quinta-feira, julho 24, 2008

Outro mundo

Fico imaginando se minha vida seria diferente acaso vivesse eu em Paris. Não é o lugar, certo? São as pessoas, não é?

terça-feira, julho 15, 2008

O Google e a memória

Desde pequeno eu reclamo que provas não deveriam cobrar memorizações de nomes e datas. Sempre achei que a mente deveria estar livre para processar raciocínios, ao invés de recheada de sabedorias enciclopédicas.
O resultado desta teimosa recusa em decorar é a minha dificuldade para recordar coisas que já aprendi e que ficaram para trás. Minha memória é boa, talvez pela quantidade de espaço vazio entre os neurônios, mas hoje já não penso mais que todo conhecimento útil é igualmente útil se estiver no computador ou na cabeça.
É a questão do saber o que e como fazer, saber o que acontece e por quê. Acho que falta isso um tanto ao mundo, e quisera eu pudesse dizer "a mim falta bem menos", mas aqui ficarei devendo. Empenho minha palavra de que em alguns pontos procurarei reduzir minha deficiência.

Dentro de alguns dias deve surgir aqui uma postagem sobre minha "festa" surpresa de aniversário. Fotos, diversão e felicidade!

quinta-feira, julho 10, 2008

Férias

Hoje entreguei o último trabalho deste semestre. Foi uma audioficção, uma narrativa sonora. O resultado não ficou tão bom quanto eu esperava, mas minha expectativa era absurdamente alta. Nós teríamos atores (ou estudantes de teatro) para nos ajudar, mas dos oito personagens, apenas dois vieram do Departamento de Artes Dramáticas. A participação deles foi bem legal, e certamente se destaca como um ponto de qualidade, mas infelizmente tivemos grandes problemas com as outras atuações. Bem intencionadas, mas sem a experiência e o preparo de quem atua todos os dias.
Considero o fim do semestre um ótimo presente de aniversário. Eu já vinha cansado, apesar das atividades deste ano terem sido, so far, bem fáceis. O segundo semestre promete ser bem mais pesado, não tenho dúvida. Prevejo três focos de trabalho, e mais um que merece atenção:
1- Monografia. Não adianta negar, a idéia de fazer um trabalho de conclusão de curso em um semestre é pavorosa. Faltam algumas bases, que estão sendo adquiridas na correria. Certamente farei o melhor de mim, e acredito que minha orientadora fará o melhor dela para que eu cresça bastante nesta empreitada.
2- Iniciação Científica. Sou bolsista voluntário numa pesquisa, e é condição obrigatória para a obtenção do certificado (e do prazer) a participação no Salão de Iniciação Científica, em outubro. Destarte, não bastará estudar para a monografia, terei que estar preparado para defender a pesquisa durante dez minutos e ser avaliado no processo. Legal!
3- Trabalho. Continuo na editora, não sei até quando. Posso a qualquer momento no semestre conseguir um estágio diferente (melhor? difícil) ou um emprego, e isso poderia vir a me atrapalhar nos estudos. Além disso, quero aumentar o número de trabalhos freelances, embora isso dependa menos de mim do que eu gostaria. Quero juntar muito dinheiro e muito rápido, esse é o único caminho que consigo enxergar no momento.
4- Vida pessoal e social. Tenho estado muito distante da vida que construí idealmente. Considero meu dever manter o que já havia conquistado enquanto agrego novos elementos à minha existência. Não vejo sentido em, para crescer em alguns lugares, abandonar outros. Isso não é avanço, é andar em círculos.

Estou preparando mentalmente uma série de posts. Alguns sobre o Curso da Formação Histórica da Cultura Ocidental, que faço nas segundas. Pelo menos um sobre os últimos filmes que assisti e gostei muitíssimo. Um sobre o Clã das Laranjas Voadoras. Vários sobre as pessoas que são importantes na minha vida, mas acho que este eu posso deixar para outro espaço, já que precisaria vasculhar muito para sequer começar a indicar meu apreço pelas criaturas.

Ao som de Sigur Rós, me despeço.

quarta-feira, julho 09, 2008

22?

Eu estou tão acostumado com a idéia de fazer 22 anos que há pouco pensei que faria 23. É uma coisa engraçada, isso. Quando eu era menor, eu enxergava duas idades como sendo fundamentais: 16 e 19. As demais estavam longe demais para serem consideradas. Agora eu colocaria novos limites para minhas estimativas: aprecio muito o número 22, e acrescento 25 e 28. São anos para os quais eu projeto grandes avanços na vida, maiores que os do dia-a-dia.
Meio bobinha essa coisa. Se eu pudesse, certamente voltaria a ser guri de novo. Não por um saudosismo da linda infância, mas sim pela possibilidade de experimentar outros caminhos desde pequeno. Talvez seja o fardo de todo humano: perceber que, se hoje fosse criança, faria tudo diferente.
Engraçado pensar que algumas escolhas eu faria as mesmas. Se eu pudesse voltar no tempo, antes faria anotações precisas sobre datas e momentos em que eu precisaria estar e o que eu precisaria fazer, a fim de conhecer determinadas pessoas sem as quais minha vida não teria a mesma graça. Tá, tudo bem, a idéia é que a vida inteira tivesse outra graça, mas saudosismo e imaginação têm limites.


Bilhetinho do Amor Carioca: "Nosso coração sabe imediatamente aquilo que nossa mente custa a descobrir". Mais um bilhetinho (vieram dois!): Amar é encontrar na felicidade do outro a própria felicidade".
Nha, que fofo ^^

terça-feira, julho 08, 2008

Ímpeto criativo

Ele vem do nada. Num momento não existe, no segundo seguinte ele desperta. É brutal, significativo, simples. Um olhar, uma negação, uma palavra sussurrada. Qualquer coisa pode gerar o ímpeto, qualquer movimento pode explodir a pólvora.
Desisti de identificar o que causa essa fagulha divina. Tenho idéias e palpites, e alguns chutes dirigidos, mas são simplesmente isso. Acredito que nos momentos de maior dor e de grande tristeza minha mágica opera e cria-se a obra. Pode ser simplesmente isso: transformação da dor e da tristeza em magia e beleza.
Gosto do jeito poético de pensar isso, mas será que a felicidade não pode, também, vir a ser arte?

x x x x x

O resto do post será dedicado à música!

sobre o Rio, Beirute ou Madagascar...
toda a Terra reduzida a nada
a nada mais
minha vida é um flash
de controles botões antiatômicos
olha bem meu amor
é o fim da odisséia terrestre
sou Adão e você será
minha pequena Eva

Pedacinho de uma música que eu gosto muito. Ouvi pela primeira vez voltando de um passeio de carro. Estava no banco de trás do carro, sentado no meio – lugar que adorava enquanto ainda pequeno. Passávamos por Cachoeirinha e a música começou a tocar. Fiquei apaixonado por ela no mesmo instante.

É isso aí
como a gente achou que ia ser
a vida tão simples é boa
quase sempre
É isso aí
os passos vão pelas ruas
ninguém reparou na lua
a vida sempre continua
Eu não sei parar de te olhar
eu não sei parar de te olhar
não vou parar de te olhar
eu não me canso de olhar
não sei parar
de te olhar

Outro trecho, outra música. Gosto dela muito muito, acho até que um pouco mais do que a versão em inglês. Quando o Seu Jorge começa a cantar, bah

É isso aí
há que acredita em milagres
há quem cometa maldades
há quem não saiba dizer a verdade
É isso aí
um vendedor de flores
ensinar seus filhos
a escolher seus amores
Eu não sei parar de te olhar
não sei parar de te olhar
não vou parar de te olhar
eu não me canso de olhar

Amo essa música. Como todas que ouço com freqüência, aplico a letra e a melodia à minha vida. Vários sons que me acompanham possuem significados profundos no meu coração. Um exemplo perfeito é Cripple and the Starfish, do fabuloso Antony and the Johnsons. O violino que começa já dá a entender o quão profunda é a música.

Mr. Muscle forcing bursting
stingy thingy into little me me me
but just ripple, said the cripple
as my jaw dropped to the ground
smile smile
It's true I always wanted love to be hurtful
and it's true I always wanted love to be
filled with pain
and bruises
Yes, so cripple-pig was happy
screamed I just compeletely love you!
and there's no rhyme or reason
I'm changing like the seasons
watch I'll even cut off my finger
it will grow back like a starfish
it will grow back like a starfish
it will grow back like a starfish
Mr. Muscle, gazing boredly
and he checking time did punch me
and I sighed and bleeded like a windfall
happy bleedy, happy bruisy
I am very happy
so please hit me
I am very happy
so please hurt me

Ela não termina aí, segue mais um pouco no jogo de tristezas que significa se doar ao outro. Amo demais essa canção, o que ela diz, o que ela significa. Houve um tempo, passadas as paixões platônicas de infância e adolescência, mas não as paixões platônicas, em que eu assumi essa música como tema para minha vida. Engraçado lembrar que "esse tempo" não faz muitos anos. Faz poucos, pra ser bem sincero.
Tem outra música que eu aprecio deveras. Girassol, do Cidade Negra. Como eu amo essa música, especialmente por uma parte muito interessante:

A verdade prova que o tempo é o senhor
dos dois destinos, dos dois destinos
já que pra ser homem tem que ter
a grandeza de um menino, de um menino
E no coração de quem faz a guerra
nascerá uma flor amarela
como um girassol, como um girassol, como um girassol
amarelo, amarelo

Se esse blog fosse um seriado de televisão, este post seria um capítulo de Natal, um musical. A cada três ou quatro cenas, uma canção diferente, nos mais diversos tons e estilos. Tudo muito bonito, como costumam ser os musicais.
O ritmo continuaria com The New Pornographers, The spirit of giving, que canta assim:

You went looking for shelter
in all the wrong spaces
you grew gluttonous and famous with faces
superstitiously you name them
st. Christopher and Johanna
st. Christopher and Johanna
st. Christopher and Johanna
...
I'll give you something to be sad about
hey the picture really captures your mouth
poised to say
it's your turn to go down now, it's your turn to go down now
it's your turn to go down now, it's your turn to go down now
in the spirit of giving

Eu não sei como eu terminaria o musical. Tenho três possibilidades, apresentá-las-ei (está certa essa mesó-cli-se?) Antes de terminar, porém, não poderia deixar de passar algum Coldplay.

Look at the stars
look how they shine for you
and everything you do
yeah, they were all yellow
I came along
I wrote a song for you
and all the things you do
and it was called Yellow

Agora que nos encaminhamos para o fim do nosso capítulo, escolhamos a música de encerramento. Temos três possibilidades, e reproduzirei trechos delas de acordo com a ordem cronológica da minha tomada de conhecimento.
Começo com Touched, que não sei de quem é.

I'll never find someone quite like you
again
I'll never find someone quite like you
like you
...
The razors and the dying roses plead
I don't leave you alone
the demigods and hungry ghosts
so God, God knows I'm not alone
I'll never find someone quite like you
again
...
I I looked into your eyes and saw
a world that does not exist
I looked into your eyes and saw
a world I wish I was in

Algo no ritmo em que ele canta essas palavras é primoroso. Vontade de erguer os braços, balançá-los furiosamente pelos lados, jogar-me de um lado para o outro e sentir o mundo girar ao meu redor, abandonar tudo ao seu destino e encontrar-me com os olhos em cujo mundo quero existir.
A segunda é Heretic, do Sound of Animals Fighting. Pelo que conheci da banda, baixei um disco depois de ver quão fantástica era essa música, nenhuma outra presta. Tudo uns barulhos estranhos, como se animais estivessem em jaulas brigando. Pertinente, ao menos. Essa canção é para ser ouvida a todo volume. Se não tiver como, nem perca tempo.

Inevitably it's starting to bleed
and couldn't be stopped, that's justice
incredible luck, to lift and be struck
what curious things..
A moment to think, before we will sing
the beauties alined, so sweetly
and don't be afraid, don't be afraid
don't be afraid...
Does this look like that?
(my bumpkin boy)
how cruel you get
I've started again
(my bumpkin boy)
to miss your hand
What carnage you've left
(my bumpkin boy)
and you were dead
Remember your flesh
(my bumpkin boy)
to see us break
Our souls are unrest
what kind of pride is this?
Dry your, dry your eyes
they'll salt his wounds
if burning the flesh means finding the one
...
(Flesh is heretic
my body is a witch
I am burning it)

Essa música realmente dói de ouvir. Sempre que posso canto-a com toda a força que meus pulmões conseguem gerar. Ela vale o esforço e a dedicação, sem dúvida.
Por fim, uma música que descobri há pouco mais de dois meses, talvez nem isso. Vem de um filme lindo, que resenharei em algum momento futuro. Por tê-la ouvido no filme, eu a associo às cenas que ela envolve, mas acho-a tão linda que mesmo sem filme ela acobertaria muitas coisas. É da banda chamada Hidden Cameras, chama-se We Oh We:

All I want is
to be in his movie
and not just be old worms of yesterday
All I want is
to be under his covers
and not simple be time from yesterday
...
All I want is warmth from his smother
and not just be frozen for an age
Oh my longing to be bare on your knee
and that not just be home from yesterday

