quinta-feira, outubro 31, 2013

Um presente providencial

Anteontem ganhei do meu namorado um guarda-chuva de presente surpresa, o mesmo que utilizei para nos proteger da água quando o levei ao hospital e, depois, quando fui para aula. Parece que as nuvens esperaram pacientemente até que meu falecido guarda-chuva fosse substituído pelo recém-presenteado. Obrigado por acompanharem minha vida aí de cima, nuvens. Vocês são lindas.

quarta-feira, outubro 30, 2013

Corpo humano

Teu namorado acorda com dor de cabeça absurda (diz o Google que pode ser "cefaleia em salvas", mas era pra ter passado porque a dor típica desaparece em até uma hora), náusea e cansaço absurdo (diz o Google que pode ser hipo ou hiper grlicemia, fico confuso porque um parece o contrário do outro) e tu não sabe o que fazer. Para completar, o lindo hospital ao lado de casa não atende ao plano de saúde dele. Nessas horas é tão frustrante não entender lhufas do corpo humano.

terça-feira, outubro 29, 2013

O que faço com a minha preocupação?

No banho, ao som de Jorge Drexler, pensei novamente que isso de escrever e viver do que acredito pode não ser para mim. Talvez eu seja um cara típico que trabalha oito horas por dia e volta para casa, assiste a um filme, janta com alguém, conversa bobagens até dormir e no dia seguinte faz tudo de novo, para que no fim de semana uma ida ao parque ganhe sentido. Por que abandonar tudo, por que deixar de lado tantas coisas que já estão bem encaixadinhas, tão funcionais? Por que procurar problemas?

"Amar la trama más que el desenlace", me sugere Drexler. É um bom conselho. Não importa se vai dar certo ou não, nem sei o que significa dar certo. É um sonho de vida feliz, não um projeto de ciências. Como se mede uma vida que deu certo? Pelos arrependimentos, pelas conquistas? Na minha lista de coisas que já me fizeram chorar, a maioria dos itens são ações que deixei de fazer, geralmente por medo. Certa vez numa virada de ano deixei de dançar porque alguém poderia me estranhar pulando sozinho no meio da sala. "Quem vai te julgar?", perguntou uma amiga, mas saber a resposta não ajudou. A preocupação não foi embora só por ser ilógica.

A pergunta ressoa: "quem vai te julgar?".
A resposta, parece, é sempre a mesma: ninguém, só eu.
Essa é, infelizmente, a opinião que machuca mais.

Minha meta para novembro

Por que é tão difícil manter um ritmo? Tenho escrito aqui para a Raposa diariamente, mas a qualidade dos textos caiu significativamente. Isso tem a ver com publicar direto. Ainda assim, não explica por que eu tenho tanta dificuldade em escrever literatura habitualmente. São tantas distrações.

Já que todo mundo está falando sobre o nanowrimo, projeto de escrita ao redor do mundo no qual os escritores se propõem a escrever um livro de 50 mil palavras em um mês, vou fazer algo semelhante a partir de 1º de novembro. Essas 50 mil palavras significam cerca de 1667 palavras por dia, mas não tenho fôlego para isso. O romance no qual tenho trabalhado está sofrendo com 12 mil e isso já há tempos.

Escrever é como fazer exercício, então a partir de 1º de novembro começarei a preparação para o ano que vem. Minha meta serão 500 palavras diárias. Pouco, eu sei, mas a proposta ainda não é escrever rios, apenas ganhar fôlego e condicionamento para escrever todos os dias. Será que consigo?

Regra básica: blog não conta.
São 500 palavras de material literário, seja novo ou a continuação de algo em andamento.

Dificuldades que antevejo no caminho: é difícil pra caramba superar as distrações e alcançar esse tipo de meta. Bem, treinamentos são para isso...

segunda-feira, outubro 28, 2013

Peripécias imobiliárias

Estou ajudando meu namorado a procurar um apartamento próximo ao trabalho dele. Onde ele mora corre o nada lindo risco de ser assassinado cada vez que volta para casa, já que é um bairro perigoso e o horário de serviço não ajuda em nada. Aí encontramos um lindo e a amiga que mudaria com ele desistiu. O colega de trabalho disse que topava e depois desistiu. Agora a família resolveu ir junto na aventura... e talvez o apartamento já esteja sendo alugado por outro sujeito.

Resumo da ópera: procurar apartamento é um inferno.

domingo, outubro 27, 2013

Domingo

Eu não quero escrever nada hoje, mas me prometi escrever diariamente na Raposa. Que fique o registro para o meu novo projeto: não escrever todos os dias. Duas vezes na semana, talvez, para textos bons, planejados, relativamente longos e bem estruturados. OK?

sábado, outubro 26, 2013

Pensamentos matutinos

Hoje sonhei que conversava com uma amiga sobre um doutorado para daqui um ano, algo como Estudos Internacionais. Achei engraçado não só porque já desisti de doutorado por ora, como também porque o tal curso seria em Porto Alegre, na UFRGS. Claro, eu consigo reconhecer com relativa facilidade os elementos que criaram essa ficção na minha cabeça (a começar pelo congresso da ABEH), mas não deixa de ser engraçado a ideia de fazer doutorado ainda não ter sido eliminada dos meus pensamentos.

* * *

Acordei sentindo cheiro de queimado. Logo eu, que quase não tenho olfato. Verifiquei tudo, meu computador, o ventilador ligado, a cozinha. Depois de um tempo, descobri que fizeram uma fogueira (pequena, mas fumegante) quase na frente do meu prédio e minhas duas janelas estavam sendo atacadas pela fumaça. Da mesma maneira como quando vi um sujeito caminhando pelos telhados, fiquei sem saber o que fazer. Ligo para os bombeiros, apago o fogo com um jarro de água ou espero a vida acontecer e alguém apagá-lo por mim? Deixei a terceira opção acontecer (não a considero propriamente uma escolha), mas fica aquele gostinho de impotência frente à vida.

* * *

Acho que quando meu novo projeto de blog começar, continuarei também alimentando a Raposa Antropomórfica. Estou pensando esse projeto como algo profissional, para efetivamente atrair leitores em torno de um tema em comum. Isso não significa que eu esteja pronto para abrir mão do espaço no qual escrevo sobre todas as outras coisas da vida.

sexta-feira, outubro 25, 2013

Post mil

Depois de sete anos, eis a milésima postagem da Raposa Antropomórfica. Dia 30 de outubro é o aniversário desta Raposa que tem me acompanhado desde 2006.


Não está fácil escrever todos os dias, muito menos agora que comecei a planejar minha mudança para São Paulo e entrei em ritmo de despedida de Goiânia. Como se não fosse suficiente tudo isso, decidi que a Raposa Antropomórfica será interrompida – não fechada, apenas descontinuada por tempo indeterminado – enquanto me dedico a um novo projeto (ainda sem nome).

Nesses sete anos consegui 40 mil visualizações. Em média, 15 visitas por dia neste período. Claro, no início era sempre menos que isso, no último ano sempre mais. Minha intenção é alcançar a mesma marca em até seis meses com o novo projeto. A nova Raposa, que entrará no ar em janeiro, será dedicada, profissional, direcionada. Eu pretendia escrever diariamente, mas estou percebendo que talvez não seja a melhor ideia para o começo. O jeito será focar num conteúdo de qualidade e em tempo para revisão / edição.

