terça-feira, setembro 24, 2013

Como lidar com a insegurança

Tenho lido muitos livros para escritores e os dois mais recentes, Escrevendo com a alma e Becoming a writer, tocam em um ponto essencial: o sentimento de fraude que acompanha a pessoa que trabalha artisticamente com as palavras. A razão é simples: todo mundo usa a linguagem no dia a dia e já muita gente escreveu coisas magníficas. No fim do dia bate aquela insegurança: será que o que eu faço é bom o suficiente para valer a pena?

Tanto Natalie Goldberg quanto Dorothea Brande tratam nossas dúvidas e inseguranças observando que temos uma parcela da nossa mente dedicada a julgar e censurar aquilo que fazemos. Esse pedacinho de nós é responsável por nos frear, por ficar repetindo "não vai dar certo" bem no cantinho do nosso ouvido. Dependendo da nossa disposição, é capaz de acreditarmos nessa vozinha e desistirmos.


A insegurança é um hábito de imaginarmos um mundo ideal e só agirmos quando temos certeza de que os resultados alcançados serão exatamente aqueles esperados. Geramos tanta expectativa que nos paralisamos diante da primeira resistência oferecida pela realidade. Logo estamos pensando: se é tão difícil e não vai dar certo como eu imaginava, pra que tentar? A verdade é que não há uma boa resposta para essa pergunta, especialmente porque é uma péssima pergunta.

As coisas não precisam ser como nós imaginamos, não é assim que a realidade funciona. Elas só precisam ser como são, o resto é com a gente. A reflexão vem do budismo: nós sofremos porque criamos expectativa de que a vida seja diferente do que ela é. Ah, então tenho que aceitar que sou ruim e não escrever mesmo, né? Não. Esse é o segredo para lidarmos com a insegurança: precisamos mudar nosso hábito de criar expectativas. No meu caso, a prática vai melhorar o meu texto e eu continuarei escrevendo porque acredito que essa é uma arte que dá sentido para a minha existência.

Para acreditar nisso, tenho me forçado a duas coisas:
1. Agir. Não adianta nada eu querer o mundo e ficar em casa jogando, na rua bebendo ou no trabalho vendendo meu tempo. A vida só responde a ações, nunca a pensamentos. Minhas desculpas para quem acredita no "Segredo", mas não adianta só mentalizar coisas positivas. Se não agir, puf, não muda nada.
2. Mudar ideias. Toda vez que me pego pensando que meu texto é ruim ou que ninguém vai publicá-lo ou que eu deveria ter um trabalho convencional ou que ninguém lê mais ou qualquer outra coisa cuja função é simplesmente me colocar para baixo, eu paro e penso: de onde vem essa ideia e para o que ela serve? Quase sempre a resposta é: vem da minha insegurança, do meu eu que faz julgamentos e tem medo de errar, e serve apenas para deixá-lo confortável. Eu não quero que meu lado medroso fique confortável! Eu quero que meu lado raposa, esse lado criativo e emocional que todos nós temos, esteja solto e sadio para viver e experimentar o mundo. Quando essas ideias tentam invadir minha cabeça, então, eu olho para o papel colado na parede dizendo "Escreva!" e obedeço, porque sei que pensamentos são mais fracos que ações e que se algo vai me ajudar a alcançar o que desejo para a vida são minhas ações e não os meus pensamentos.

Eu não tenho uma fórmula mágica para acabar com a insegurança. O que tenho é meu próprio caminho na busca por ser menos refém do meu eu medroso e mais aliado do meu eu raposa.

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