Assim fecharia meu musical. Três músicas, na indecisão de uma só. Assim fecho meu post de hoje, certo de ter cumprido uma função bem mais presente do que a que eu esperava enquanto matutava sobre o que escrever hoje.
^^

segunda-feira, julho 07, 2008

Chame de inferno astral, se quiser

Um dos principais problemas de uma grande inteligência é a sua capacidade de analisar a si mesma. Hoje, conversando no serviço, uma série de questões que eu vinha postergando em algum cantinho da minha caixa-do-peito vieram à superfície. Eu pretendia deixá-las lá quietinhas não sei até quando, nem sei como, mas agora elas voltaram a respirar. É claro que com um pouco de esforço posso afundá-las novamente e guardá-las uma vez mais. A questão é que eu não quero.

Sinto falta dos meus amigos, que tenho deixado passar e caminhar longe de mim. Eles simplesmente seguem suas vidas e eu a minha, nós em ambientes e mundos distintos. Isso é tão desagradável, tão mais por saber que uns telefonemas podem resolver isso, que uns e-mails e umas voltas poderiam eliminar essa distância.
É uma característica minha esperar que venham a mim. Gosto de saber como as pessoas estão, gosto de ouvir suas histórias, de rir com elas, de viver com elas. Ainda assim, contudo, estou sempre no meu canto, protegido pelo meu muro espiritual, minhas ilusões de raposa.
Ah, fácil dizer que anos atrás eu era pior. É a verdade, por isso não é nada complicado de sustentar esse argumento. Eu com certeza mudei, passei a aceitar minhas escolhas com maturidade, a encarar o mundo como algo real. Ainda assim, as mudanças não me levaram a ser quem eu queria. Quem eu quero.

Não é fácil se entregar. Se eu sou afetuoso, se eu consigo demonstrar carinho, amor, cuidado? Acredito que sim, ao menos para quem consegue decifrar meus caminhos tortuosos de demonstração. Se precisam ser tortuosos? Não sei. É mais fácil que eles sejam.
Com certeza é uma ferramenta de proteção, um distanciamento seguro. Incrível como, tempos atrás, eu achei que havia vencido o muro que me separava das pessoas. Talvez até mesmo tivesse, mas agora, olhando novamente, vejo que não apenas não sou quem quero ser, como também o muro está ali, magnífico, intacto.

Sobre não magoar os outros existe uma história engraçada. É bem como conversamos hoje, pode não ser uma característica nobre da nossa personalidade, mas simples egoísmo em não querer se sentir mal por fazer mal a alguém. Não duvido que seja a coisa mais fácil do mundo, em termos práticos, ser cruel e pisar em todo mundo. Isso é espantosamente mais simples quando se tem os meios para tanto, e isso certamente tenho.
Onde eu entro? Por que não dizer às pessoas tudo que eu acho, ser todo "sincero", todo direto, todo verdades? Não acredito que o mundo esteja pronto para ser vivido apenas em verdades, e nessas enganações estão também as pessoas boas. A bondade não é ser verdadeiro com as pessoas, mas sim escolher quais verdades são nocivas demais para serem conhecidas.
Existe certa questão ética nessa história. O quanto de verdade ou de "mentira branca" faz uma pessoa legal, e o quanto de mentira e de verdade torcida faz um mentiroso? Quando se mente para proteger, o que fica da confiança? Como exigir confiança, se os próprios valores morais não são imbatíveis? O que é a confiança, aliás?

São muitas roupagens, vários casacos uns sobre os outros. O filho, o irmão, o amigo, o namorado, o trabalhador, o jornalista, o editorador, o jovem procurando emprego, o arrogante, o medroso. Quando se vai tirando os casacos, outras roupagens vão aparecendo, outras cores substituindo as que estavam por cima. O que fica quando se tira tudo? Fica alguma coisa?

Existe alguma coisa no estar leve, livre das preocupações da racionalidade, que eu não consigo entender. Isso se exemplifica quando eu digo que sou ótimo no que tenho que fazer, não no que quero. Por que quando estou sozinho mal consigo mexer as pernas, enquanto ao lado de amigos eu atravesso oceanos sem perceber?
Qual é a fórmula, qual é o segredo da liberdade de pensamento? São momentos zen, não tenho dúvida. No sentido religioso, mesmo. Estar presente no momento, atento a tudo, sabedor do passado e do futuro, mas sem projetar a mente. Que medo é esse tão forte que não me deixa ser assim o tempo inteiro, que não me deixa encarar a vida com essa refrescante liberdade?