Desculpem, amigos da raposa, estou colocando aqui apenas algumas ideias para organizar meus pensamentos e meu futuro. Conforme as novidades forem aparecendo, vou compartilhando.

quarta-feira, outubro 23, 2013

A raposa e a coruja

Uma das razões para 2013 ser um ano no qual tenho sido muito feliz está no relacionamento que tenho com meu namorado, de longe o mais maduro que já vivenciei. Nós compartilhamos nossas ideias e anseios, conversamos sobre tudo e passamos muito tempo juntos, seja dormindo aqui em casa, seja passeando sozinhos ou entre amigos. Se há uma palavra para definir o que vivemos, é amor.


É justamente por termos uma relação construída na base de confiança mútua e desejo pela felicidade do outro que São Paulo é uma armadilha maldosa para nós dois. Ele sabe a importância que esse passo tem para mim e compreende que minha partida implicará em eu alcançar uma felicidade ainda maior do que temos hoje. Sim, eu estou sendo egoísta nisso e é uma droga admitir que meu sonho de futuro não tem espaço para os abraços e beijos que fizeram esse ano tão melhor do que poderia ser. É uma trajetória que preciso trilhar sozinho, do contrário não conseguirei me tornar a pessoa que preciso. Eu realmente acredito nisso. Eu, eu, eu.

A nossa relação vai mudar, não seremos mais um do outro, não dormiremos juntos quase todas as noites (talvez mais nenhuma), não viveremos nossos dias de mãos dadas ou com medo de dar as mãos porque algum louco gritou com a gente. Temos pela frente muitas noites regadas a lágrimas e memórias felizes convertidas em saudade. Saber que o carinho, a confiança e o desejo pela felicidade não mudarão de nada adianta frente à vontade grande de continuar dono, de continuar pertencendo.

Eu sei que é amor porque, apesar de todas os desejos contrários, estou livre para perseguir meus sonhos. Uma união improvável, raposa com coruja, mas prova viva de que é possível dividir tempo e carinho com outro alguém e ser e fazer feliz enquanto juntos. Mais do que isso, na verdade, porque a coruja todos os dias tem me dado sempre mais motivos para sorrir enquanto construímos juntos novas memórias.

terça-feira, outubro 22, 2013

Projeto 2014

Em 2014 a Raposa estará de casa nova. Mudar-me-ei para São Paulo em busca de cursos, eventos e pessoas envolvidas na área da literatura e da publicação. Da mesma forma que vim para Goiânia com um objetivo específico, fazer um mestrado (para me tornar educador), agora viajarei para São Paulo para melhorar minha escrita e torná-la minha ocupação profissional.

Essa não será, na prática, a única mudança em minha vida. No que diz respeito à Raposa Antropomórfica, tenho planos para interrompê-la. Por sete anos este foi o espaço no qual dedilhei sobre a vida, meus desejos e, principalmente, anseios. Contudo, o blog nunca foi desenhado para alcançar muitas pessoas, por mais que eu tenha buscado incluir uma página no Facebook e postagens "mais comerciais". Se eu quero tornar-me conhecido pelo que escrevo, porém, preciso de um planejamento estratégico mais organizado.


A Raposa Antropomórfica não vai desaparecer. Ela continuará aqui e talvez seja atualizada de tempos em tempos, ainda não decidi quanto a isso. Na verdade ela ganhará uma irmã num endereço que ainda não decidi. A proposta que começarei a desenvolver a partir de janeiro de 2014 envolve acompanhar a vida de um escritor em busca de espaço no mercado editorial. No meu caso, de uma raposa escritora. Ainda não consegui encontrar um nome adequado, mas o domínio será .com ou .blog.br, um dos dois.

Adoraria sugestões de lugares para um escritor visitar em São Paulo, coisas para fazer, livros para ler, blogs para acompanhar, nomes para a nova Raposa (especialmente isso!) [estou resistindo a não ter "raposa" no nome, mas é uma possibilidade], enfim, qualquer coisa que possa tornar 2014 um ano ainda melhor do que já desejo que ele seja.

segunda-feira, outubro 21, 2013

Nosso medo de mudanças

Minha amiga sugeriu que eu propusesse uma palestra para a USP. Na hora acionei as luzes e sirenes de emergência: não, que isso, como assim, não é fácil, não é pra mim, eles são ocupados. Dois segundos depois, pensei: eu não faço ideia de como organizar ou sugerir uma palestra, então por que estou tão convencido de que é difícil, impossível, de outro mundo? Será que sem nem perceber eu entrei para a turma do deixa disso?

Como os amigos da raposa sabem (esse tem sido um tema recorrente aqui), eu estou prestes a mudar de vida. Parte dessa mudança inclui ficar um tempo sem trabalhar, ao menos enquanto busco alternativas ao modelo clássico de trabalho, o qual não me agrada nem um pouco. Já ouço as vozes se erguendo: "mas não agrada a ninguém, por que pra ti teria que ser diferente? Deixa disso...".

A impressão que tenho é que a maior parte das coisas que fazemos são uma simples repetição de fórmulas anteriores, sejam elas boas ou não. O trabalho convencional, o planejamento de futuro certinho, o relacionamento monogâmico, tudo isso são fórmulas que por comodidade vamos reproduzindo. Talvez isso faça sentido se elas não nos incomodam, mas eu estou profundamente indignado com inúmeras delas. Ainda assim, meu plano inicial, que era um ano sem trabalhar, já está reduzido a dois meses. Esse é o tempo máximo que acredito que conseguirei ficar sem nenhuma forma de trabalho formal. Alguém poderia argumentar que estou sendo lógico, precavido ou algo assim.

A realidade é diferente. O que eu estou sendo é convencional e medroso.

domingo, outubro 20, 2013

Uma mudança se aproxima

Começou aquela sensação estranha de ansiedade e despedida. Meu tempo em Goiânia está se esgotando. Percebi isso sexta-feira à noite, quando saí com meu namorado e dois bons amigos. Percebi também no dia anterior, quando saí apenas com dois amigos. Ou ainda no dia seguinte, quando encontrei um punhado de gente que admiro e de cujas vidas me orgulho de participar.


Eu tenho uma boa vida aqui em Goiânia. Quando falo em ir embora, não penso nisso com raiva, decepção nem nada de ruim parecido. Quase tudo que vivi ou vivo aqui me enche de sorrisos. Conto nos dedos as experiências ruins, que ao menos servem como coisas a serem evitadas no futuro.

Vindo de Porto Alegre para Goiânia aprendi que as pessoas especiais que fazem parte da minha vida não desaparecerão. Eu tinha medo disso, hoje não tenho mais. A parte superficial dos relacionamentos pode mudar: a frequência das conversas e dos abraços, por exemplo. O que não muda, como meus melhores amigos podem atestar, é o carinho e o cuidado pelas pessoas que amamos. Eu sei que as pessoas maravilhosas que conheci em Goiânia não deixarão de participar dos meus dias, da mesma forma que ainda hoje Porto Alegre vive comigo. Saber disso me deixa mais confortável rumo a essa nova etapa da vida.

O amor que a gente sente não desaparece na distância. Ainda bem.

sábado, outubro 19, 2013

Não nasci para a vida prática

Nesta semana aprendi que nos correios é melhor enviar um pacotão de 4kg do que quatro pacotinhos de 1kg cada. Essa experiência, por mais boba que seja, revela algo muito importante sobre a minha vida cotidiana: eu não tenho senso prático. Não tenho! Se me pedirem para imaginar uma história ou pensar em possibilidades de desenvolvimento de alguma ideia, super tranquilo, ajudo, produzo, vou longe. Se me pedirem para inventar um prato na cozinha ou resolver alguma questão burocrática, eu travo.

Eu já sei disso sobre mim mesmo há muitos anos, razão pela qual me cerco de pessoas com senso prático mais apurado do que o meu. Afinal, amigos não são apenas para nos incentivar, eles também podem servir de apoio intelectual e completar as nossas fragilidades.

