A gente se conheceu em uma noite que eu não dava nada pra vida. Era uma quarta-feira, alguns dias depois da virada do ano. No dia seguinte eu tinha que ir cedo para o trabalho, mas não me importava: eu quis sair, ir pra noite, dançar até não poder mais. Estava faltando algo na vida e eu tinha certeza que, fosse o que fosse, eu precisava procurar naquela noite. Por umas duas ou três horas, eu fiquei terrivelmente arrependido. Fui para uma festa cuja fila estava imensa e não andava nada. Não andou nada por horas. Horas! Aí eu decidi ir embora para outra festa. Não voltaria para casa sem dançar pelo menos um pouco, depois de tanto tempo na rua. Além do mais, eu não tinha mais como voltar, os ônibus já não circulavam àquela hora da madrugada.
Foi na fila da outra festa que te vi pela primeira vez. Havia o quê, cinco pessoas na minha frente? E tu furou a fila, passou na frente de todo mundo e, com teus amigos, entrou. Eu sei que tu me viu, eu te vi me vendo. Senti um misto de raiva com atração. Mais atração que raiva, é verdade. Bem mais. Aí entrei na festa, aquela coisa escura com luzes piscantes e músicas tunti tunti. Meu lugar favorito na cidade. Eu estava sozinho, então não quis dançar ainda. Preferia beber um pouco, deixar o álcool garantir meus movimentos, minha despreocupação. Aí eu te vi pela segunda vez, tu estava num canto parado, teus amigos estavam por perto, mas não perto o bastante. Trocamos olhares, tu me chamou para perto. Eu fui, claro. Como poderia dizer não para tanta autoconfiança?
Não lembro sobre o que falamos, exatamente. Signos. Ocupações. Futuros. Eu achava que tinha pouco tempo para oferecer, apenas dois meses. Tu tinha menos, alguns punhados de horas. Ali estavam todos os elementos necessários para uma ficada aleatória e nada mais. Só que não. Na hora de ir embora, fomos juntos pegar nossas mochilas. Era tu quem queria ir embora, mas para mim a noite perderia o sentido se tu fosse e eu continuasse. Na realidade, ela já havia me mostrado todo o sentido que havia em sair numa quarta-feira. Eu chegaria em casa ainda a tempo de dormir por umas três horas, o suficiente para respirar e aguentar um dia de trabalho. Inesperado veio o convite para ir à tua casa. Ainda hoje passo pela frente dela e lembro dos suspiros e sorrisos vividos ali.
Acho que essa noite sozinha teria sido suficiente para aquecer meu coração, para disparar o feitiço do amor. A verdade é que foi. No dia seguinte eu já estava avisando minha confidente sobre a felicidade e a possibilidade de namorar. Sim, eu sou assim, todas as vezes em que me apaixonei o amor veio de primeira, em poucas palavras, em rápidos olhares. O meu coração sempre sabe, e ele bem soube quando passamos horas ainda conversando na cama, discutindo a vida, os caminhos do mundo. A nossa história nunca foi sobre sexo, mesmo que sexo estivesse ali o tempo inteiro. Mesmo essa primeira noite, que não era para ter absolutamente nada sexual – ainda lembro do aviso "é para dormir, não para transar" – teve sua parcela de sedução e gozo. Certamente valeu a pena dormir apenas uma hora e ir feito zumbi para o trabalho.
Lembro de todas as vezes que nos vimos desde então, os lugares, as ocasiões, os motivos. Ainda hoje, se preciso mencionar uma história de amor que não deu errado, é de ti que eu lembro. Porque realmente não deu errado: apenas nossos caminhos nos afastaram, talvez temporariamente.
Ainda estou te devendo a leitura de uma certa carta em francês.
Obrigado por existir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário