sexta-feira, setembro 24, 2010

Noite

O problema maior de dedicar-me a viver a noite e dormir o dia não é o cansaço, mas sim as tentações noturnas. Deitando pelas 4h eu tenho muito mais tempo pra conversar no MSN, portanto precisarei aprender a ficar com o meu bem desligado, do contrário sofrerei terrivelmente com tempo desperdiçado. Ai Ai Ai.

quarta-feira, setembro 22, 2010

Metáfora

Cheguei a uma metáfora interessante para explicar o que me ocorreu. Imaginemos um homem com fome, em meio a outras pessoas que também, mais ou menos, sentem a mesma coisa. Não falo vontade de comer, aquele desejo passageiro e, em teoria, inferior. Fome, necessidade, impulso vital que, faltante, nos leva à morte. Como isso é uma metáfora, a morte também o é, mas seria o equivalente a um vazio existencial, uma perdição de sentido.

Pois era eu um homem com fome em uma terra que ninguém dispunha de comida. A questão aqui não é a solidariedade de todos termos fome juntos e ninguém conseguir comer, longe disso. Cada um só come um prato, ou de um cozinheiro, enfim. É uma metáfora, oras, se esforcem.

Aí vem o dia em que alguém me traz um prato de comida. Ali, lindo, suculento. Tenho fome, então as particularidades de seu sabor não me importam tanto. A fome desaparece, satisfeita por uma comida que há muito não era experimentada. Logo após isso o cozinheiro se dá conta de que colocou um pouco mais de tempero do que deveria, e por isso o prato deveria ser recolhido e nunca mais servido. Afinal, que pecado, eu poderia reclamar e eventualmente desgostar de ser temperado demais, de menos, salgado, doce, frito.

Então eu pergunto: existe maldade maior do que oferecer comida a alguém com fome e, por achar que não está perfeita, recolhê-la logo depois de passá-la frente aos olhos do esfomeado?


x x x x x


Algo em mim diz que eu deveria sentir raiva, quando tudo que eu sinto é vontade de abraçar, ser abraçado, beijar e ser beijado, tudo em duplinhas fofas. O que me matava nunca foi a falta de atenção, mas sim não ter certeza de que eu era gostado. E quando essa certeza veio, e agora não falha, o resto me foi retirado.
Gostaria de saber que, se entrasse correndo de novo no banheiro, um olhar de preocupação viria atrás de mim. Que se eu deitar, poderei receber um abraço amado. Que deitar em camas separadas é um absurdo desnecessário em quase qualquer situação.

É, mundinho, eu continuo amando.

Direção

Passei por uns dias muito tristes recentemente. Vi-me apaixonado e afastado da possibilidade de experimentar o sentimento de modo completo. Não entendo as razões, se elas existem, para esse feito, e considero-me em grande parte ferido.

Experimentar essa sensação, dor, momento de felicidade que antecedeu tristeza, porém, serviu-me como uma bússula. Estou, de alguma forma, mudado. Ou mais interessado. Novamente interessado. Não sei, acho que recuperei algum sentido para o que estou fazendo aqui =)


Agora falta recuperar o amor ^^

segunda-feira, setembro 20, 2010

600, ou o monólogo da raposa abandonada

Não sei se foi o pica-pau batucando uma árvore, as formigas carregando suas filhinhas para as infindáveis cavernas de areia, ou ainda o jato d'água que, contra a luz do sol, criava um esmaecido arco-íris. Não sei se foi, também, a estranha coincidência de estar no mesmo lugar que tu e cair lá por sugestão, talvez, do destino.
Te ver seguindo absolutamente hermético me traduziu os sentimentos. A dor do fim ainda me acompanha e certamente seguirá, mas agora ela está de alguma forma transformada. Mesmo sem acreditar em "para sempre", eu te escolheria para me acompanhar nesse trajeto de tamanho e duração incompreensíveis. "Não vai dar certo", tu diz. É esse o destino de tudo que termina, e falha-me a sabedoria em localizar algo que seja, enfim, para sempre. Acaso o tempo verbal fosse outro, eu poderia entender. "Não está dando certo".
Um coração apaixonado se cega, não percebe o que aflige ao outro. Tudo o que deseja é fazer sorrir, é compartilhar felicidade. Não, não fiquei chateado pelos momentos em que não estivemos juntos. Repito: não conheço o suficiente para saber o que guia tuas escolhas.

