Nós, seres humanos, narramos nossa experiência e damos sentido a ela através do relato. Organizamos os acontecimentos, ordenando-os e colocando-os numa determinada sequência que, no fim das contas, faz sentido. Ou que queremos que faça. Eu, raposa-pessoa, utilizo este espaço como uma terapia, como um momento de analisar a mim mesmo e minhas histórias, vendo e revendo o que penso e o que penso sobre o que penso. E o que escrevo.
Tenho pensado e escrito sobre minha (falta de) vivência jornalística sempre repetindo as mesmas ideias, sempre ignorando que as coisas talvez não sejam como eu conto. Digo o tempo inteiro que minhas escolhas me levaram para longe dessa profissão, que a velocidade das coberturas e escritas jornalísticas me deixam com vertigem e que, por isso, escolhi outros caminhos. Escolher, esse é o verbo principal nessa frase. Ainda que nada dessas coisas que eu diga sejam mentiras, elas não apontam para aquele fiozinho de verdade, ou de mais-verdade.
Ontem me peguei pensando sobre minha vivência profissional e lembrei dos inúmeros testes que fiz para entrar em redações de jornal, fosse como assistente de redação, fosse como diagramador. Em todos os casos, eu não fui aprovado nas seleções. Houve uma vez que também tentei para uma editora famosa do Rio Grande do Sul (mas de projeção nacional), porém não passei no teste de conhecimentos gerais. Eu não sabia quem havia ganhado prêmio Nobel, quem havia recusado e também a minha memória me falhou na hora de dizer nomes de livros favoritos. Pensando bem, faz sentido que eu não tenha sido aprovado, uma vez que eu queria trabalhar com... livros.
Minhas experiências profissionais até o momento foram todas iniciadas por indicação. Claro, isso não significa que eu não seja competente. Ouso dizer que sempre fiz por merecer pelas posições que me foram dadas, o que de certa forma de alçava a novas possibilidades de trabalho. É o que tem acontecido até hoje. Porém, pensando na minha última tentativa, ou seja, o concurso para professor em Cachoeira, a minha história se repetiu.
Curiosamente, no momento de abreviar esses relatos, o gosto pelos livros ganha destaque frente aos testes fracassados. A narrativa se desenvolve pelo que aconteceu e se prolongou, ao invés das tentativas sem sucesso (não sei se foram muitas, menos de dez, provavelmente).
Eu seria um bom assistente de redação? Um qualificado editor? Um diagramador habilidoso? Não faço a menor ideia, mas arrisco que sim, sim e talvez. Contudo, essas falhas também fazem parte do lugar que ocupo neste momento. Das milhões de portas que poderiam ter sido abertas, foram as que eu consegui abrir ou que abriram para mim que construíram esse caminho. Não quero dizer que "ah, tudo bem, então, não haver passado nesses testes, foi para o melhor". Eu não sei se é o melhor. Talvez eu estivesse mais feliz trabalhando na L&PM do que estudando discursos sobre homossexualidade. Talvez Goiânia continuasse sendo invisível para minha percepção de mundo.
Por que não sou jornalista? Porque nas horas em que podia ser, não fui.
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