De vez em quando, porém, eu fico com receio de perguntar e parecer um menino ingênuo que não sabe nada sobre a vida. Porque a verdade é que eu sou assim, mas tenho vergonha de admitir. Eu não sei transitar nesse mundo real, sei apenas imaginar e sonhar.

sexta-feira, outubro 18, 2013

Conhecendo a família do meu namorado

Quando percebi, estava numa sala sendo convidado para almoçar pela avó, madrinha, mãe da madrinha, prima e vizinha do meu namorado. "Esse é o Tales", disse a madrinha para o resto da mulherada. "O namorado". Achei que o mundo ia congelar, explodir ou algo assim. Jurei que naquele momento alguém ia derrubar um prato, chorar copiosamente ou me olhar atravessado.

Só que nada disso aconteceu. Eu e o digníssimo sentamos à mesa, fizemos uma refeição bem gostosinha e respondemos a perguntas típicas sobre quanto tempo estamos juntos e tal. Foi tudo normal.

Fiquei todo esperando que alguém chiasse, falasse mal da gente, dissesse que deus não aceita etc. Nada. Nem um pio. Não é só a minha família que é maravilhosa. Há esperança no mundo, gente!

quinta-feira, outubro 17, 2013

Algumas coisas fora do meu alcance

O que acontece quando nossos limites (sobre os quais falei para superarmos) não são apenas nossos, mas sim impostos por outras pessoas e instituições? O que fazer quando nossas fragilidades são mais do que falta de coragem? Como lidar caso haja dificuldades que vão além do individual? Dráuzio Varella estabelece uma relação entre inteligência e indigência, por exemplo.

Eu não sei o que pensar sobre isso. Sempre foi muito confortável acreditar que basta disposição individual para superarmos os desafios, mas a verdade é que eu escrevo de uma posição extremamente privilegiada. Talvez outras pessoas gostariam de estar em meu lugar, mas não podem por motivos de tempo, acesso ou mesmo fatiga. Uma coisa é certa: nossa vida não depende apenas de nossas escolhas.

A questão é: o que fazemos a respeito?
Eu sou professor e cada vez mais tenho a certeza de que isso não é o suficiente para realmente alcançar os estudantes e lhes oferecer algo valioso. Ou talvez eu esteja novamente querendo chegar a todos ao mesmo tempo, me concentrando nas ovelhas negras desinteressadas e ignorando as pessoas que realmente podem aprender algo do contato comigo. Ou talvez eu esteja superestimando a minha participação nas vivências alheias.

Aceito sugestões, porque sozinho anda difícil de pensar sobre isso...

quarta-feira, outubro 16, 2013

Os limites que nos colocamos

Eu faço natação há anos. Sempre foi um exercício que me enchia de motivação, que me cansava litros e que me deixava bem disposto por horas. De uns dias pra cá, porém, percebi que isso não estava acontecendo. Eu obviamente cheguei a um nível como nadador em que 45 minutos de natação já não me cansam mais.

Pausa para os risos.


A coisa mais fácil que existe é colocar a culpa pelas nossas facilidades ou dificuldades no resto do mundo. Hoje faltavam 10 minutos para encerrar a aula e a professora pediu que eu fizesse mais 18 piscinas (nesta academia, cada piscina são 25 metros). Como eu normalmente faço menos de uma piscina por minuto, precisaria acelerar um bocado. Fiz as seis primeiras até bem rápido, embora já na segunda eu estivesse completamente sem fôlego. Consegui apenas doze nos dez minutos. Nesse momento lembrei de algo que li sobre a natação enquanto exercício: quem faz a dificuldade somos nós. O exercício só será produtivo para mais do que recreação se desafiarmos nossos limites, se chegarmos àquele ponto no qual estamos confortáveis fazendo algo e forçarmos um pouquinho além.

Enquanto nadava com o máximo da velocidade que conseguia alcançar, percebi que nas últimas semanas tenho feito uma média de 40 piscinas por aula de 45 minutos. O problema não é o tempo ou o tipo de exercício. O problema é o limite que estabeleci para mim, um limite de velocidade e esforço que torna esses 45 minutos mais suportáveis e menos desafiadores. Fazendo 40 piscinas por aula posso chegar em casa depois, inflar o peito e dizer "eu faço natação três vezes por semana, estou me exercitando".

Quando a gente se contenta com a mediocridade e em ficar dentro da nossa zona de conforto, é muito fácil dizer qualquer coisa e acreditar nisso. Difícil é desafiar nossos próprios limites sem colocar a culpa fora de nós.

terça-feira, outubro 15, 2013

Raposa vendedora

Comecei a vender meus livros usados (link aqui) e já reparo duas coisas curiosas e até então desconhecidas para mim. A primeira delas é o prazer de estar vendendo, anotando quem quer comprar o quê e organizando esse processo todo. É algo muito gostoso e não tem relação direta com a perspectiva de eu receber dinheiro por essas trocas. É o processo que está me encantando.

A segunda coisa curiosa é a liberdade que estou imaginando em minha estante. Quando separei os livros, eu deixei comigo vários sobre escrever, shiatsu e também meus famigerados livros eróticos. Eu gosto muito do que as pessoas pensam de mim quando percebem que tenho esses livros. Ou seja, meu tesão por eles não vem do fato de estarem recheados de pessoas nuas, mas de eu ser visto como alguém que tem livros eróticos. Não me parece um bom motivo. Até o fim de semana passarei por eles novamente (são 77) e acrescentarei ao Bazar aqueles que eu optar por me desfazer.

Ai, essa vida de vendedor.

segunda-feira, outubro 14, 2013

Diminuindo o apego aos livros

Eu sou viciado em comprar livros. Não em lê-los, mas em comprá-los. Eu já sabia disso, mas confirmei ontem enquanto separava alguns livros para vender. Inicialmente separei 144 livros para serem colocados à venda. Tenho mais dois emprestados com uma amiga e eles também serão vendidos.

Eu achava que era um grande número, até hoje contar os livros com os quais decidi ficar. Foram 77 mais 4 dicionários. Ou seja, eu aceitei me livrar de dois terços dos meus livros e ainda assim sobraram inúmeros. Li agorinha uma citação que diz "a estante de livros de uma pessoa lhe dirá tudo o que precisa saber sobre essa pessoa". Acho verdade. Os livros que estão sobrando na minha estante dizem muito sobre mim.


Eu não preciso de tantos livros. A maioria deles está na minha vida porque um dia eu considerei que seriam lidos ou necessários. Nem todos eu li. A maioria nunca foi necessária. O que eles dizem de mim, além do óbvio vício de comprar livros, é que tenho medo de deixar as coisas partirem. Ser dono de tantos livros me fornece a sensação de que estarei seguro, de que terei ao que recorrer no dia em que precisar não importa para onde eu ir.

Porque não sabia aonde queria ir.
Hoje eu tenho uma ideia mais clara da vida que quero para mim e ela não inclui uma estante cheia de livros. Não porque eu não lerei mais, minhas visitas à biblioteca estadual provam o contrário, mas sim porque eu não acredito em ser dono de nada. Ser dono é uma ilusão, uma tentativa de controle sobre a vida e a vida não gosta de ser controlada.

Minha meta é chegar a 15 livros para carregar comigo. Parece um número razoável, suficiente para uma prateleira, não o bastante para que eu pague excesso de bagagem. Será uma escolha difícil, agora que estou reduzido a 77 livros separados entre eróticos, sobre escrever, sobre zen e sobre shiatsu. Quando eu decidir um critério para essa safra, volto a falar a respeito. Até porque agora preciso viver a experiência de vender 144 livros.

domingo, outubro 13, 2013

Limpar a casa é agir

Hoje eu e o meu namorado limpamos o meu apartamento. Preciso mesmo dizer o quanto estou me sentindo bem por isso? Acho que descobri o motivo pelo qual limpar minha casa faz com que eu fique tão aliviado: é porque estou fazendo algo pela minha vida.


Estou lendo o livro A arte da não conformidade, do Chris Guillebeau. Jogado na cama, fui absorvendo as ideias sobre como devemos agir para alcançar a vida que desejamos. A palavra central? Agir. Não adianta ficar imaginando e repetindo para nós mesmos que queremos algo. Podemos acreditar piamente que realmente estamos dispostos a buscar algo, mas isso é superconfortável enquanto estamos deitados no sofá. A realidade só nos morde quando chega a hora de fazer alguma coisa.

O problema, na maior parte das vezes, é que essa hora nunca chega. Desculpas para não agir existem aos montes. Jogos novos na internet, livros fantásticos para ler, sexo para animar o dia (e a noite e a madrugada...), filmes e seriados para assistir abraçado... Contudo, nosso tempo é limitado, por mais que não tenhamos noção do prazo de validade de cada um. Um dia, infelizmente, só tem vinte e quatro horas. Desperdiçá-las é uma escolha sem volta.

sábado, outubro 12, 2013

A mulher chorosa e o monge zen

Copiei a história do livro Pocket Zen, do Bruno Pacheco. A imagem foi encontrada na internet, já que eu queria um monge e uma velha. Uma pequena variação do copo meio cheio ou meio vazio, mas que vale muito considerarmos em nossas vidas.


Havia em uma aldeia uma velha mulher conhecida por todos como a "mulher chorosa". Esse apelido foi dado, pois todos os dias, com chuva ou com sol, ela estava sempre chorando. A "mulher chorosa" costumava vender bolinhos de arroz na rua. Todos os dias um monge passava por ela a caminho da aldeia onde ia pedir esmolas. Um dia, ele resolveu parar para conversar.
"Todos os dias, faça sol ou faça chuva, vejo a senhora chorando. Por que isso acontece?", perguntou o monge.
Então ela explicou que tinha dois filhos artesãos. Um confeccionava delicadas sandálias e o outro, guarda-chuvas.
"Quando faz sol, me sinto aflita porque ninguém vai comprar os guarda-chuvas de meu filho e sua família pode passar necessidades. E quando chove, penso no meu filho que faz sandálias e tenho pena porque ninguém vai comprá-las. E ele também poderá ter dificuldade para sustentar sua família", explicou a mulher chorosa.
O monge ficou pensando na história da mulher chorosa enquanto comia um bolinho de arroz. E achou graça.
"Mas a senhora deveria ver as coisas de outra forma. Quando o sol brilha, seu filho vai poder vender muitas sandálias, e isso é muito bom. Ele poderá guardar dinheiro para os dias de chuva. E, quando chover, seu filho que faz guarda-chuvas venderá muitos guarda-chuvas, e isso é também muito bom", disse o monge.
A velha olhou para o monge com um sorriso nos lábios. E, desde esse dia, passou sorrindo todos os dias da vida, chovendo ou fazendo sol. Depois de algum tempo, ninguém a chamava mais de "a mulher chorosa".

sexta-feira, outubro 11, 2013

Deixando o homossexualismo (aff)

Na minha visita semanal à biblioteca estadual encontrei um livro maligno. Eu sempre disse aos quatro ventos que livro não é algo que a gente deva queimar, mas minha primeira vontade foi a de levar o danado até a bibliotecária e perguntar como eles têm coragem de expor aquele material nojento num lugar acessível a crianças e adolescentes.


Eu não sei no que acreditar. É muito, muito difícil respeitar a crença de quem defende que eu não deveria existir. Talvez seja assim que machistas homofóbicos psicopatas se sentem quando leem blogs como o da Lola. Nem posso dizer que minha crença é melhor do que a deles só porque não quero que eles morram lenta e dolorosamente (não sempre, ao menos).

A verdade é que busco um jeito para a minha forma de ver o mundo ser hegemônica. A verdade é que estar vivo em sociedade é sempre uma guerra em busca de definir qual ponto de vista predominará e quais serão extintos pelo caminho. Que vivências serão consideradas normais, que experiências serão julgadas como más ou inumanas. Por eu não haver nascido há mil anos, acho que matar para alcançar os meus fins e preservar meus afetos não é uma possibilidade cogitável. O que realmente me incomoda é que meus algozes não jogam pelas mesmas regras.

O reino do dragão de ouro

Quando vou à biblioteca estadual, procuro livros baseado em nomes conhecidos, títulos chamativos ou capas lindas. De cara isso já me sussurra algo para meu futuro como escritor: enquanto eu não for mundialmente famoso, seria inteligente pensar melhor meus títulos e em quem se responsabilizará pelas capas dos meus livros.


Não sei quando nem onde ouvi falar em Isabel Allende, mas passei meses namorando seus livros em nossos breves encontros entre prateleiras. Sempre que ia à biblioteca, lembrava dela, mas acabava não cruzando com nenhum livro seu e deixava para depois. Meu método de seleção é pouco lógico, simplesmente vou caminhando pelos corredores e deixando que eles me mostrem o que quiserem. É uma disputa injusta para com os livros mal diagramados, verdade.

A aventura de O reino do dragão de ouro é a segunda parte de uma trilogia, mas a história foi bem amarrada e não senti falta da primeira. Lendo este livro, fiquei por dentro dos principais acontecimentos do anterior, mas não necessariamente sem as possíveis surpresas que encontraria lendo-o. Por falar em surpresas, o estilo da Isabel Allende é um convite à aventura. Não se trata de um texto poético ou reflexivo, mas sim de uma história gostosa de imaginar. Os personagens não são particularmente profundos, o que oferece certa consistência do início ao fim, especialmente depois que reconhecemos os padrões. Todos os desafios enfrentados são externos, ou seja, os conflitos não precisam ser resolvidos em termos de motivações e moral, mas sim de astúcia, magia e habilidade.

Mesmo sem haver terminado a leitura de Para ler como um escritor (ainda lerei, prometo), venho lendo meus livros com esse olhar. Procuro formas de descrever personagens, cenários, ações etc. Metáforas. Ideias para personagens. Com a Isabel Allende pude perceber exemplo de algo que já havia lido a respeito: em alguns diálogos há personagens que simplesmente não falariam certas coisas. Uma das protagonistas é brasileira e tem quase treze anos, mas discursa lindamente em inglês. Outro protagonista, com uns quinze ou dezesseis, é quase um doutor no jeito com que expõe suas ideias. Isso me incomodou. Não o bastante para que eu largasse o livro, mas o suficiente para fazer um rasgo no universo fantástico tecido pela autora.

Também observei, além dos diálogos, o modo como a autora prende nossa atenção enquanto descreve acontecimentos. É tudo ação. Mesmo quando as descrições estão sendo feitas, elas surgem em meio a movimento e mudança. Isso confere ritmo à narrativa. Ao final das 305 páginas do livro, senti como se não tivesse lido mais do que 120. A história fluiu e não mais do que duas ou três vezes eu considerei pular parágrafos. Excelente!

quinta-feira, outubro 10, 2013

Travesti de barba

Li a notícia "Travesti com barba é escolhido para representar a Áustria em festival" e pensei "nossa, que legal". Nem todo mundo pensou a mesma coisa, parece que teve gente chocada. Um amigo ficou indignado perguntando por que ele (!) não pode querer ser mulher (!!) e ponto (!!!).