A única coisa que hoje eu sei é que eu não te completei da mesma forma que tu me completou, e que essa é a triste verdade por trás do que não daria certo, assim como é a triste verdade que regula toda a vida. Não é porque eu amo que serei de volta amado na mesma intensidade.

Mentira, sei de algo mais. Se um dia estamos felizes e no seguinte estaremos tristes, não faz sentido antecipar a tristeza só por saber que ela chegará. Entre toda a falta de sentido da vida, não buscar aumentar a felicidade ao máximo parece-me a escolha menos inteligente que alguém pode fazer. Talvez, inclusive, a menos perdoável.

Sanar - Jorge Drexler

Las lágrimas van al cielo
Y vuelven a tus ojos desde el mar.
El tiempo se va, se va y no vuelve,
Y tu corazón va a sanar,
Va a sanar,
Va a sanar.

La tierra parece estar quieta
Y el sol parece girar,
Y aunque parezca mentira
Tu corazón va a sanar,
Va a sanar,
Va a sanar,
Y va a volver a quebrarse
Mientras le toque pulsar.

Y nadie sabe por qué un día el amor nace,
Ni sabe nadie por qué muere el amor un día,
Ni nadie nace sabiendo, nace sabiendo
Que morir también es ley de vida.

Así como cuando enfríe
Van a volver a pasar
Los pájaros en bandadas.
Tu corazón va a sanar,
Va a sanar,
Va a sanar.

Y volverás a esperanzarte
Y luego a desesperar.
Y cuando menos lo esperes,
Tu corazón va a sanar,
Va a sanar,
Va a sanar,
Y va a volver a quebrarse
Mientras le toque pulsar.

domingo, setembro 19, 2010

Across the universe

Vinte e uma horas depois começo a me sentir no controle de algumas palavras, espero que suficientes para contar ao mundo o que está dentro de mim. Andava, até sexta-feira, com duas dúvidas cruéis sobre minha cabeça. Elas versavam, em primeiro lugar, sobre o que estou fazendo aqui no centro-oeste do país, e em segundo, o que atrai meu coração numa pessoa.

É muito difícil entender o que motiva uma pessoa a seguir seu caminho, seja ele qual for. Por muito tempo minha vida foi seguir caminhos grandes, trilhas que eu não precisasse muito esforço ou decisão depois que o caminho houvesse iniciado. Foi assim quando saí do colégio, desta forma ingressei na faculdade, fiz minha especialização e, agora, estou em Goiânia fazendo mestrado. Coloquei, como lugar de chegada, ser um professor e, assim, tocar as pessoas e impedir que suas vidas fossem sem sentido como a minha até então.

Aprendi, com a participação de algumas pessoas, o valor de certo sentimento. Permiti-me, depois de muito esforço, a amar meus amigos. Cada um a seu tempo e com sua maneira, fui sendo tocado e moldado, muitas vezes empurrado e outras levantado. Amando. Perdi o medo de beber, de fumar, de me jogar ao desconhecido. Perdi o medo de ter medo, também, e isso me mostrou que não posso dominar ou controlar tudo, mas sou muito bem capaz de conviver com meus monstros. Eles estão aqui, gritando, chorando, vivendo.

Em meio a tudo isso, porém, sinto-me sozinho. Pensando no universo como algo mais amplo, creio ser óbvio que não, que existem amantes que me querem bem, que me anseiam perto. Hoje assisti a Across the universe e não falho em pensar que uma vida sem amor é uma existência sem sentido. Como bom humano, não tolero a inexistência de sentido. A conclusão óbvia, me parece, é voltar para Porto Alegre e estar próximo dos que eu amo, independentemente de ser professor, estivador ou caixa de cinema. Não é lógico? Meus amores estão lá, vivendo suas vidas e sentindo minha falta, tanto quanto eu sinto a deles. Aqui em Goiânia estou sozinho, sem uma pessoa a quem eu possa pedir um abraço e esquecer-me de quem sou. Aquele tipo de conforto que não tem palavras, mas que inebria e preenche. Se demorei tanto para aprender a amar, que motivo me distancia das pessoas que amo?

Talvez seja egoísmo pensar em voltar agora. Aliás, existe altruísmo? Imagino se meu retorno não me pararia a viagem e me estabeleceria, novamente, fronteiras.

