Aconteceu numa dessas esquinas cheias de gente e de carros, às vezes mais de carros do que gente. Barulheira típica, sinal fechado pra uns, cruzamento trancado para outros. Então uma caminhonete preta (na verdade era outro tipo de carro, mas ficou na minha cabeça a impressão de que somente alguém dirigindo uma imensa caminhonete preta agiria desta forma) começou a buzinar. Não foi um bi bi ligeiro, daqueles que a gente dá para avisar alguém de algo (buzina tem outra função?), mas um biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii tão contínuo e desproporcional que não parou de buzinar (não sei se na memória ou na vida real) mesmo enquanto a caminhonete preta já estava muito além do cruzamento.
Foi um momento mágico. Embalados pelo som mágico da buzina, sete anjos desceram dos céus e ergueram um pequeno fusca (também não era um fusca, mas achei fofo o contraponto) que trancava o cruzamento para que a caminhonete passasse. Graciosos, eles devolveram o fusca ao seu lugar e, quando a buzina parou de soar (metros adiante), bateram suas asas plumadas e voltaram ao ar.
Enquanto tomava meu suco e comia meu misto quente, percebi que ninguém mais notara os anjos. Para todos os outros, a caminhonete havia simplesmente desviado do fusca e a buzina era de xingamento, não de invocação divina. Logo estávamos todos acomodados com os sons típicos de uma esquina movimentada. Para mim, porém, ficaram os resquícios daquele momento mágico a temperar meu pão e minha tarde.
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