sexta-feira, setembro 20, 2013

Bom-Crioulo

Li hoje o Bom-Crioulo inteiro numa sentada. Um livro de 1895 escrito por Adolfo Caminha surpreende por tratar de homossexualidade na marinha brasileira misturando um escravo fugido e um adolescente.


"Sua amizade ao grumete nascera, de resto, como nascem todas as grandes afeições, inesperadamente, sem precedentes de espécie alguma, no momento fatal em que seus olhos se fitaram pela primeira vez. Esse movimento indefinível que acomete ao mesmo tempo duas naturezas de sexos contrários, determinando o desejo fisiológico de posse mútua, essa atração animal que faz o homem escravo da mulher e que em todas as espécies impulsiona o macho para a fêmea, sentiu-a Bom-Crioulo irresistivelmente ao cruzar a vista pela primeira vez com o grumetezinho. Nunca experimentara semelhante coisa, nunca homem algum ou mulher alguma produzira-lhe tão esquisita impressão, desde que se conhecia! Entretanto, o certo é que o pequeno, uma criança de quinze anos, abalara toda a sua alma, dominando-a, escravizando-a logo naquele mesmo instante, como a força magnética de um ímã"
Fui pego de surpresa várias vezes ao longo da história. O autor não enrola: o que importa é a paixão sôfrega que o Bom-Crioulo Amaro carrega pelo ninfeto Aleixo e desde o início fica muito claro que o negro está de amores pelo branquinho.

Mesmo não me identificando com a maneira como o autor explora a homossexualidade como um ato impuro, um "delito contra a natureza", e odiando os pensamentos homofóbicos do guri novo, não dá para negar a ousadia em escrever sobre esse tema em 1895, muito menos o tom erótico que o texto assume de quando em vez. É um livro gostoso de ler em muitos sentidos.

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