sábado, setembro 15, 2007

Manual para a Raposa Antropomórfica

Desde sempre eu gosto dos sábados. Eles não são cansativos e com cara de "nada acontece" como os domingos, e também não são cheios de tarefas como os dias de semana. São simplesmente sábados, muitas vezes de sol. Os que amanhecem cinzentos e chuvosos não são, na maior parte das vezes, ruins; só o são quando esta condição é metafórica, e não climática.
Hoje é um dia que eu gostaria de estar trabalhando, com a mente ocupada enquanto divago operariamente sobre a vida. Tenho que estudar, tenho livros para ler, lugares para ir, e ainda assim estou completamente desanimado. Eu queria croissants de goiabada. Por algum motivo eles me dão a sensação de que estou no futuro que desejo para mim, um futuro contente.

Eu tenho alguns sonhos já estabelecidos, coisas que não morrerei em completar. Um deles é ser professor universitário: construirei meu caminho profissional até chegar a esse patamar. Outro é viajar à Europa, passear um pouco no Velho Mundo. Sempre quis.
Esses são os grandiosos. Tenho sonhos menores, pequenas vontades. Ter um dia na semana reservado aos amigos, mas este é utópico ou decadente, já que ter um dia para alguns nunca seria para todos e, dessa forma, ou eu deixaria alguns de lado ou eu não teria quem deixar de lado, e ambas as possibilidades são tristes. Eu já tenho isso atualmente, mas estou abrindo mão para viver outras experiências. Foram três anos muito agradáveis ao lado do grupo, agora está na hora de conhecer novos horizontes. Espero não deixá-los para trás no processo.

Morro de medo de mudanças. Boa parte de quem eu sou hoje advém dessa característica minha. Eu gosto de segurança, de saber que as coisas continuarão como são e que tudo dará certo desta forma. É claro, então, que terminar um grupo que se reúne todas semanas ou fazer um concurso para trabalhar em São Paulo são coisas que me assustam terrivelmente. Maldito medo.

Inteligência e sentimento são duas coisas diferentes. Via de regra a primeira trabalha para justificar o segundo. Meus pensamentos trabalham em função de justificar meus instintos e escolhas.

Eu gostaria de, numa vida, viver mil vidas.

Estou momentaneamente perdido num brainstorm. Tudo girando aqui na cabeça. Isso não é ruim, geralmente desses momentos saem as idéias para o meu futuro. Ainda assim não me agrada eu não conseguir focar meu pensar em um único ponto e seguir uma linha reta.

Até onde vai a minha vida e onde começa a dos outros? O que as separa? É possível retirar alguém cirurgicamente do mundo sem afetar nada ao redor? É possível considerar a própria vida sem qualquer influência das outras pessoas? Não, não é. Estamos constantemente sofrendo influências dos "campos" de outras pessoas, que interagem com a nossa própria área de influência e, desta forma, compomos o mundo.
Cada pessoa que para mim é importante o é por algum motivo. Motivo = justificação racional de um sentimento. Vale tudo, desde um abraço no momento em que eu precisava de um abraço; até uma conversa de bar que me serviu para guiar minha vida. Algumas pessoas são importantes simplesmente por continuarem no trem comigo, sem descerem nas primeiras estações.
É uma metáfora legal, essa. A vida é um trem, e pessoas entram e saem a cada nova estação que ele para. Eu sempre considerei uma outra no lugar desta: a vida é um seriado. A cada temporada, alguns personagens aparecem com maior ou menos importância, outros vão para outros seriados, alguns saem definitivamente, alguns ainda voltam para testar reviravoltas. Sempre me refiro ao Grande Roteirista como a entidade antropocósmica responsável pelo destino meu e dos meus.

Eu dou muita importância para o passado.

Não sou perfeito, estou bem longe disso. Acho que meu maior erro foi passar a vida me escondendo do mundo, me protegendo atrás de um casulo de segredos, de proteções contra todos. Se ninguém souber demais de mim, ninguém poderá me machucar. Se ninguém me machucar, ninguém roubará minha felicidade.
Existem aspectos que eu ofereço a todos que merecem. Lealdade, proteção. Existem aspectos que eu guardo pra mim, outros que eu partilho com um e ninguém mais. Extraindo o fragmento de "eu" que existe em cada pessoa com a qual já conversei talvez alguém possa me entender completamente.

Sim, eu sou estranho e sou feliz por isso. Odiava ser assim chamado até o dia em que um amigo comentou que ele gostava, já que isso significava que ele não era simplesmente mais um. Eu não sou diferente por querer, simplesmente. Eu sou por não querer ser igual, por viver minha vida através de uma linha de raciocínio e sentimento que são meus e de mais ninguém.
Sou inteligente, dependente, extrovertidamente tímido, carismático. Eu sou feliz por ser diferente. Feliz por ser lembrado como alguém que não age como todos. Não ajo para chamar atenção. Vivo para perseguir os meus sonhos e objetivos, simples ou complexos, sem deixar de lado quem eu sou.
Seria mais fácil ser "normal"? Ah, com certeza.
Eu quero? Não, obrigado.

Um abraço pode salvar o mundo, junto de um sorriso sincero.

Nunca pedi que qualquer amigo lutasse por mim: luto por eles e isso já me basta. Existe apenas uma pessoa fora do núcleo familiar que eu sinceramente espero que lute por mim, que me defenda e que deseje, acima de muito, me ver feliz. O peso do mundo sobre os teus ombros, amor.

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