvidos no pesadelo sejam reflexos das coisas que me assustam quando acordado. Aliás, que me tiram o sono. Literalmente, como hoje.
Atualmente estou estudando/pesquisando algumas relações que começam ou se mantêm através do ato de publicar. Especificamente, fotos nuas de si próprio. O que me motiva é compreender as razões que levam as pessoas a se autopublicarem, a construírem uma exposição de seus próprios corpos que atravessa a internet e se torna incontrolável. Não tenho intenções de julgar essas práticas, tampouco considerá-las inferiores a relações construídas tradicionalmente. O que desejo é compreender o impulso e as relações afetivas criadas a partir desse impulso.
Até hoje não fazia sentido, para mim, pensar sobre a subjetividade do ser humano e as suas transformações ao longo dos séculos. Achava, ingenuamente, que isso tinha pouco a ver com o ponto que vivemos hoje. Esse sonho, juntamente com o fato de ontem eu haver me matado preparando para uma prova de concurso numa área que eu não domino, me iluminou a necessidade de repensar a forma com que me relaciono com o mundo e com as informações e conhecimentos. Aí por esses dias li O Show do Eu, de Paula Sibília (informações sobre ele aqui e aqui) e gostei, é um livro ótimo, mas não enxerguei a relação entre os processos subjetivos de construção do eu no passado e como foram avançando até hoje. Ingenuamente, não pensei nessas reflexões como contendo muita ligação com o que eu desejo estudar. No máximo, um histórico interessante.
O que percebi, com esse impulso de publicar, foi a necessidade de ser visto pelo outro para que meus medos ganhem confirmação real, ganhem existência. O que senti foi o desejo de me resguardar, de não expor todos os pedaços de mim, de minimamente manter um pedaço de mim que não é público, que não é para todos os olhos. Não quero que saibam meus medos. Isso me leva a questionar: será que esses sujeitos que desejo investigar também têm esses impulsos e também sentem necessidade de guardar fragmentos de si em um âmbito "privado"? Ou será que, tendo nascido numa época muito mais digital e em rede do que eu, eles não terão se contaminado com formas de ser de um passado não muito distante?
Eu queria ser escritor, ainda quero, e colocar em letras dramas, romances, aventuras e sentimentos. Alguns pensamentos, também, é o que mais tenho feito. O que mais me incomoda hoje é a pergunta: ainda existem leitores? O ato de ler é tão solitário que sarais poéticos me incomodam por serem compartilhados. Contudo, a dinâmica social contemporânea nos requisita que tudo seja compartilhado para se tornar validado. De preferência, rápido. Textos longos sofrem. Para a literatura, me parece que vivemos numa era dos contos, ao invés dos romances.
Sobre os jovens que se autopublicam, então, tenho uma nova questão: o que escolhem guardar para si? Como se constroem suas intimidades? O que é íntimo para eles? Acabei de perceber que eu tenho algo que seja íntimo para mim e que o é não por vergonha, mas por medo do mundo. Não quero que as pessoas saibam como me fazer mal. É diferente de postar fotos nuas minhas na internet, isso é simples e nunca me doeu. Eu não quero validar meus medos, não quero que eles sejam parte de como o mundo me enxerga. No fim das contas, continua sendo tudo sobre essa autopublicação, esse mostrar-se ao escrutínio do outro. O olhar do outro ainda é o que me dá existência. Certamente tenho muito mais a pesquisar!
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