Por que a cantora Conchita Wurst virou notícia? Simples: porque nós somos muito pouco criativos e temos a mania de dividir nossos conceitos em dois polos. Usamos um pensamento binário. Nem é tanto culpa nossa, somos ensinados assim desde criancinhas. Ou algo é bom ou é mau, ou é alto ou é baixo, ou é homem ou é mulher, e assim por diante.

O problema disso é que dois não é suficiente. Mesmo biologicamente os critérios que definem o que é homem e o que é mulher são pouco claros, quando analisados detidamente. Se existem inúmeras variações para as possibilidades que a vida humana alcança, por que deveríamos nos contentar com um tipo de pensamento tão excludente? Tudo bem, talvez a maioria da população possa ser encaixada nessas duas caixinhas, "homem" ou "mulher". Mas sério que a gente ainda não superou esse pensamento tosco "ah, é a maioria, então o resto a gente caça e elimina"? Isso é tão Idade Média!

Além de separar o mundo em masculino e feminino, nosso pensamento binário tem outra consequência: ele dita como devemos ser. Se somos homens, seremos fortes, barbudos e pegadores. Se somos mulheres, seremos dóceis, frágeis e receptoras do supremo pênis. Essas características não vêm com a gente junto ao órgão genital, elas são ensinadas e reforçadas pela cultura diariamente. Na escola meninos jogam futebol e meninas caminham ao redor da quadra, por exemplo. Isso para não mencionar como os pais, amigos e conhecidos esperam coisas diferentes de homens e de mulheres. Ser um homem, nesse sistema cultural, significa pisar nos outros. Ser mulher geralmente envolve ser pisada.

Daí aparece alguém que desafia essa matriz de conhecimento binário. Por exemplo, um corpo macho que se mostra feminino, mas mantém a barba. Ou seja, fica, de certa forma, "no meio". As pessoas gritam "decida-se", mas o que há para decidir? Quando foi que, ao nascermos, assinamos um contrato dizendo que só poderíamos ser uma coisa ou outra? Que para ser uma coisa temos que levar junto o pacote inteiro e não apenas aquilo que nos interessa? Se o desejo, como já sabemos, é fluido (não é por nada que por enquanto minha amiga é árvore) e não responde a essas nossas limitações, por que a nossa identidade de gênero deveria?

Quando nós apontamos o dedo para a "travesti de barba", nós não estamos mostrando o quanto ela está certa ou errada, mas sim dizendo ao mundo se nós conseguimos ou não conviver com alguém que pode ser diferente de nós. Daí eu pergunto: que sensibilidade é essa que se fere tão fácilmente ao ver uma mulher ou travesti de barba? O que há de tão importante em manter o mundo rapidamente legível? Por que nós não conseguimos lidar com a diferença e com a miríade de potencialidades do ser humano?

Não tenho respostas para essas perguntas, mas aposto que têm a ver com o nosso egoísmo. Nós queremos navegar em um mundo fácil, um mundo pronto, um mundo que não perturbe a maneira como já percebemos as coisas. É mais fácil termos uma noção única e pronta do que reavaliarmos nossas posições quando encontramos algo "diferente". É certamente mais fácil rejeitarmos aquilo que não entendemos do que termos que assumir o compromisso de abraçar a diferença e cultivar o carinho para com o outro. Receber o outro com um sorriso implica em colocarmos menos o nosso umbigo em evidência, algo que tenho certeza que é muito difícil.

quarta-feira, outubro 09, 2013

Um comentário rápido

Desde o início do mês a média de visitas (de acordo com o Blogger, não mais olho o Google Analytics porque a verdade dói) tem oscilado acima de 100 visitantes por dia. Isso é tão mais interessante e bacana do que os 20-30 usuais. Para o Analytics (é, eu tenho um lado meio masoquista), não houve mudança significativa, embora no dia 2 e ontem tenha havido picos de 77 e 111 visitas, respectivamente. Ainda para o Analytics, minha média diária de visitas (excluindo os picos eventuais) fica na faixa dos 15-25.

Duas possíveis explicações: estou publicando com mais frequência (tentando fazer desse exercício algo diário) e/ou meus textos estão melhores. Por ora apostarei na primeira opção. Ah, outra coisa que tenho feito é replicar minhas postagens da Raposa do Facebook no meu perfil pessoal. Desde sempre ele teve mais interação e alcance do que o meu perfil pessoal.

Se o ritmo continuar assim, acho que voltarei a pensar em investir tempo e cérebro no cultivo de público. Falta ainda eu conseguir engajar meus (ainda pouco) leitores a dialogar comigo através dos comentários, mas tudo bem, um passo de cada vez.

terça-feira, outubro 08, 2013

Alguns planos para o futuro

Eu tenho planos para uma grande mudança ano que vem, porém começo a sentir que eles não estão definidos o bastante. Tenho medo de me jogar na aventura e descobrir durante o caminho o que acontecerá. Iniciarei uma lista das coisas que busco para a minha vida.

Em primeiro lugar, quero conviver mais com escritores e artistas. Pessoas que vivem processos criativos artísticos podem compartilhar ideais e também servir de inspiração, seja pela inveja ou pelo companheirismo.

Quero continuar em contato com aprendizagens (livros, cursos) sobre escrever. É algo importante para mim e tenho visto o resultado de me aprimorar. A cada livro que devoro acabo aprendendo mais sobre estilo, técnica e também criatividade. Ler sobre as vivências de escritores também me dá uma certa noção acerca de como vivem pessoas que fazem ou fizeram da vida o que eu quero fazer da minha.

Preciso de pessoas críticas ao meu redor. Não pessoas que vão dizer coisas ruins para derrubar meu ânimo, até porque não me julgo forte o suficiente para resistir a esse tipo de pressão por agora. Quero pessoas que me ajudem a perceber minhas limitações e a lutar com elas, mas que não sejam condescendentes com meus defeitos ou equívocos.

Também necessito de gente que acredite em mim. Isso eu tenho, é verdade, mas não as encontro o suficiente. É algo a ser resolvido, já que uma boa dose de amizade e fé podem alimentar o espírito criativo mais do que imaginamos.

Desejo ser mais autêntico, egoísta, corajoso. Quero não ser tão influenciado pelas necessidades alheias. Eu tenho um propósito o qual não quero me desviar. Isso significará obrigatoriamente deixar algumas pessoas decepcionadas pelo caminho, mas me comprometo a tentar ser cada vez mais sincero, honesto e aberto. As pessoas saberão minhas intenções e seus limites, pois eu também saberei. Essa é a parte difícil.

Quero colocar em prática sistematicamente meu processo de criação. Não será fácil porque para isso precisarei liquidar todas as desculpas que normalmente me dou. Seria produtivo também desligar a internet.

Essas são as primeiras coisas que me vieram à cabeça. Ainda voltarei a essa lista várias vezes antes e depois de efetuar a mudança. Por agora eu só precisava organizar as primeiras reflexões. Obrigado pela atenção, se leu até aqui!

segunda-feira, outubro 07, 2013

O amor não serve para nada

Li hoje uma notícia/entrevista sobre um sujeito que só come carne crua há cinco anos. Ele tem uma namorada vegetariana. Um amigo, ao me enviar esse link, comentou como o amor é algo interessante, em muitos casos contraproducente. Afinal, como uma vegetariana namoraria um carnívoro? A minha resposta é simples: ora, o amor não serve para nada.