Por que não ligo para as pessoas que me deixam com saudade?
Por que sempre prefiro ficar escondido em casa num domingo de sol, quando pelo menos três programas possíveis dançavam na minha frente? Estudar, certo, um motivo válido. A melhor escolha? Tenho dúvidas.

O que é proteger alguém?
Contar a cruel verdade, ou manter o mundo feliz dos enganados? Quem me deu o poder de escolher a vida dos outros? Se tenho esse poder, como não consigo usá-lo para guiar o meu próprio caminho?

Minha cabeça está rodopiando neste momento. Faltando uns diazinhos para o meu aniversário, a idéia de um mês atrás de fazer uma festa e convidar todo mundo já morreu. Está morta da mesma forma que a idéia de mandar tudo se danar e alugar/comprar um apartamento no centro da cidade e começar a fazer a minha vida sozinho. Vai acontecer a mesma coisa a viagem à França, provavelmente, da mesma forma que certamente aconteceu com tantas outras coisas.
Da mesma forma que aconteceu com minha literatura.

Eu quero o segredo da liberdade, a chave para entender quem está por debaixo de todas essas roupas. Gostaria tanto de não sentir as mãos da dúvida segurando-me de dar uma corridinha e enfrentar as possibilidades.

Dentro de mim existe um jogo acontecendo. Minha inteligência joga contra ela própria, uma parte tentando encontrar motivos para que eu não faça nada, outra criando situações das quais não posso me desviar. Faço porque me obrigo, deixo de fazer porque me obrigo. Uma marionete nas minhas próprias mãos (com um gosto pelo drama, diga-se de passagem).

Somewhere over the rainbow é uma boa música para essa espiral de pensamentos. Um pouco leve e bonita demais, mas se encaixa.

Hoje eu estava assistindo a alguns vídeos de aikido. Bah, que maldita saudade. Eu desisti por medo de alguma coisa, não tenho mais certeza se foi do yudansha que me tirou pra cristo, se foi da possibilidade de ser o uke do sensei, ou ainda se foi ainda a tremenda responsabilidade de estar crescendo dentro de algo.
Quando foi a última vez que levei algo realmente longe? Sozinho, acho que faz muito tempo. Mesmo o que carreguei nas costas por muito tempo algum dia deixei de lado, e essa desistência me machuca.

Dói saber que não machuco os outros provavelmente para me preservar. Dói ver que não protejo tão bem quem eu gostaria, que muitas vezes eu beiro o desinteresse ao deixar meus amados seguirem seus caminhos sem o meu abraço.
Odeio lembrar que fiquei parado enquanto um soco era dado, quando tinha todo o tempo e possibilidade de impedir. Eu sou o tipo que fica quieto, olhando, deixando rolar, rangendo os dentes em silêncio.

Onde foi, ou quando, que eu aprendi a me controlar tanto? Por quê mesmo nas minhas irritações mais bombásticas eu não explodo? Eu queria, só para ver os resultados, explodir. Esquecer que o mundo existe ao meu redor, deixar de lado tudo que me incomoda, fazer o que me interessa e dane-se o resto.
Maldita inteligência, que me lembra que mesmo essa explosão seria apenas uma outra roupa, vermelha ao invés de azul. Maldito saber, que me recorda que, passado o fogo, teria eu que apagar os incêndios com lágrimas.

Dentro de todos os casacos é certo que existe pelo menos uma coisa: uma raposa encolhida, com medo de dizer "eu te amo".

domingo, julho 06, 2008

"Minha vida daria um romance"

