segunda-feira, dezembro 19, 2011

Uma noite chuvosa e meio zen

Eu disse aqui que
Chegamos à crise da vez: eu não sei o que fazer da vida.
Não faz muito tempo que escrevi isso. De lá pra cá, pouca coisa mudou. Bem, isso dito de um ponto de vista bastante generalizador. Tenho certeza que zilhões de células minhas morreram e outras tantas nasceram. Ainda assim, ainda pensando nessas grandes massas que achamos que são pessoas, creio que algumas coisinhas foram se deslocando, se destacando, se rearranjando. Estou às portas de uma viagem que durará três meses e na qual quero recuperar alguma serenidade de espírito. Falo como se houvesse perdido as esperanças no mundo, o que não pode ser mais mentira. Apenas estou sentindo que a volta do relógio começará mais uma vez, jogando-me para um novo mundo.


Meu fim de semana foi dedicado a amar minha mãe. Não foi difícil, amar é algo que a gente faz sem nem perceber, depois que aprende como. Algumas vezes até antes. Não disse eu te amo nenhuma vez para ela durante essa visita, tampouco ela me falou essas palavras que outrora trocávamos cotidianamente. Será que nosso amor um pelo outro diminuiu? Ou será que o estar próximo, o dividir palavras e sorrisos, o querer bem foi maior do que qualquer frase poderia representar?

Um amigo comentou que não sabia que éramos tão próximos. Respondi-lhe que somos mais do que mãe e filho, somos amigos. Ainda não encontrei, na vida, algo que valha mais a pena de se ter e cultivar do que amizades. Elas muitas vezes crescem conosco e nos dão a mão para crescermos. Também servem para, quando for o momento, nos ajudar a diminuir.

São amigos só aqueles que duram para sempre? São amores só aqueles que nos arrebatam loucamente? Não, simplesmente não. Eu posso ser amigo de alguém que conheci há um minuto, como posso amar quem não vejo há anos. Eu existo na interação, o mundo não faz sentido para mim solitário. Compartilho meus dias com quem deseja sorrir comigo, pois decidi há algum tempo abandonar uma certa tristeza que me acompanhava no silêncio da inexistência. Minha mãe chama isso de personalidade.


Lugares queridos também podem ser divididos, pois guardam memórias. Lembranças são essas coisas boas que não maculam nem agridem, elas somam. Eu sei que quando for ao café que custa caro e vende smoothies gostosos, não será apenas o paladar que será agradado, mas também o coração. Eu compartilhei um momento bom.

Ouço agora Jorge Drexler cantando:
No tengo a quien culpar
Que no sea yo,
Con mi reguero de cabos sueltos.
No me malinterpreten,
Lo llevo bien,o por lo menos
Hago el intento.
A hermana duda que o acompanha também vem a mim. Nesta noite, porém, ela atendeu ao pedido e deu-me um respiro. Minha mãe retornou para a praia, e eu bem que gostaria de estar com ela. Porém, ficará a memória desses dias, lugares e pessoas visitados. Ela comprou chocolates para marcar. Eu escrevo, eu penso, eu memorizo vivências. Eu colo nas minhas paredes. Há muito ainda por colar, como também creio que há para viver.

Hoje estou assim, reflexivo, distante. Não estive calmo o dia inteiro, já enfureci, já acalmei, já repensei. Farei projeções de fim de ano, pela primeira vez na vida. Está na hora de dar mais passos rumo a ser quem eu desejo ser, uma imagem sempre mais além de onde estou. Talvez não haja nada menos zen do que isso, mas talvez seja precisamente isso que me encanta em estar vivo. A vida pode ser um comercial de margarina com uma família de amigos.


Nem precisa durar pra sempre. Basta durar enquanto fizer sentido. Contudo, não nego que fico feliz por algumas permanecerem ainda hoje.

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