Calma, eu explico. Acho o amor uma coisa muito fofa e cuticuti, mas tenho a impressão de que a minha abordagem é bem pouco romântica. Amar, pra mim, e já falei isso antes várias vezes (aqui e aqui, por exemplo), é querer e tratar bem, cuidar, dar atenção e carinho, se preocupar. Não tem nada a ver com procurar no resto do mundo alguém que reflita os nossos ideais. Talvez eu até seja um pouco romântico, veja só, porque acho que a gente ama por amar, não para alcançar alguma coisa. No caso da moça vegetariana, qual é o problema, exatamente, em ela namorar um cara que tem a geladeira recheada de carne crua?

Eu não amo todo mundo. Tenho a impressão de que só os sujeitos mais evoluídos espiritualmente conseguem essa proeza que, para ser bem sincero, seria muito útil à nossa existência coletiva. Um mundo em que as pessoas se preocupassem e cuidassem uns dos outros certamente seria um mundo melhor. Ou menos cretino, ao menos. Acho que o título deste texto está errado, afinal. O amor serviria para alguma coisa se fosse universal. Pena que é um enorme se.

domingo, outubro 06, 2013

O que nos impede de agir?

Uma amiga quer transar com um cara, mas não teve coragem de dizer isso a ele. Ela não quer nada além de uma boa trepada com o sujeito, mas se pegou com medo do que ele poderia pensar dela, já que normalmente mulheres não tomam a iniciativa nem assumem que gostam de sexo. Sabemos que essa ideia de que mulheres não tomam iniciativa ou não gostam de sexo é fajuta. Não há nada dado no "ser mulher" que inclua frigidez ou falta de iniciativa. O que nós temos é uma complexa rede cultural ensinando os meninos a desde pequenos pegarem todas e as meninas a ficarem quietas para serem usadas. Como a gente muda isso? Através da educação, da família, das instituições sociais e... da ação. Absolutamente nada funciona como um exemplo mais poderoso do que a ação.

Minha amiga é feminista e tem interesse em lutar pelos direitos das mulheres e contra as opressões de gênero. Mesmo assim, se sente acanhada para agir em nome daquilo que acredita. Ela não é a única. Goethe já nos alertava:
Pensar é fácil, agir é difícil. E colocar nossos pensamentos em ação é a coisa mais difícil do mundo.
Quando fazemos algo que contraria as expectativas ou tradições (o machismo e a heteronormatividade infelizmente funcionam como tradições), podemos esperar algum tipo de reação. Afinal de contas, nós estamos afetando diretamente o modo como outras pessoas enxergam o mundo. Estamos lhes dizendo "não é assim que funciona". Isso dói e a tendência é tentar algo para interromper essa dor. Num mundo ideal, as pessoas assimilariam que seu modo de ver e viver é cruel e machuca outras pessoas e mudariam. Na vida real, as reações costumam ser mais violentas e opressivas.


Refletindo sobre isso, vejo que temos dois impedimentos básicos frente à ação "subversiva". A primeira delas acabei de mencionar, ou seja, a possibilidade de reação alheia. As outras pessoas provavelmente buscarão interferir no jeito que você deseja viver, essa é quase uma certeza da vida. São os guardiões das tradições ou dos próprios privilégios.

A segunda delas é mais complicada: precisamos estar abertos a nossas próprias resistências e limitações. Recusar preconceitos pode implicar deixar de rir em algumas situações que sempre pareceram engraçadas. Lutar contra a tortura de animais pode significar a necessidade de se reeducar e encontrar formas alternativas para se alimentar sem carne. Compreender o próximo pode requisitar que façamos uma releitura de nossas crenças mais profundas.

Em ambos os casos precisamos juntar coragem e, se possível, aliados, para que não precisemos lutar sozinhos. Infelizmente todo convite à mudança é uma luta, primeiro contra nós mesmos, depois contra o restante do mundo, mesmo quando aquilo pelo que lutamos é a paz ou a igualdade. Talvez principalmente nesse caso, aliás.

sábado, outubro 05, 2013

Fazer a coisa certa

Assisti aos primeiros episódios de Breaking Bad, um seriado sobre um professor de química diagnosticado com câncer de pulmão que acaba se tornando um traficante de drogas. Como muita gente estava falando a respeito, resolvi conferir.


O seriado gira em torno dos limites morais que estabelecemos para nosso convívio social e o que nos motiva a ultrapassá-los. De antemão já podemos supor que o professor bonzinho e medroso que se cala frente a tudo passará por alguma transformação. Ele tem um dado conhecimento e é capaz de, com os movimentos adequados, transformá-lo em poder.

Viver em sociedade normalmente implica seguirmos regras e abdicarmos de algumas possibilidades em nome do bem comum. Por exemplo, concordamos em não matar, não roubar, não agredir ou ofender (embora estes últimos sejam mais frequentes e recebam reações mais condescendentes que os dois primeiros). Ainda assim, há pessoas que matam, roubam, agridem e ofendem.

Eu fui criado para ser a pessoa que faz a coisa certa, que cuida dos outros, que defende os direitos e principalmente os deveres de todos. Se todos fôssemos criados como eu, provavelmente o mundo seria um lugar menos perigoso para se habitar. Seria muito menos interessante e diversificado, com certeza.  Só que, no fim das contas, não é exatamente isso que a gente está sempre fazendo? Tentando garantir que o nosso entorno seja mais parecido conosco? Atuando em nossas relações com nossos pequenos (e às vezes não tão pequenos) poderes em direção ao que acreditamos que é certo? Eu não vejo diferença, estritamente falando, entre um deputado fanático religioso homofóbico e uma ativista ecológica humanitária que se opõe a todo tipo de violência e exclusão. Ambos estão lutando para fazer a coisa certa.

Se alguma coisa, acho que podemos tirar disso a prova de que não existe essa tal de coisa certa. O que existe é aquilo que acreditamos confrontado pelo que os outros acreditam. Isso é o mundo.

sexta-feira, outubro 04, 2013

O que as pessoas leem

Quando estava lendo Paulo Coelho, tomei um grande cuidado para não sair à rua com o livro exposto. E se alguém me reconhecesse e observasse o que eu estava lendo? Vai que alguém não me conhecesse e desistisse de me oferecer um milhão de dólares porque pensou mal de mim? Eu já disse, gostei de O Alquimista, mas esse é um segredo só nosso.

Brincadeiras à parte, enquanto voltava da biblioteca com o livro O reino do dragão de ouro, da Isabel Allende, fiquei pensando no que aquilo que nós portamos diz ao mundo sobre nós. Se eu vejo alguém lendo Dan Brown, possivelmente terei uma impressão diferente e menos interessada do que se encontrar uma pessoa devorando um livro do Neil Gaiman. Numa cidade do interior aqui de Goiás vi dois caras discutindo fervorosamente. Olhei para a mesinha e reparei um tomo gigantesco do Lacan. Preciso dizer que os sujeitos ganharam pontos positivos na minha tabelinha do preconceito?


Depois de escrever isso tudo, acho que muita gente usaria aquele discurso "é necessário cuidar das nossas aparências e das mensagens que passamos aos outros". Sim, isso pode ser verdade. Certamente é o que eu digo para os meus alunos na sala de aula, afinal serão profissionais da Comunicação. Daí a eu achar que a opinião alheia deveria ser uma preocupação constante nossa já é outra história.

Para mim interessa principalmente lembrar, da próxima vez que eu ver alguém com um livro, que a pessoa pode ter milhões de motivos para estar com ele. Se ela já está com um livro aberto nas mãos, provavelmente já é um ponto positivo a ser considerado, seja esse livro qual for (há uma exceção que ainda não venci o preconceito, mas é questão de tempo, prometo!). Portanto, fica a dica: julgar uma pessoa pela capa (do livro que ela está lendo) não revela nada sobre a pessoa ou sua história, apenas sobre nossos próprios preconceitos.