Descobri, por esses dias, que amo alguém aqui em Goiânia. Uma pessoa que já me ofereceu abraços que me deixaram feliz, cujo beijo encaixou no meu. Um alguém que me toca e acalma, anima, conforta. Uma pessoa que surgiu do nada, mas vê o mundo com olhos parecidos com os meus, que entende que nada tem sentido se nós não dermos um, que respira entre o cansaço das vidas cinzas (posso chamá-las de "vidas"?). Uma pessoa com cores que vão muito além da óbvia metáfora sexual.

Essa pessoa era uma estátua de areia e agora bateu o vento.
Eu não quero esquecer o jeito que fui tocado por esses grãos de felicidade, pela límpida certeza de ser amado. Maldita dúvida que permitiu a brisa voar. Por que estamos fadados a viver perdendo, quando podíamos estar ganhando? De fato, o céu azul e isso me faz chorar. Creio que o fará sempre, agora, assim como os campos de trigo fazem a raposa sorrir.


Eu não acredito em amor eterno, tampouco em alma gêmea. Meu romantismo não vai tão longe. Porém eu creio, com toda força, em duas pessoas que se gostam e se esforçam para que suas vidas funcionem em sintonia. Amar alguém não é desejar perfeição.

E ainda agora eu olho para o que já foi um ingresso, já foi uma pulseira, e agora é um coração.

Palavras pequenas

Dia triste.

O manual continua valendo, a pessoa é que mudou.

quinta-feira, setembro 16, 2010

A pessoa que não tem segredos

Hoje um amigo pediu-me para guardar segredo de algo que me disse. Ele foi bastante específico a respeito de quem não poderia saber da informação, e ficou de me explicar, depois. Primeiro me pus a pensar se realmente desejo saber os seus motivos, já que também me relaciono com as pessoas que ele deseja manter no escuro. Fico curioso pra saber que motivos são esses, a fim de justificar esse ato de não contar. Claro, estou pressupondo que, por serem amigos, eles devam seguir o princípio da horizontalidade, mas tenho percebido que essa não parece ser uma preocupação típica dos seres humanos habituais.

Só depois de algum tempo me dei conta do que isso pode significar. Se eu entrar no jogo do "ok, não conto", será que caio fora do que defendo? Ou ser horizontal se limita às questões que me envolvam, mas a ninguém mais? Nesse tipo de ética, creio, não há muito espaço para se falar quase nada, pois a maioria das nossas experiências são, geralmente, no coletivo.

Eu quero ser uma pessoa que (quase) não tem segredos. Existem partes de mim que ninguém sabe. Existem histórias que nem irmãos se contaram. Segredos. Eles também constroem quem nós somos?

Afetividades

Existe algo sobre relacionamento com outras pessoas que, apesar de já explicitado na própria frase, costuma ser esquecido. Construímos um modelo ideal de personalidade, comportamento e desejos para alguém nos completar, uma "lista do que precisamos para ser amados e amar alguém" (e tem coisa mais idiota que tal listagem?) e, ao encontrarmos alguém, esquecemos do óbvio, do evidente, do ululante. É outra pessoa.

Dessa conclusão, pequena, porém transformadora, surgem inúmeras outras. Uma delas envolve toda a tradição do pertencimento, o pensamento romântico de que duas almas foram feitas uma para a outra; sendo o sacrifício a forma de demonstração desse querer. A gosta de B porque abre mão de C-Z.

Entender que nos relacionamos com outros nos permite enxergar, também, que são as experiências que a pessoa teve em sua vida que a constituem. Portanto, de que valhe aquele ciúme frágil sobre as relações passadas ("ex bom é ex morto"), se são justamente essas interações que a levaram a ser tão apaixonante?

terça-feira, setembro 14, 2010

Qual o sentido da vida?

Essa é uma questão que se apresenta de tempos em tempos. Eu sei a resposta: nenhum. Ocorre que, de vez em quando, consigo me enganar por alguns instantes, esquecer e acreditar em alguma coisa. Felicidade, essa coisa instável, depende da fé em estarmos fazendo o certo, recebendo o bom.

Penso no mestrado, nas letras que não tenho colocado no papel, na superficialidade das imagens técnicas (valeu, Flusser), na história sem fim. Isso tudo serve pra que?

Há algum tempo cheguei a uma alternativa ao vazio existencial. "Ser feliz" é um objetivo palatável. Aí surge outro leque de questões: como fazer pra alcançar tal estado de graça? É tudo um grande jogo. Tenho geladeira, pago minha casa, troco por estudos e pensamentos, leituras e participações. O que muda? Algo precisa mudar? Pra ser feliz, o que é necessário?

Algo me diz que segue sendo sempre o mesmo: ser feliz é acreditar que a vida não é vazia de sentido. Ser feliz é se enganar. Felicidade, portanto, é uma mentira. Se sou um pesquisador e estou atrás da verdade, isso quer dizer que a tristeza será minha companheira sempre que eu chegar mais perto de aprender algo?

Divagando.

Colocar em palavras

Viram que mudei uma das fotos do blog? Contribuição especial da minha amada vivian, que achou minhas raposas muito pouco antropomórficas. Agora creio que com essa carinha de matadouro ficou mais próxima do que há por dentro de mim =)

x x x x x

Sou apaixonado por vozes. Algumas me arrepiam, apaixonam, movimentam. Outras simplesmente não chamam atenção. Enquanto pensava sobre isso, tentei manifestar meu amor e explicá-lo, mas descobri que não tenho palavras para descrever o tom, o timbre, o sotaque, a fluência das vozes que me harmonizam o coração. O passo seguinte foi duvidar das razões que as pessoas têm, especialmente os poetas, em tentar passar para os outros o que sentem, colocar em palavras experiências que, em última instância, são só suas e nunca serão igualmente de outros.

Traduzir emoções em palavras.

Sempre que penso em voltar a escrever, deparo-me não com a dificuldade em fazer essa transmutação, mas sim com a incerteza do que botar no papel. Quais palavras, vozes de quem, sentimentos tantos esperando para serem concretizados... e deixarem de ser o que são.

Parece-me que ser humano é algo profundamente solitário.

segunda-feira, setembro 13, 2010

Tire uma foto, por favor

Ontem tive visitas, vinho, risadas. Um fim de domingo adequado para uma pessoa cheia de sorrisos. Depois avancei a madrugada trocando músicas com um amigo. Alguém pode me culpar por não querer nada mais além do que já tenho? Bem, eu poderia, pois sei que quero muito, muito mais do que hoje me pertence.

É complicadinho fazer algumas escolhas. O relógio grita que está na hora, que está passando da hora, que já não tenho mais tempo. Ainda assim fico parado, observando os minutos desmancharem-se. Um passo pra frente e o golpe não acontece. Um movimento e tudo poderia ser diferente.

mmm
acho que reconstruir o muro vai ser mais difícil do que eu pensava

quinta-feira, setembro 09, 2010

Liberdades sentimentais

Estive pensando hoje sobre as diferenças entre o plano teórico e as nossas atitudes no cotidiano. Sou um profundo defensor da poligamia, do poliamor, das amizades coloridas e da vivência sem barreiras, ciúmes ou posses. Tudo isso, claro, na teoria. Embora eu viesse vivendo perfeitamente bem seguindo estes princípios, deparei-me com o ciúme agora que vejo-me atraído por alguém para além do campo físico.
Creio que o que me protegia era a distância sentimental. Eu quase escrevi "a falta de um querer bem", mas neste caso estaria mentindo. Nos meus relacionamentos mais duradouros pós-namoro, o querer bem sempre foi uma constante. O que faltava, isso sim, era o querer perto.


Não estou, hoje, com um pensamento muito estruturado. Pus-me a pensar, agorinha, sobre momentos na vida das pessoas. Será que o que estou vivendo poderá não se tornar algo maior em função de duas pessoas estarem em instantes de vida distintos, impossíveis de conciliar? Quero dizer, depois de todas as condições necessárias para nascer algum tipo de interesse, ainda precisamos depender das temporalidades estarem alinhadas ou, no mínimo, conciliáveis? Que crueldade!

quarta-feira, setembro 08, 2010

Mudança mágica

Foi meio assim sem pensar. Rápida mesmo, quase como um susto. Eu estava cabisbaixo, no meu quarto de luz apagada e meu computador sem nenhuma música tocando. Minhas coisas empacotadas e ensacadas, aguardando a partida que não pretendia mais acontecer. Triste. Então eles decidiram me ajudar e, aparecendo lá em casa com presteza, se puseram a carregar móveis, malas e ânimos, renovando minha vida.

Sempre fiquei ponderando que características compõem uma amizade. Medindo, analisando que pessoas são favoritas, que outras podem ter chance de atravessar meu muro de gelo. Mesmo quando resolvi derrubar a tal da defesa, ainda não era fácil chegar em mim. No meu coração.

