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Epistemologia da complexidade - Edgar Morin (pseudo-resenha)
Edgar Morin inicia seu texto apresentando a idéia de que a palavra complexo indica algo que não conseguimos explicar. Partindo desta lógica, um pensamento que se diga complexo não pode ser considerado um que resolva situações, mas sim que assuma a dificuldade e a incerteza que devem acompanhar todo raciocínio.
O eixo do pensamento complexo é a noção de que tudo, no universo, está interligado. Morin não escapa ao exemplo da borboleta que, ao bater suas asas no Japão, gera uma tempestade nos Estados Unidos. A explicação para este exemplo, muitas vezes considerado com humor e desdém, está nas retroalimentações que os eventos produzem, de maneira que uma ação simples, a longo prazo, torna-se imprevisível. Além destas ligações entre todos os elementos, também é importante notar que o todo é composto por partes que, em si, o carregam isoladamente. Morin usa como exemplo as células de nosso corpo, que são ao mesmo tempo pequeníssimas partes do conjunto, mas que têm em si a informação genética para que sejamos inteiramente compostos. Esse reflexo do todo na parte, contudo, não significa que nada resta de diferença no individual: ele conserva sua singularidade, ao mesmo tempo que sua semelhança.
Nós somos ensinados, durante a escola, a pensar separadamente, cada assunto em uma disciplina diferente. Ocorre que esta separação nos leva a buscar uma simplicidade, uma redução dos problemas a respostas definitivas. Estas resoluções, uma vez alcançadas, levam-nos a estereótipos que, se seguirem sem questionamento, limitam nossa capacidade de pensamento, enxergando respostas simples para problemas complexos. Como ocorre com a estereotipia em geral, ela transforma-se em preconceito, graças à falta de perguntas simples que indiquem respostas complexas.
É possível, dentro desta busca por respostas simplificadoras, acreditar que o mundo pode ser explicado por um gênio superior dotado da capacidade de reconhecer as forças em atuação no mundo. Este ser poderia, então, conhecer o passado e antever o futuro, pois o mundo funcionaria como uma máquina infalível. O erro, nesse raciocínio, é acreditar que o caos e o imprevisível são apenas um nível ainda incompreensível de ordenamento. Esta questão deriva de uma crença em um destino escrito, ou seja, a organização última de todos os eventos, como se nossas vidas viessem de páginas escritas por um narrador engenhoso.
Para que seja possível compreender o pensamento complexo, faz-se necessário abandonar o conceito de objeto por um mais apropriado, o de sistema. A realidade comporta relações entre diferentes sistemas, e em diversos níveis, já que um todo é formado por inúmeras partes que, por sua vez, também possui unidades menores que as compõem. Nesta trama inalcançável de elementos constituintes, é possível se chegar a um certo nível de previsibilidade, na medida em que tudo ocorra conforme o esperado. Contudo, é justamente o inesperado que perfaz o complexo, e uma alteração no planejado reproduz-se, causando relações que podem, a princípio, ser sutis, mas que proporcionam a chance de outras acontecerem. Eventualmente, um bater de asas terminou por causar uma tempestade.
Outro ponto que Morin considera importante na defesa de suas idéias é a noção de que a realidade é construída a partir de nosso conhecimento, e portanto é única para cada indivíduo. Precisamente esta característica auxilia a perceber o pensamento complexo: não existe uma verdade que explique todas as questões do mundo, ou uma forma de agir que seja a correta. Cada ser percebe o mundo de um modo diferente, interpreta-o mentalmente à sua maneira e, por fim, reage a ele de sua forma.
Edgar Morin apresenta, como um dos fundamentos do pensamento complexo, o princípio ecológico da ação: “a ação escapa à vontade do ator político para entrar no jogo das inter-retroações, retroações recíprocas do conjunto da sociedade”. Esta noção apresenta duas conseqüências. A primeira está no fato de que a eficácia de uma ação planejada é maior quanto mais próxima está no seu princípio, quando menos fatores entraram
Aqui surgem outras duas questões que precisamos considerar. Em primeiro lugar, em meio ao caos e à complexidade, é necessário encontrar “metapontos de vista”, ou seja, estabelecer um local e um tempo a partir dos quais se observará a realidade e então se agirá sobre ela. A conseqüência de evitar este procedimento é a imersão em um eterno relativismo, numa observação inoperante e inacabável das retroalimentações da realidade complexa. Estes metapontos, porém, não se devem enraizar, sob o risco de tornar-se simplificado. Em segundo lugar, o uso excessivo de estereótipos gera um comportamento massivo que, justamente por não considerar alternativas, torna-se altamente previsível. Pessoas desacostumadas com o pensamento complexo, portanto, encontram-se desarmadas frente a outras que, por sua vez, aceitem o caos e sejam capazes de produzir alterações planejadas nos sistemas. Estas mudanças, terreno fértil para as retroalimentações incontroláveis, podem encontrar um corredor isotópico em determinados grupos de raciocínio menos elaborado.
Em tempos de internet, a noção de um pensamento complexo parece alcançável em poucos cliques. As gerações mais novas, criadas em contato com uma realidade amparada em comunidades virtuais, têm nesta tecnologia a percepção exata de uma ação simples pode se reverter em resultados inesperadamente gigantescos. É o caso de vídeos gravados para o Youtube, ou dos jogos interativos que correm entre blogs, ambos iniciativas individuais, ou de pequenos grupos, que podem se multiplicar ao ponto de serem reconhecidos mundialmente. Seria possível dizer, atualizando a borboleta e sua tempestade, que um adolescente no Japão que disponibilize uma foto online poderá, em algum tempo, criar uma nova tendência de moda no Brasil. Ou uma nova celebridade virtual. Ou, talvez, absolutamente nada, em meio às iterações imprevisíveis.