Nem sempre a gente age ou reage da forma que gostaria. Seja como professor, seja como guri chato que fica debatendo as coisas no Facebook, frequentemente me pego repensando sobre as coisas que escrevo e até mesmo querendo ir lá e mudar tudo pra parecer inteligente desde o início. Pena que o mundo não funciona assim, então o que fica são os aprendizados.
Ontem foi um dia particularmente interessante para pensar sobre isso e, também, sobre sexualidade e religião (a respeito desses temas, acho sempre justo recomendar Prayers for Bobby). Está rolando na internet desde domingo um grande debate sobre uma entrevista dada pelo pastor Silas Malafaia à Marília Gabriela, seguida de uma resposta de um doutorando geneticista. Rolou também um texto de uma pesquisadora de São Paulo e, agora entrando a minha participação, uma conversa que se seguiu a isso.
Pausa para o passado. Dia 13 de novembro de 2012, postei a seguinte imagem no Facebook (liberei o acesso a quem não é meu amigo, para facilitar):
Junto a ela, eu trazia as seguintes palavras: "Já ouço pelos cantos alguém comentar 'nossa, o Tales é contra Deus'. A isso, respondo o mesmo que venho dizendo há anos: um livro, qualquer que seja, é a cristalização de um momento. Se nós não pudermos escolher o que nos serve de cada leitura e atualizar nossos valores para que sejam mais humanos e menos divinos, continuaremos mais sofrendo e fazendo sofrer do que amando e permitindo amar."
Eu mantenho a minha posição sobre isso, mas nesse dia aprendi algo com uma amiga. Ela perguntou: "por que colocar essa figurinha, que combate um preconceito com outro?". Ela tem razão. Algumas vezes, por mais que eu defenda que a vida tem que ser diferente, é incrivelmente difícil ser cortês e aberto.
Fim da pausa para o passado, voltemos ao presente. Dois exemplos, para finalizar a escrita.
O primeiro rolou no grupo do Coletivo LGBT UFRGS, no Facebook, um espaço em que coisas interessantes são postadas e pensadas. Um moço questionou o texto da pesquisadora de São Paulo, dizendo que ele era mal escrito e teria sido feito só para aparecer. Eu acho que o rapaz estava equivocado. Durante a troca de mensagens, ficou clara pra mim uma postura deselegante e pouco aberta a argumentos. O que importava ali, pareceu, era repudiar um texto (mal interpretado) através de ataques para todos os lados: autora, suas (supostas) intenções e os comentadores envolvidos. Uma das coisas que tento sempre requisitar de meus alunos é que debatam com cortesia, com educação, com elegância. Ofender o coleguinha não é legal.
O segundo exemplo coloca o furo mais embaixo. Eu estava na aula de Metodologia Científica, ontem, explicando justamente como devemos proceder quando dialogamos e discutimos posições. Aí perguntei quem na turma tinha visto a entrevista com o pastor e, depois, quem concordava com ele. Achei, sinceramente, que ninguém se manifestaria a favor dele. Contudo, algumas pessoas levantaram a mão. A minha reação, dali pra frente, não foi menos que desastrada. O que aconteceu? Eu fiquei desconcertado em estar dando aula para pessoas que concordam com um cara que defende que eu não deveria existir. Só que a minha reação foi absurda e muito mais emocional do que racional, além de cheia de preconceitos e presunções. Eu não deveria ter reagido assim, não fui atacado nem nada. Ali estava – e está, temos um semestre pela frente – uma oportunidade enorme de lidar com a diversidade de crenças e posições. Se eu peço cortesia, eu poderia muito bem ter sido o primeiro a oferecer isso.
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