quarta-feira, agosto 21, 2013

Macho que é macho não... existe

Perdoem-me os escritores de plantão, mas eu repito a palavra macho exageradamente nesse texto. Eu mesmo estou me sentindo meio mal, porque não escrevo textos de fantasia há tanto tempo...

Eu não acredito em machos e isso não tem nada a ver com a foto abaixo. Ou tem tudo, deixo o leitor decidir. Eu deixei de acreditar neles há muito tempo e esse texto é a minha tentativa de explicar o porquê.


Eu não acompanho futebol, por isso não saberia nunca que o moço de boina é Sheik, um jogador do Corinthians. Sheik é não só um jogador do Corinthians, mas um jogador do Corinthians autodeclaradamente heterossexual. Aí uma noite ele sai com os amigos e dá um selinho num deles e o mundo desaba.

Sabe por que eu acho que machos não existem? Porque ser macho é tão instável e frágil que basta um selinho num outro cara para que a torcida do Flamen, ops, do Corinthians se revolte e resolva roubar a carteirinha de macho do Sheik. Macho que é macho não beija outro macho.

Ser macho é uma condição tão frágil que a galera precisa ficar repetindo e provando o tempo inteiro que é macho. Quem nunca viu na escola, por exemplo, a ofensa mortal a qualquer macho: xingar a mãe, ops, chamar de viadinho? Homem que é homem tem que gostar de mulher e falar de mulher e pegar mulher e fazer o que for com mulher (ou com o viadinho mais próximo, na falta de mulher, o famoso caso dos heteros que comem viados). Detalhe: homem que é homem só tem amigo homem, fica pelado em vestiário cheio de macho e de vez em quando aperta a bunda do outro pra ver se o outro é macho e reclama (oi?).


O que é um macho? Macho, em uma sociedade machista, é o sujeito que se acredita detentor do Poder do Pênis. Com esse superpoder, ele acha que pode maltratar as mulheres, ops, usufruir das outras pessoas (em geral mulheres, macho só usa outro homem se este for viadinho e ainda assim se ninguém ver... aliás, vamos todos ignorar as brincadeiras de medir o maior pinto, ver quem mija mais longe, bater punheta junto e fazer troca-troca). Todo mundo que nasceu com um pênis tem o dever moral de agir como macho, afinal, tem um pênis. É lógico.

Só que não é fácil ser macho. Macho não chora, não pede ajuda, não erra nunca, não fraqueja, não goza rápido demais, tem pau grande, é musculoso, bate em quem duvida, bate em quem tem alguma certeza contrária (o que não é difícil, porque machos geralmente têm poucas certezas – poucas em quantidade, fique claro), bate em que não é macho... Ser macho é tão complicado que há uma polícia especializada em verificar se outros caras são machos, o que nos leva de volta ao Sheik, já que macho não beija outro macho. Logo os dois são viadinhos e estão escondendo o jogo o tempo inteiro.

Agora uma pausa geral. Ser macho é tão difícil que antes de ser qualquer outra coisa, tem que ser macho. Jogador de futebol? Não, tem que ser macho antes, logo tem que ser um jogador de futebol macho.

Agora uma segunda e última pausa geral. Ser macho é tão difícil porque macho não existe. É como a roupa nova do rei, que só os inteligentes podem ver. Aqui, no caso, só os machistas veem quem é macho e quem não é. Para falar a verdade, só machistas se importam com quem é macho ou deixa de ser. As outras pessoas, não afetadas pela responsabilidade do superpoder do pênis (e muitas delas têm pênis!), são livres para serem o que são ou o que quiserem ser. Talvez seja esse o problema dos machos: inveja de quem é livre.

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