Agora penso ser engraçado o modo como me entrego à possibilidade de fazer amigos surgidos de um contato breve de relação. Espero que esse nadinha se torne muito, e que se construa relações baseadas não apenas em ajudas e participações, mas em confianças e vontades de estar próximo.


=)

Traição?

Depois de escrever o último post e ficar alguns dias sem acesso ao mundo virtual, segui pensando sobre um tema que havia me proposto discutir, mas deixei passar. O que significa trair alguém?

A resposta parecer ser bastante óbvia quando pensamos em um relacionamento devidamente estabelecido, com suas regras forjadas em toda tradição dos encontros a dois. Contudo, fico imaginando se é mesmo tão evidente. Pensemos, por exemplo, numa tórrida noite de sexo com um amante (e que palavra menos apropriada). Podemos considerar traição quando tudo que esteve envolvido com a outra pessoa foram momentos de prazer, trocas químicas e prováveis contatos físicos? Fico pensando se não seria o caso de considerar traição, juntamente, tudo que envolver o toque com outras pessoas. Apertos de mão? Beijos de cumprimento? Ora, sentir-me-ei traído a partir de agora se um amado meu se abraçar com outra pessoa.

Creio que a perspicácia já permitiu entender o que estou defendendo aqui, não é mesmo? Se o amante, que na verdade não ama, apenas transa, caracteriza traição, então o que está em jogo é uma questão de propriedade. O meu está sendo usado por outra pessoa. É o meu campinho, então eu escolho as regras. Sem a minha bola, ninguém joga. Eu aprendi, na minha formação cultural, que uma das formas de respeitar as outras pessoas é não ofender esse princípio básico de pertencimento. Contudo, ninguém nunca me disse que eu não sou de nenhuma outra pessoa além de mim mesmo. Será que esqueceram de contar que eu não pertenço a ninguém, que do meu corpo o único que pode fazer pleno uso sou eu?

Nesse ponto entra em questão o ciúme, gerado pela ideia de traição. Nos dias recentes me consumi de raiva por conta de uma situação bastante incômoda sob o olhar tradicional dos bons costumes. E como fui bobo ao me entregar a esses desvarios, uma vez que em momento algum algo meu foi violado. Raiva eu entenderia de sentir se houvessem me machucado, roubado ou algo parecido. Se uma promessa me tivesse sido quebrada, pois até o momento entendo que as palavras podem ser entendidas como extensão daquilo que é meu. Se alguém me promete um sorvete e não o dá, bem, há um problema. Um pequenino, mas ainda assim um problema. Porém, se um par romântico dança com outra criatura, sensualiza com amigos e inclusive se permite ser tocado por pessoas não tão amigas (ou com intenções posteriores)... do que posso reclamar? O que de meu há nisso tudo, além do ciúme?

Fiquei pensando, depois de horas me remoendo, se havia algo de acertado em ter raiva do moço da camiseta amarela, ou ainda da criança da floresta. Não foi fácil me convencer de que mesmo um beijo não poderia ser repreendido, não tanto pela inexistência de um compromisso firmado quanto pela não existência de um contrato de dominação. Eu não sou dono do corpo dela e, muito menos, de seus prazeres. Fui criado para acreditar que sim, mas não.

Não tenho certeza como devo encarar isso. Gostaria de ser capaz de eliminar todo ciúme que o mundo me impôs, mas não é tão fácil. Não tomarei atitudes drásticas, isso pra mim é certo. Não travarei confrontos sem fundamentos. Porém, acima de tudo isso, eu ainda tenho certas crenças que, mesmo mudando a cada minuto, ainda significam muito para mim. Esse é o conflito no meio do qual estou agora: acredito que a criança da floresta poderia ter pensado duas vezes antes de se permitir agarrar por uma pessoa com intenções ulteriores, mesmo que nada além de abraços e encoxadas tenha acontecido.

E se tivesse sido dado um beijo, como eu reagiria? O que pensaria a respeito?

Ainda não sei. Sinto, em mim, vontade de me agarrar a um relacionamento tradicional, dada a aparente segurança que ele traz. Certezas são tão menos problemáticas que dúvidas.