Em tempo: escrever sobre isso me lembrou o projeto de um amigo, o Common People Reading (pessoas comuns lendo). Foi de lá que roubei a foto.

Ciúme não é prova de amor

Quero começar deixando claro que não acredito que namorar com alguém signifique ser dono desse alguém. É uma ideia simples, mas acho que muita gente vai discordar. Por esses tempos namorei com um angry bird que achava um ultraje as pessoas me olharem na rua, como se estivessem trespassando alguma área privada. Eu mesmo já me peguei enfurecido de pensar em algum digníssimo conversando com outros sujeitos. Só depois de muitas fúrias aleatórias é que pensei sobre o motivo disso.

Sempre achei que ciúme fosse prova de amor. Afinal de contas, se tu ama alguém, quer que essa pessoa esteja contigo para sempre, não é mesmo? Não, não é. A não ser que eu esteja entendendo errado essa coisa toda do amor, amar não significa querer estar sempre do lado grudado sem deixar respirar. O nome disso é egoísmo, dependência, posse, ou várias outras coisas, mas não amor.

Amar, da forma que entendo, é querer bem, se preocupar, dar carinho, oferecer ombro, sorrir pelas conquistas, torcer pela felicidade. Não é a toa que ter amor próprio significa fazer tudo isso em relação a si mesmo. Amar não é ver a pessoa realizar aquilo que imaginamos para ela. Amar não é algo eterno, pode mudar de uma hora para outra (as pessoas mudam!). Amar não é justificativa para loucuras (o nome disso é loucura, veja só).


Então o que é o tal do ciúme? Ciúme é um exercício do nosso ego, nossa tentativa (frustrada) de controlar o mundo, geralmente a partir de alguém que a gente ama ou acha que ama. Quando a gente diz "ele é meu namorado", o meu ganha mais importância que tudo e pensamos que podemos controlar como a pessoa respira, para onde olha, o que sente e o que faz. Isso é um problema, especialmente porque no geral as pessoas que namoram firmam um acordo baseado em poucas coisas explícitas. Por exemplo, quase todo namoro é monogâmico, ou seja, uma relação que não envolve sexo com outras pessoas. Por outro lado, quase ninguém define comportamentos relacionados a flertes, conversas com exs e saídas com os amigos.

Uma hora ou outra, porém, o mundo imaginário do namoro perfeito que idealizamos bate de frente com a realidade e a pessoa sofre porque a imaginação era melhor do que a verdade. É nessa hora que nasce o ciúme. Em resumo, o ciúme é o nosso mimimi por o mundo (e as outras pessoas) não serem exatamente como nós queríamos. Se for criança, chamamos de mimada. Se for namoro, dizemos que é ciúme.

Quando a gente sente ciúme, o problema não está na outra pessoa, mas sim em nós e em nossas expectativas. É o nosso mundo que está a perigo, a nossa visão da vida que está sendo ameaçada pela força mordaz da verdade. É possível escaparmos do ciúme? Não sei. Podemos nos libertar das nossas expectativas? Por essas e outras acho que nem todo mundo pode namorar e que devemos pensar menos. Só abrindo mão de nós mesmos, me parece, é que somos capazes de verdadeiramente amar...

quinta-feira, outubro 03, 2013

Pare de pensar tanto

Em dezembro de 2005 conheci um moço que se interessou por mim. Até então eu era não apenas virgem bobinho, mas também completamente alheio ao mundo e sem esperanças de deixar de ser. Já antecipo que essa não foi uma história feliz por uma série enorme de motivos, mas só um deles me interessa aqui: eu não conseguia parar de pensar sobre como existir perto dele.

Provavelmente todos nós já vivemos algo parecido: chegamos a um lugar ou a uma situação a que não estamos familiarizados ou confortáveis e começamos a analisar todas as variáveis possíveis tentando decidir como agir. Será que vai dar certo? Será que vão gostar? Será que não vou fazer feio?

Eu não estava com medo por não saber o que queria. Pelo contrário, eu sabia exatamente o que buscava. Arrisco dizer que no geral a gente tem uma boa noção do que está procurando. O que me paralisava eram as infinitas possibilidades derivadas de cada momento em que eu estava próximo ao rapaz. O que teria feito a diferença naquele momento? Pensar menos.

"Saber e não fazer/agir é ainda não saber"

Eu estava preocupado com tantas coisas, com fazer direito, com dizer as palavras certas, com manifestar o olhar correto, com passar a mensagem exata, com me movimentar de forma interessante, com não o deixar perceber que eu estava com medo etc. Seria tão difícil ser eu mesmo? Naquele momento eu ainda não havia percebido que se a criatura não se interessasse por mim, elaborar mil planos e analisar zilhões de possibilidades dificilmente mudaria alguma coisa.

Ontem uma amiga pediu para que eu lhe falasse mais sobre o zen. Eu fiquei sem palavras. Pensando de novo, acho que foi a melhor resposta possível, já que o zen está relacionado à experiência direta da vida e não com reflexões e conceituações abstratas. Pensar demais no passado ou no futuro nos rouba o momento presente, impedindo a experiência direta. Quando agimos pensando principalmente nos resultados, é a experiência do momento que está sendo perdida.

Prometi a essa amiga que escreveria um texto sobre zen e passei algumas horas perdido olhando para a tela em branco. Eu estava considerando a melhor forma de escrever, sem perceber que o melhor jeito de colocar as palavras no papel é colocando. O saber não faz sentido sem o agir, algo que por sua vez só faz sentido dizer se eu estiver praticando. A mesma coisa vale para mim, que quero ser escritor. Sempre quis, nunca soube como, até que comecei a ser. A porta estava ali aberta para mim, então finalmente passei por ela. Não sei o que vem agora, não sei como agir, o que escrever, quem vai ler, não sei nada disso. Eu posso ficar pensando a respeito e decidindo tudo de antemão (já antecipo que tem um grande potencial de dar errado, não sou tão inteligente assim), ou posso seguir escrevendo.

Nada disso quer dizer que não devemos refletir sobre nossas vidas. Acho que se for pra resumir, podemos colocar assim: é tranquilo parar de vez em quando para pensar, mas não passar a vida pensando sem sair do lugar. Afinal, a vida é movimento.

quarta-feira, outubro 02, 2013

Pequeno manual de sexo

Meu amigo se define como passivo, mas anda com vontade de ser ativo (pelo menos entre os gays, ativo é aquele que, na relação sexual, penetra, enquanto o passivo é penetrado... uma nomenclatura péssima, mas sobre a qual não vou discutir hoje). Disse a ele que é muito fácil, basta ter um pênis duro e colocá-lo no anus alheio. A lógica é infalível. Ele argumentou que queria que fosse bom, não doesse e proporcionasse prazer. É nesse ponto em que a coisa começa a complicar.

Primeira regrinha para esse texto: sexo não é apenas penetração.
Vivemos num mundo que prioriza o pênis como principal fonte de prazer, o que muitas vezes leva as pessoas a pensarem que lésbicas não têm prazer porque não têm pênis ou que "viraram lésbicas" porque nunca foram bem comidas. Gente, não! O pênis é uma parte do corpo humano como qualquer outra, a principal diferença é que depois de bem chacoalhado ele vomita uma coisinha branca que ajuda a fazer nenéns. O pênis não é o centro do mundo, tampouco a coisa mais gostosa. Tem gente que sente muito mais tesão com um dedo roçando a virilha do que com uma língua super habilidosa na glande.

