Hoje acordei num lugar estranho. Tudo empoeirado, livros espalhados por cima de todos os móveis, roupas acumuladas num cesto enorme, louças jogadas pela pia. Olhei ao redor tentando reconhecer alguma coisa, encontrar uma pista sobre aquele ambiente misterioso. Quem moraria ali? Uma pessoa desleixada, ou no mínimo ocupada demais para cuidar da própria casa. Talvez até alguém que há muito se foi e estava tão perdido em si mesmo que nem teve tempo de arrumar suas coisas.
A verdade bateu na porta com um sorriso irônico. "A casa é sua", ela disse. Eu quis responder que não, mas ela tinha razão, sempre, sempre tinha. Eu acordara não na casa que imagino e desejo para mim, mas na que tenho permitido existir. A casa em que acordei é o resultado de mim, é o reflexo do que eu faço com meu tempo e com os meus espaços.
Esta casa pegando pó sem ninguém para limpar, espalhando livros sem alguém para organizá-los e acumulando roupas e louças em lugares impróprios sou eu, simplesmente. Não gostei do que vi e voei para limpar, ajeitar, espanar, guardar. Não é o suficiente. Ela voltará a ser o lugar em que acordei e não o lugar com que sonhei. A única saída é eu deixar de ser a pessoa que simplesmente deixa as coisas acontecerem e, no lugar, assumir o papel de uma raposa que gerencia o seu mundo, o seu tempo e, também, seus espaços.
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