Eu queria ter certeza de que pensar tudo isso está me servindo para algo =)

segunda-feira, setembro 06, 2010

raposa antropo[loga]mórfica. Ou "relacionamentos"

Hoje acordei bastante pensativo, alimentado que estava de eventos, encontros e elementos. Certo, não eram as palavras que eu utilizaria normalmente, principalmente a terceira, mas achei interessante iniciar tudo com E. Pois então, estou em Goiânia já faz uns seis meses, se não contarmos as férias, e finalmente dei por conta de algo que todo mundo já me avisava aqui. Antes de comentar, porém, preciso fazer uma pequena introdução sobre minha postura teórica a respeito de relacionamentos.

Eu não acredito em monogamia. Percebam, antes mesmo de eu explicar as razões, que não estou falando em não crer em respeito, consideração, amor. O que não concordo é com essas atribuições serem dadas a uma pessoa só, quando existe um mundo gigantesco de possibilidades. Por quê? Bem, pelas minhas experiências, a probabilidade de um casal estabelecido eventualmente sentir atração física por outras pessoas é grande. Dentro disso, há uma larga chance dessa atração, estando contida, gerar desconforto. Essa pequena bolha crescerá e machucará a relação, provavelmente sendo utilizada, algum dia, para justificar (inconscientemente) o término.
Quando entendi que amar alguém não significa ser dono do corpo do outro, ficou mais fácil entender que a poligamia e, principalmente, o poliamor, são práticas possíveis. Remove-se o peso da pertença e do ciúme, liberando os corpos para flutuar entre desejos. É um voto de confiança, pois o medo de aparecer alguém melhor, alguém mais bonito ou algo assim, está ali e se for alimentado com insegurança, tende a se desenvolver.
Não consegui, ainda, experimentar essa relação ao seu máximo. O mais próximo que cheguei disso envolveu ficar com outras pessoas conforme a vontade viesse, mas manter a proximidade com uma pessoa. A inexistência de sentimento, porém, terminou tudo. Falta, sempre, a parte da confiança.
Aí acontece que me interessei por uma criaturinha, ao mesmo tempo em que perdi interesse por outros. Talvez seja algo passageiro e logo retorne meu sempre tão aflorado desejo, mas posso dize que hoje eu não desejo nenhuma outra pessoa, mesmo que em uma festa eu receba um "passe livre" pra fazer o que quiser, ficar com quem eu olhar etc.

Certo, agora uma pausa para analisar o povo goianiense. Quando vim aqui pela primeira vez, em dezembro, e fui a uma festa, descobri um peguetinho que alternava entre ficar comigo e sensualizar com seus amigos. Essa sensualidade toda envolvia abraços fortes, carinhos lascivos e esfregadas entre partes íntimas. Fiquei incomodado, mas tudo bem, era apenas uma noite, um menino que não entraria pra minha vida e uma incerteza de passar no mestrado.
Então cheguei em fevereiro e engatei um relacionamento de dois meses. Já inspirado nas minhas crenças, tentei algo aberto, mas houve um desencontro de entendimentos e acabou que nós dois tínhamos duas relações ao mesmo tempo, cada um com as suas regras. E ainda que eu não houvesse percebido, ainda, a semelhança, meu digníssimo também se envolvia em rituais de contato físico acentuado com seus amigos e, inclusive, com alguns desafetos. Bem, no caso dele, não existiam desafetos, ele sempre foi todo diplomático, todo "não quero perder meu lugar na noite". Bem, é a personalidade de cada um.
Terminamos, e eu segui pra minha rotina de pegações desenfreadas. Beijo, sexo, amasso, conversa, eventualmente algo divertido. Sem envolvimento sentimental, estive bastante livre de problemas com as questões que venho descrevendo.
Então comecei com o moço da química, que até hoje me rende referências das pessoas que souberam que eu estava me relacionando. Bem, realmente parecia que iria pra frente, na estrutura de uma relação não nomeada que, na mão dos dois, era bem compreendida. O seu fim não veio por desencontros, mas por insatisfação, mesmo. O modelo não era adequado para os dois, infelizmente. O que reparei, mas pela primeira vez não me incomodei, foi que a dança servia de desculpa para os mesmos afagos e agarramentos. Participei de alguns, especialmente os que não envolviam músicas, mas sim quatro ou cinco pessoas numa mesma cama.

