quarta-feira, dezembro 21, 2011

O que te motiva?

Após uma conversa sobre perspectivas de vida, o que fazer dos dias e o que fazemos na realidade, fico pensando se estou contente com minha situação atual. A resposta vem pronta, "não". Por quê? Ou melhor, qual é a minha situação atual? Refletindo sobre isso, parece-me óbvio que eu não estou fazendo coisas que eu acredito que deveria estar. Faço coisas que me divertem e me ocupam, mas não me dedico às que eu acredito que deveria estar me dedicando.

É com isso em mente que farei, esse ano, resoluções para o ano seguinte. Coisas pequenas que desejo implementar na minha vida. Projeções de futuros possíveis, os quais desejo que sejam presentes constantes. Só há um jeito de torná-los reais: agindo. É por isso que, neste exato momento, estou terminando este textinho e colocando essas ideias em ação. Compartilharei futuramente, de caso pensado. Agora, porém, é o momento de fazer outras atividades.

segunda-feira, dezembro 19, 2011

Uma noite chuvosa e meio zen

Eu disse aqui que
Chegamos à crise da vez: eu não sei o que fazer da vida.
Não faz muito tempo que escrevi isso. De lá pra cá, pouca coisa mudou. Bem, isso dito de um ponto de vista bastante generalizador. Tenho certeza que zilhões de células minhas morreram e outras tantas nasceram. Ainda assim, ainda pensando nessas grandes massas que achamos que são pessoas, creio que algumas coisinhas foram se deslocando, se destacando, se rearranjando. Estou às portas de uma viagem que durará três meses e na qual quero recuperar alguma serenidade de espírito. Falo como se houvesse perdido as esperanças no mundo, o que não pode ser mais mentira. Apenas estou sentindo que a volta do relógio começará mais uma vez, jogando-me para um novo mundo.


Meu fim de semana foi dedicado a amar minha mãe. Não foi difícil, amar é algo que a gente faz sem nem perceber, depois que aprende como. Algumas vezes até antes. Não disse eu te amo nenhuma vez para ela durante essa visita, tampouco ela me falou essas palavras que outrora trocávamos cotidianamente. Será que nosso amor um pelo outro diminuiu? Ou será que o estar próximo, o dividir palavras e sorrisos, o querer bem foi maior do que qualquer frase poderia representar?

Um amigo comentou que não sabia que éramos tão próximos. Respondi-lhe que somos mais do que mãe e filho, somos amigos. Ainda não encontrei, na vida, algo que valha mais a pena de se ter e cultivar do que amizades. Elas muitas vezes crescem conosco e nos dão a mão para crescermos. Também servem para, quando for o momento, nos ajudar a diminuir.

São amigos só aqueles que duram para sempre? São amores só aqueles que nos arrebatam loucamente? Não, simplesmente não. Eu posso ser amigo de alguém que conheci há um minuto, como posso amar quem não vejo há anos. Eu existo na interação, o mundo não faz sentido para mim solitário. Compartilho meus dias com quem deseja sorrir comigo, pois decidi há algum tempo abandonar uma certa tristeza que me acompanhava no silêncio da inexistência. Minha mãe chama isso de personalidade.


Lugares queridos também podem ser divididos, pois guardam memórias. Lembranças são essas coisas boas que não maculam nem agridem, elas somam. Eu sei que quando for ao café que custa caro e vende smoothies gostosos, não será apenas o paladar que será agradado, mas também o coração. Eu compartilhei um momento bom.

Ouço agora Jorge Drexler cantando:
No tengo a quien culpar
Que no sea yo,
Con mi reguero de cabos sueltos.
No me malinterpreten,
Lo llevo bien,o por lo menos
Hago el intento.
A hermana duda que o acompanha também vem a mim. Nesta noite, porém, ela atendeu ao pedido e deu-me um respiro. Minha mãe retornou para a praia, e eu bem que gostaria de estar com ela. Porém, ficará a memória desses dias, lugares e pessoas visitados. Ela comprou chocolates para marcar. Eu escrevo, eu penso, eu memorizo vivências. Eu colo nas minhas paredes. Há muito ainda por colar, como também creio que há para viver.

Hoje estou assim, reflexivo, distante. Não estive calmo o dia inteiro, já enfureci, já acalmei, já repensei. Farei projeções de fim de ano, pela primeira vez na vida. Está na hora de dar mais passos rumo a ser quem eu desejo ser, uma imagem sempre mais além de onde estou. Talvez não haja nada menos zen do que isso, mas talvez seja precisamente isso que me encanta em estar vivo. A vida pode ser um comercial de margarina com uma família de amigos.


Nem precisa durar pra sempre. Basta durar enquanto fizer sentido. Contudo, não nego que fico feliz por algumas permanecerem ainda hoje.

Por que não sou jornalista?

Nós, seres humanos, narramos nossa experiência e damos sentido a ela através do relato. Organizamos os acontecimentos, ordenando-os e colocando-os numa determinada sequência que, no fim das contas, faz sentido. Ou que queremos que faça. Eu, raposa-pessoa, utilizo este espaço como uma terapia, como um momento de analisar a mim mesmo e minhas histórias, vendo e revendo o que penso e o que penso sobre o que penso. E o que escrevo.

Tenho pensado e escrito sobre minha (falta de) vivência jornalística sempre repetindo as mesmas ideias, sempre ignorando que as coisas talvez não sejam como eu conto. Digo o tempo inteiro que minhas escolhas me levaram para longe dessa profissão, que a velocidade das coberturas e escritas jornalísticas me deixam com vertigem e que, por isso, escolhi outros caminhos. Escolher, esse é o verbo principal nessa frase. Ainda que nada dessas coisas que eu diga sejam mentiras, elas não apontam para aquele fiozinho de verdade, ou de mais-verdade.

Ontem me peguei pensando sobre minha vivência profissional e lembrei dos inúmeros testes que fiz para entrar em redações de jornal, fosse como assistente de redação, fosse como diagramador. Em todos os casos, eu não fui aprovado nas seleções. Houve uma vez que também tentei para uma editora famosa do Rio Grande do Sul (mas de projeção nacional), porém não passei no teste de conhecimentos gerais. Eu não sabia quem havia ganhado prêmio Nobel, quem havia recusado e também a minha memória me falhou na hora de dizer nomes de livros favoritos. Pensando bem, faz sentido que eu não tenha sido aprovado, uma vez que eu queria trabalhar com... livros.

Minhas experiências profissionais até o momento foram todas iniciadas por indicação. Claro, isso não significa que eu não seja competente. Ouso dizer que sempre fiz por merecer pelas posições que me foram dadas, o que de certa forma de alçava a novas possibilidades de trabalho. É o que tem acontecido até hoje. Porém, pensando na minha última tentativa, ou seja, o concurso para professor em Cachoeira, a minha história se repetiu.

Curiosamente, no momento de abreviar esses relatos, o gosto pelos livros ganha destaque frente aos testes fracassados. A narrativa se desenvolve pelo que aconteceu e se prolongou, ao invés das tentativas sem sucesso (não sei se foram muitas, menos de dez, provavelmente).

Eu seria um bom assistente de redação? Um qualificado editor? Um diagramador habilidoso? Não faço a menor ideia, mas arrisco que sim, sim e talvez. Contudo, essas falhas também fazem parte do lugar que ocupo neste momento. Das milhões de portas que poderiam ter sido abertas, foram as que eu consegui abrir ou que abriram para mim que construíram esse caminho. Não quero dizer que "ah, tudo bem, então, não haver passado nesses testes, foi para o melhor". Eu não sei se é o melhor. Talvez eu estivesse mais feliz trabalhando na L&PM do que estudando discursos sobre homossexualidade. Talvez Goiânia continuasse sendo invisível para minha percepção de mundo.

Por que não sou jornalista? Porque nas horas em que podia ser, não fui.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Mapa de masculinidades

http://prezi.com/jlt5mowhyvdm/mapa-individual-de-masculinidades/

Trabalho para uma disciplina do mestrado. Até ficou legal.

O banheiro de quem?


Eu dou aulas sobre sexualidade. Em um dos cursos que ministrei, utilizei uma outra tirinha do Laerte com a personagem Muriel para discutir justamente qual era a função dos banheiros separados por gênero. Ou, digamos, por sexo, já que mesmo que você seja uma mulher extremamente masculinizada, ou um homem feminino, seu banheiro corresponde ao fato de você mijar em pé ou sentado. Uma das alunas me perguntou qual era o banheiro utilizado pela travesti, o que iniciou uma discussão acerca do incômodo para esse sujeito transitório, mas também (e principalmente) para a pessoa que está dentro do banheiro dito correto. "Por que eu tenho que lidar com o desconforto de ter um travesti no meu banheiro?".


Esse é um dos reforços mais curiosos que percebo em relação a quem e como deve ser homem, quem e como deve ser mulher. Se nossas casas, em sua grande maioria, possuem banheiros mistos, por que estranhamos tanto a possibilidade de existirem banheiros assim nos espaços públicos? Qual é o argumento que sustenta essa separação? Falta de higiene masculina? Perigo para as mulheres? Bem, nós obviamente vivemos em uma sociedade machista misógina cretina. Altas chances desses medos se tornarem realidade. Eu ia, até uma hora atrás, pregar sobre um mundo ideal, agarrado ao utópico e às possibilidades de convivência. Só que, pensando bem, existem momentos em que é realmente difícil acreditar que isso seja possível. Quero dizer... digamos que todos usem banheiros mistos, aí um fiodaspu vai lá e estupra, bate, abusa de alguém. Não é difícil de imaginar o cenário, noite escura, horário vazio, silêncio. Ou muito barulho, para abafar tudo. Aí acontece e alguém levanta para dizer "viu? É para isso que existe essa separação!".

Não é, mas nós chegamos a um ponto tão complicado de existência em que esses poderes e abusos se misturam de uma forma aparentemente irreversível. Não dá para eliminar as disparidades de gênero sem acabar com o privilégio masculino. O que, creio, é intocável sem o fim das diferenças de gênero. Está aí algo que terei que pensar com muito mais carinho... Aceito sugestões...

* * * * *

Em tempo, comentei sobre como banheiros reforçam papéis de gênero e pelo jeito a coisa não é tão evidente quanto eu pensava. Vamos imaginar banheiros públicos, certo? Ignoremos shoppings, por enquanto. No geral, banheiro masculino não tem espelho. Feminino tem. "Ah, mulher se cuida mais". Isso, digníssimos, é papel de gênero. Construído socialmente. Tem mais: uma amiga veio aqui e não usou o meu banheiro, pois estava sujo. Eu pedi desculpas e ela me respondeu que era um típico banheiro de homem solteiro. Verdade, é mesmo. Por quê? Por eu ter sido sempre liberado de limpar coisas em casa, pois havia mulheres para fazerem esse serviço para mim.

Parece coisa pequena, mas é daquelas que vai crescendo conforme a gente vai enxergando o que meninas não podem fazer que meninos podem, o que garotos aprendem que garotas não precisam etc. Eu aprendi a achar que isso é só papinho de feminista exaltada. É um pensamento perigoso de reforço às condições humilhantes às quais as moças são submetidas. Igual a ter medo de andar sozinha. Como resolve?

terça-feira, dezembro 13, 2011

O que eu tenho chamado de lar

O que se está afirmando é que a nossa casa veio deixando de ser um lar, no sentido de constituir uma extensão de nossas emoções e sentimentos, veio deixando de ser um lugar expressivo da vida de seus moradores e da cultura onde se localiza. (O sentido dos sentidos, João-Francisco Duarte Jr.)

O que minha casa oferece para mim, em termos de emoções? É um lugar de conforto de resguardo, ou é simplesmente um espaço de acúmulo de tralhas, livros e memórias? O que eu sinto quando abro minha porta, além do alívio de escapar do sol? Costuma ser raro eu pensar na minha casa como lar, já que fui criado com pouco poder (ou vontade? Ou saber?) para interferir no meu quarto. Trouxe isso comigo para Goiânia, lugar em que todas as minhas interferências são possíveis de desfazer sem muito trabalho.


Na parede, papéis colados que lembram uma noite de amizade ou uma tarde de picolés de pequi (Peça, recebido das mãos de Gwavira Gwayá), bem como monstrinhos peluciados que me acompanham em dias felizes ou tristes. Livros literários, uma galinha de segurar portas que, promovida culturalmente, agora ergue livros. Um Hello Kitty discreta de uma festa esquecida. Percebo agora que todos meus adornos de parede são presentes. É difícil pensar detidamente sobre aquilo que vemos todos os dias. O tal do cotidiano se mascara tão rapidamente em outros pensamentos que soam mais importantes, que até chegam a nos surpreender quando lembramos que estão ali.





Meu lugar de trabalho é meu ambiente de sono e sonho. Deito, olho para as paredes e vez ou outra recordo de uma marca gaúcha, de um presente de amigo secreto ou de uma lembrança de amiga que não era nem é secreta. São fragmentos de uma vida que não me abandona, de dias risonhos e muitas vezes regados a vinhos, queijos e aprendizagens. Algumas nem acadêmicas, quem diria!


Uma raposa discreta na parede, observando o corredor, espreitando quem passa do quarto para a cozinha, da porta de entrada para a sacada. Ela me acompanha silenciosa e com uma marca de café. Logo eu, que não bebo dessas coisas que acordam a gente. Sempre fui do time dos que preferem dormir, dos que sabem que sonhar pode ser muito mais gostoso do que saber. Aliás, sonho tanto que até acordado me perco da realidade, resquícios de uma inexistência já antiga.