Li hoje um texto que me tinha sido recomendado havia já algum tempo. Meses, talvez. Não foi por falta de consideração a demora, mas sim por um misto de compromissos e esquecimentos. O texto é um capítulo de um livro sem nome (tenho apenas o xerox do capítulo). A autora é Maria Rita Kehl. Sugiro a leitura.
Existem algumas passagens que eu gostaria de destacar, e cito-as abaixo. Um pequeno teaser.
A falência, ou no mínimo o esgarçamento do poder simbólico das religiões nas sociedades modernas, está diretamente relacionado, a meu ver, com a emergência da literatura como resposta "necessária" para a constituição dos sujeitos. Uma das respostas possíveis – certamente a mais poderosa – à nossa separação de estado (ideal) de natureza sempre foi a produção, pela cultura, de modos de "religação" entre o homem e o universo, entre os homens e o Pai perdido (Deus), entre os homens e sua comunidade terrena. As religiões e todas as outras formações simbólicas próprias das sociedades simbólicas (...) são atenuantes para o desamparo.
Não sei se é possível negar que a escrita, e em resumo toda forma de arte, não é "apenas" uma forma de alcançar um espírito superior. Eu acredito que o poder de criação artística tem algo de divino, algo muito além do poder simbólico-social.
Se o desamparo é parte da condição humana, as grandes formações da cultura funcionam para proporcionar, num mundo feito de linguagem, algumas estruturas razoavelmente sólidas de apoio para estes seres por definição desgarrados da ordem da natureza. A tradição, de certa forma, situa as pessoas na sociedade em que vivem, explicitando o que é esperado de cada um a partir do lugar que ocupam desde o nascimento. A religiao produz sentidos para a vida e a morte, e orienta as escolhas morais; os mitos explicam por que as coisas são como são, e fundamentam as interdições necessárias à manutenção do laço social.
O desamparo é uma questão interessante. Sexta-feira estava eu comentando com minhas colegas de trabalho uma constatação que me acompanha desde a infância: a felicidade é um bem disponível apenas àqueles que não possuem uma inteligênica muito apurada. O brilho da ingenuidade é uma manifestação do sensorial, ele é contrário ao uso da razão e, por consequência, ele é cego. A cegueira não o faz menos bonito ou poético, mesmo assim.
A vida não tem sentido em si, e os sentidos que temos são os que conseguimos criar. Triste que nossas explicações tenham a única função de se explicar, assim como tudo que fazemos só fazemos porque fazemos.
A passagem da transmissão oral à letra escrita corresponde, assim, à passagem de uma espiritualidade (ou seja, em termos ainda medievais, de uma subjetividade) totalmente sustentada sobre uma palavra de autoridade a uma subjetividade feita cargo do próprio indivíduo. A função nomeadora e estruturante do "pai" vai lentamente se desencarnando da figura dos representantes de Deus na terra, tornando-se mais abstrata, e seus desígnios mais passíveis de interpretações individuais, diferenciadas.
Sinceramente não sei explicar qual o gosto que tanto tenho pelo individual. Na realidade, muitas vezes eu apostei com o destino que prefereria tantas vezes mais ser não-inteligente e feliz do que conhecedor de verdades. Não tendo a barganha sido aceita, que viva este pequeno criador de histórias sua vida e que faça seu papel no mundo.
(disseram-me neste fim de semana que não sou especial... ah, se conhecessem meus mundos, certamente saberiam que engano cometeram)
Essa citação me clareou na mente as razões de eu amar tanto o objeto livro. Ele significa tudo para alguém que vê no mundo mais do que as demais pessoas. Ele me faz sorrir, chorar, sentir o que o mundo muitas vezes bloqueia. O mais feliz dos dias será aquele em que eu conhecer todas as palavras que um dia tiverem sido escritas, todas as línguas jamais faladas, todas as histórias que se há de conhecer. Talvez depois de virar um corvo eu me torne, como o primeiro, o guardião da biblioteca dos sonhos.


Eu tinha alguns outros pedaços separados, mas eles não fechariam com o que se construiu nesta escrita. Deixo por encerrada, então, minha incursão neste capítulo de livro, certo de que ele me abriu algumas páginas nas histórias do mundo.




quarta-feira, julho 02, 2008

coisas de estudante

Hoje me senti tão bem, de tarde, enquanto trabalhava junto com minha professora de design do primeiro semestre. Curiosa essa volta da vida. É evidente o abismo entre nós, não há dúvida, mas o simples fato de compartilharmos idéias e uma criação – boba, saiba-se, um infográfico – já me deu certa perspectiva de futuro.
Agora (desde muito tempo, diga-se de passagem) estou na dúvida sobre o que fazer depois da faculdade. Não que eu saiba, realmente, o que fazer até o fim da graduação, mas o afterwards me preocupa bastante, já que dependendo das minhas escolhas precisarei tomar providências ainda neste ano. Minhas opções são quatro, pelo que consigo imaginar até agora: 1- tentar mestrado logo que sair da faculdade; 2- fazer um curso de especialização; 3- aloprar e gastar dinheiro fazendo algum curso no exterior; e 4- não fazer nada disso, arranjar um emprego, comprar um cachorro e ficar quieto no meu canto.

Quero decidir logo o que fazer para, adivinhem?, fazer!
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