Então cheguei ao hoje. Estou interessado em um certo nível que moveu algo de sentimento. E por entender que meu desejo por outros esmaeceu, chamei isso de "interesse monogâmico". Até o momento temos quinze dias de algo indefinido, tempo em que estamos apenas começando a conhecer uma pessoa. Já descobri que nossos gostos são muito parecidos, acho o sexo realmente agradável (coisa rara nas minhas experiências) e a companhia dele me alegra. Estar de mãos dadas, mesmo em silêncio, ou abraçados, ou cabeça no colo; tudo isso me deixa meio nas nuvens.
Porém, ontem descobri que o padrão goianiense também se aplica. Lá estavam as mesmas brincadeiras, as mesmas permissões. Senti ciúme.

Pensando sobre isso e como descreveria nesta escrita, me dei conta de que, ao pensar em ser monogâmico, lembrei-me de como um relacionamento podado socialmente costuma ser. Abandonei dos meus pensamentos todas as ideias de liberdade de corpos e fiquei agarrado às tradicionais noções de traição e controle das ações do outro.
Eu não tenho um relacionamento com regras estabelecidas, no momento. Tudo que tenho é "indefinição" e falta de vontade de ficar com outras pessoas, além de ciúme do corpo dele. Realmente senti que queria que fosse apenas meu para proteger num quarto afastado de todos. Estou confuso, agora que teorizo a respeito, pois sinto uma coisa, mas penso outra.

Ah, pra concluir minhas dúvidas, a maior parte dos goianienses defendem a monogamia. Desses que mencionei, apenas um apreciou a ideia de algo poli. Fico, então, confuso demais. Como resolver essas questões? Devo me agarrar aos sentimentos e permanecer triste por me sentir deixado de lado, enquanto corpo? Ou devo lembrar-me do que acho intelectualmente correto e entregar-me às trocas de carícias que essa cidade tanto preza?

Eu associei, como é tão fácil aos viventes da nossa cultura, reclusão à demonstração de sentimento. Se privar, sacrificar, como forma de se mostrar interessado. Não sair com os amigos, não deixar eu passar sem vir atrás, me procurar até encontrar, misturei tudo isso com a palavra "gostar". Como se fossem sinais obrigatórios, características fundadoras do sentimento. Isso tudo me prova que, apesar de meu raciocínio ser muito libertário, ainda meu coração não entendeu como deveria reagir ao mundo. [o que é curioso, devo dizer, se considerarmos que cérebro e coração deveriam ser uma coisa só]

Ainda não sei o que fazer, o que pensar, o que sentir.
Sei o que estou fazendo, pensando e sentindo.



* * * * *

(8) One day I'll grow up and be a beautiful woman
but for today I am a boy (8)

sábado, setembro 04, 2010

Coisinhas

Deu vontade de colocar algumas das imagens que fiz download por esses dias. Tenho que atualizar a minha lista de links ali do lado, pra que elas façam sentido. Enfim, foi só pra matar minha vontade de publicar imagens e não abrir um fotolog ou tumblr ou whatever =D












Fechando um arco

Hoje concluiu-se um arco na segunda temporada em Goiânia. Vamos recapitular, crianças? Desde o início do seriado, vamos lá!

1986 - 2005: estudante nerd, escassez de sentimentos, problemas em casa, coadjuvante. No fim de 2005, creio que os roteiristas perceberam o meu potencial para protagonista e resolveram agitar as coisas.
2006, primeiro semestre: aqui começou o processo de socialização. Aprendi a receber elogios, a elogiar, a andar de mãos dadas com meninos (amigos), fui para festas, comecei.
2006 - 2008: época dedicada exclusivamente a uma criaturinha. Dois anos e alguns meses inspirados num namoro que muito me ensinou. Obviamente eu seria uma pessoa completamente diferente se não tivesse passado por essa relação.
2009: recuperação do tempo perdido. Se não tive infância e adolescência, certamente tive um período de aventuras muito intenso. E intensas. Até o fim do ano alcancei meus desejos e projeções mais imediatos.
Meses de despedida: meus três últimos meses em Porto Alegre foram os mais agitados e melhor vividos que já tive. Trabalhando, saindo, me relacionando, amando. A tristeza de partir só fez sentido pra mim nesse período, em que tive tudo que sempre quis e precisei deixar para trás.
2010, primeiro semestre: mundo novo, relacionamentos diferentes, cenário completamente reconstruído. Creio que foi o momento de passar por uma reformulação em mim mesmo, descobrir se eu gostaria de ser o forasteiro misterioso e afastado de todos, ou se preferiria ser a pessoa que sorri e conhece gente nova. Demorei um pouco demais a entender que para ser cativado eu precisaria estar disposto, também, a cativar.
2010, férias: período de reencontros, abraços, lágrimas. Quem eu amo não me deixará, mesmo que fique distante. Isso me preenche de certezas. Por mais que eu estude as dúvidas, são as certezas que constroem estabilidade.