Por fim, meu vício. Quando chegava na casa do meu pai, a primeira coisa que eu pedia era papel e caneta. O que eu faria com eles não importava, contanto que eu sempre pudesse desenhar, escrever, imaginar e tracejar a tinta no branco. Branco porque não havia outras cores. Tinta porque nunca aprendi a usar lápis. Tenho medo de fazer riscos que durem pra sempre, aí acontece que meus rabiscos são tão fraquinhos que quase não se percebem. Daquelas coisas que a gente foi e vai e segue perdendo com o tempo.

Ou, às vezes, ganhando.

A tal da Academia

Já falei algumas vezes sobre como a universidade e o mundo da pesquisa muitas vezes se monta numa Torre de Marfim inalcançável para os humanos comuns e, em contrapartida, sem grandes efeitos nesses mesmos indivíduos. Parece ser recorrente a tristeza dos que vivem na área das Humanidades - e não haveria ironia maior? - pelo pouco efeito que seus estudos causam nos seres viventes. O que dizer de mim, ou de tantos outros, que cruzam áreas e não se definem em uma atuação específica? Sou formado jornalista, estudei expressão gráfica na arquitetura/design, e agora me envolvo profundamente com a cultura visual e a educação em artes, ao ponto de fazer um intercâmbio com a Ohio State University no departamento de arte-educação.

No meio de tudo isso, o que estou fazendo que tenha algum contato com a realidade? É, esse lugar em que vivem as pessoas de carne e osso, em que estudam, comem, transitam, conversam, produzem? Produzir, fazer, agir. Sinto falta de um fazer profissional, de um interferir diretamente no mundo. Claro, sei que estou me preparando para algo assim conforme vou estudando. Só que esse se preparar para algo soa tão distante que é difícil acreditar que um dia ele vá se tornar real. Quando acontecer, talvez minhas dúvidas feneçam e eu possa respirar aliviado. Como isso não tem perspectiva de se realizar e eu sigo empurrando sempre mais para a frente o dia em que terei uma vida profissional ativa, entro fácil nesses redemoinhos.

Quero ser professor, mas quanto mais estudo, menos eu acho que tenho pra ensinar.
Como faz?

domingo, dezembro 04, 2011

Política

Eu não tenho o costume de trazer postagens políticas, isso é um fato. Se tem algo que não me interessa, é o nível macro das relações humanas. Elas acontecem numa esfera tão distante do que eu consigo entender que, pra mim, é melhor simplesmente ignorar. Suas ondas e reverberações vão me atingir de qualquer forma. E atingiram a ponto de formular esse post, nascido de uma postagem em que duas imagens eram comparadas, uma de policiais norte-americanos jogando spray de pimenta em pessoas amarradas e outra de um policial sendo atirado com arminhas de água e rindo em meio a algum evento canadense. Óbvio, situações e contextos completamente diferentes. Seja qual for, qual o sentido de amarrar alguém e depois usar spray de pimenta? É pra mostrar que pode?


O grito tem, para mim, uma significação toda especial. Ele lembra a vida na especialização, sobre a qual já falei da turma que conheci. Durante as aulas de desenho, eu me colocava a desenhá-lo de todas as formas que conseguisse, muito mais como alternativa à minha alegada falta de habilidade do que por efetivamente querer ser engraçadinho.  Como eu disse antes, o macro reverbera no micro e aí passa a exercer poder sobre nós. Ou a exigir que exerçamos poder sobre ele. Sei que não posso fazer nada contra um policial que joga spray de pimenta em um manifestante amarrado. Também sei que posso não repetir o gesto, mesmo que metaforicamente.

sábado, dezembro 03, 2011

O lado do professor

Estive em Catalão hoje participando das bancas de defesa de TCC do curso de Licenciatura em Artes Visuais, na modalidade de educação a distância (EaD). Três grupos meus apresentaram, dois com nota final oito e um com nota nove. Mesmo tendo meus grupos sido aprovados com conceitos bons, fiquei pensando sobre a ansiedade que cada um sente durante o processo. As meninas estavam muito mais nervosas que eu. Imagino que, por já haver estado na posição delas e por estar lá hoje apenas como avaliador, eu realmente não tinha motivos para me sentir tenso.

Contudo, terminada a coisa toda, fiquei imaginando se o meu papel foi bem cumprido. Será que eu poderia ter investido mais tempo nos grupos? Discutido mais os trabalhos, tentado organizar maneiras de construir melhor as investigações e os referenciais teóricos? Será que deveria haver insistido nos momentos em que relaxei? Essas dúvidas vão me consumindo, enquanto professor, ao ponto de que ouvir que "nossa, muito obrigada, você nos ajudou muito" parece não ser suficiente.

Não é incrível como a gente sempre consegue duvidar de nós mesmos?
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