2010, segundo semestre, findo o primeiro mês: voltei de Porto Alegre decidido a me mudar e a construir pontes verdadeiras até o coração das pessoas que eu quero. Estou investindo nas amizades que Goiânia me ofereceu, encontrei um apartamento e, depois de muita correria, agora ele é meu, e também estou com o peito aquecido. Batendo suave, o coração diz que está contente com as conquistas e reza para alcançar ainda mais. Eu quero =)

sexta-feira, setembro 03, 2010

Nascimento

A raposa antropomórfica nasceu em 30 de outubro de 2006. Questão de meses desde o momento em que comecei a existir. O que não está registrado aqui, basicamente, é o meu processo de treinamento social e de início de construção de pontes de confiança. Amizades. Um pedaço de história não contada, também, envolve o início do meu ex-namoro, primeiro e único relacionamento duradouro até hoje. Uso como parâmetro de duração um mínimo de seis meses. Contabilizo algumas relações de um mês, umas duas de dois e uma que se arrasta no tempo e, curiosamente, no espaço.

Tomei a decisão, logo que findo meu namoro, em 15 de novembro de 2008, que não namoraria novamente até sentir algo parecido com o que me fez namorar. Aquela confiança, aquela vontade de se doar, de participar, de ter. Movido por uma irritante certeza de que aquela sensação nunca mais voltaria, dado o enterro da inocência, fui vivendo e conhecendo o que o mundo tinha a me oferecer. Nesse processo, aprendi que a inocência ainda pode existir, a ingenuidade nunca me abandona. É possível.


Por isso sigo escrevendo na raposa antropomórfica. Ela é um registro da minha vida, do que eu sinto e do que eu quero sentir. Hoje, por exemplo, continuo feliz. Motivos? Hah, leitores, leitores, vocês sabem que eu não jogo com informações explícitas ^^

Lista do amor (adendo)

Uma correção sobre o segundo item... não é questão de eu me sentir amado, mas sim de haver reciprocidade de interesses e vontades. Se um quer algo que o outro não quer, a coisa desanda. Se um não quer algo que o outro quer, a coisa também vai mal. O equilíbrio entre essas duas brincadeiras é que acaba fazendo as coisas funcionarem.

Então fica a dica, criançada, reciprocidade.



Ah, e só pra não escrever num post separado: eu estou feliz.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Metapostagem

Engraçado, eu já estava pensando nisso há mais tempo...

A lista do amor

Proponho-me a fazer uma lista do que é necessário para eu amar alguém. Uma lista grande, completa, detalhada. Ainda não cheguei a todos os itens; pra ser sincero só pensei em dois. Como estou com vontade de escrever, eles serão descritos agora!

1. Deve me entender.
Acho que isso é o básico pra conquistar meu amor. Como posso amar alguém que não entende aquelas curvas misteriosas do meu ser? Originalmente era "deve saber meus segredos", mas isso não é pré-requisito. Eu amo pessoas que não sabem o que eu fiz no verão passado, e a tendência é que eu tenha cada vez mais verões e cada vez menos conhecedores. De toda forma, acho que o "deve" está até muito forte. Coloquemos um "tentar". Claro que não pra sempre, mas de início é muito bom. Se a pessoa continua, pro resto da vida, sem me entender, é porque não conseguiu juntar as pistas e já não faz mais sentido perto de mim.

2. Precisa me fazer sentir amado.
Desde os tempos do colégio eu não tenho mais paciência para platonismos. Ficar olhando pra uma pessoa e não saber se ela te quer? Dar um beijo e não saber se será o último? Ahn, por favor, me abraça e diz que me ama e vamos lá! Não acredito em amor eterno, então não prometo que não vá parar de amar quem não me amar de volta. Sim sim, capitalismo, tu compra, eu vendo, eu compro, tu vende. Hah. Além do mais, tem coisa mais fofa do que ouvir, enquanto sente o cafuné na cabeça, "ei, sabe que eu gosto de ti?".

*-*

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...