Se o pênis não é a fonte de todos os prazeres, então a penetração (vaginal ou anal, tanto faz) também não é obrigatoriamente o ponto alto do sexo. Não precisa ser, ao menos. Li esses dias no Cem Homens que deveríamos esquecer a palavra "preliminares". Concordo demais. Falar em algo preliminar nos leva a supor que o momento mais importante da transa será quando o pênis entra em ação. Dentro dessa lógica, beijos, carícias, coçadinhas e roçadas ficam em segundo plano, quando deveriam ganhar muito mais atenção. É como se as pessoas tivessem pressa para gozar logo e terminar a transa (porque a maioria dos homens não consegue gozar duas ou três vezes seguidas sem um intervalo e muitos, para completar, ainda perdem o interesse em outros seres humanos durante esse tempo).



Não estou defendendo a prática sexual sem penetração (o nome disso é gouinage), mas também não haveria problema se estivesse. O que, aliás, nos leva à segunda regrinha de hoje: sexo deve ser feito como der prazer a todos os participantes. Se isso envolve mordidas, tapas, chicotes ou pessoas em roupas de lycra, beleza, contanto que seja consensual. Sexo bom é aquele em que todos os envolvidos terminam contentes, de preferência com algum tipo de prazer despertado. Daí vem aquele chato que acha que entende de BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo, Masoquismo) e vai me dizer que tem gente que gosta de apanhar e sofrer e que não há nenhum prazer nisso. Desculpa, meu querido, mas estou compreendendo prazer de uma maneira mais ampla, ou seja, como algo que buscamos ou sentimos que nos faz relaxar e experimentar momentos de alívio e gozo.

Agora já sabemos que sexo não é apenas penetração, logo o pênis não é a parte mais importante da coisa toda, e que no sexo vale tudo que os envolvidos queiram fazer e deem consentimento. Já dá para perceber o tanto que a pressão sobre a pessoa responsável pelo pênis ereto foi diminuída? Toda essa pressão cultural de milênios sobre o pênis é magicamente retirada quando entendemos que o prazer vem do contato e da troca na cama (e no sofá, na mesa da cozinha, nas escadas...). O nosso principal órgão sexual é o cérebro, é a ele que objetivamos dar prazer.

De volta ao meu amigo passivo que quer ser ativo, penso que o conselho continua valendo: pau duro no ânus. É claro que tem muito mais do que isso e eu realmente espero que seja muito além do que somente isso. Se a penetração será uma parte do ato sexual, então o relaxamento é imprescindível. De ambas as partes, não só de quem será penetrado. Tentar comer alguém e ficar o tempo inteiro pensando se vai ser bom, se a pessoa vai gostar, se o pau é grande o suficiente etc. é um convite para brochar. O que, aliás, não deveria ser encarado como um grande problema, afinal de contas o pinto não é o ator principal do sexo (embora o mundo inteiro tente nos convencer disso). Brochou, segue o baile e daqui a pouco está duro de novo.

Além do relaxamento de ambas as partes (aqui estou falando em dois porque até hoje nunca vi alguém capaz de penetrar duas pessoas ao mesmo tempo com o mesmo pênis, mas estou aberto a ser surpreendido), uma boa lubrificada é essencial, óbvio. Saliva ou lubrificantes cumprem o propósito. Há algumas camisinhas que já vêm com uma lubrificação bem boa, mas eu geralmente gosto de complementar. Deslizar ao invés de rasgar nunca é demais (a não ser que a pessoa em questão goste de uma coisa mais bruta, mais seca, mais primeira vez de O Segredo de Brokeback Mountain, que doeu em mim só de olhar).

Depois que entrou, acho que a coisa é mais tranquila. A primeira vontade é de ligar a britadeira e ficar bombando até gozar, mas a gente ri de quem faz isso não porque é bom, mas sim porque cansa e não acrescenta muito. É claro que não pretendo generalizar, tem gente que curte uma coisa mais forte e toda trabalhada no vai e vem louco, mas no geral percebo mais reclamações do que elogios. Eu parto do princípio de que o pênis penetrado é uma massagem interna: como qualquer massagem, tem quem goste mais forte, mas no geral o que conta são os pontos em que estão sendo pressionados e a constância e/ou intensidade do massagear. Essa coisa de enfiar e ficar mexendo compulsivamente costuma ser bom só para quem está penetrando, mas daí é egoísmo, o que nos leva à terceira regrinha de hoje: sexo não é masturbação assistida

Salvo em casos muito raros, os outros não estão com você somente para dar prazer a você e ponto. Quando pequenos a gente chamava isso de troca-troca por uma razão, afinal de contas. Todos os envolvidos deveriam ter prazer com o sexo. Não é à toa que a maioria das mulheres reclamam dos homens, que foram ensinados desde pequenos a só se preocuparem com o próprio pau e, por isso, deixam as moças lá sem assistência alguma. Com gays acontece algo parecido: o sujeito ativo fica achando que o papel dele é só meter fundo e gozar litros. Não é. 

Por fim, chegamos à quarta regrinha do sexo da raposa: brincar é importante. Quem leva o sexo a sério demais com frequência perde a oportunidade de ser criativo e explorar possibilidades. Não há problema em desgostar de coisas que outras pessoas acham comuns ou necessárias. Da mesma forma, não deveria haver problema em experimentarmos uma coisa ou outra aqui e acolá. Meu irmão sempre declarou a plenos pulmões que não deixa rolar o fio terra, pois isso não é coisa de homem. Eu discordo basicamente porque sou homem e o resto vocês deduzem. A questão é que o ânus está cheio de terminações nervosas super excitáveis e associar heterossexualidade com a preservação do cu é uma noção boçal.

Está com outra(s) pessoa(s) brincando de sexo? Excelente, brinque! As nossas vidas sexuais seriam tão melhores se não nos agarrássemos a noções conservadoras sobre o que pode e o que não pode, quem faz o quê e por quanto tempo etc.  No meio de tudo isso, acho que vale apenas lembrar o mais importante: seja o que for, deve ser sempre consensual e, de preferência, bom para ambos.

terça-feira, outubro 01, 2013

Minorias preconceituosas

Ser parte de minorias não te impede de ser preconceituoso. Ponto. Exemplo básico que ouvi esses dias: uma moça negra lésbica viu um rapaz hetero branco de cabelos claros sentado na mesma mesa que ela e amigos em comum e disparou "você é tudo que eu desprezo".

Pausa para avaliar o quanto essa pessoa foi cretina. É, idiota mesmo, trouxa, palhaça, inadequada para o convívio com outros seres humanos. De onde veio esse desprezo todo por uma pessoa baseado numa série de informações superficiais? O que há de tão odioso em ter uma cor de pele, um pênis e uma namorada? No mundo dessa gentil moça, muita coisa. Não vou negar nem de longe que zilhões de ofensas e ações cruéis ao longo da história vieram das mãos de sujeitos com essas mesmas características, só que nada disso faz dele perpetuador desses atos.

Trago-a como exemplo para refletirmos brevemente sobre esses paradoxos ambulantes. Homossexuais homofóbicos e mulheres machistas, por exemplo. Volta e meio vejo gays criticando pessoas "afetadas", ou seja, homens afeminados e mulheres masculinas. Sério, gente? Além da obviedade de o comportamento alheio não ter nada a ver com a gente se não estiver prejudicando ninguém, qual é o problema de um homem agir afeminadamente? (seja lá o que for isso, discussão complexa que vamos guardar para outro dia) Tem a ver com pensarmos que mulheres são inferiores aos homens? (olha o machismo aí) E mulheres masculinas, será que não gostamos porque estão ousando ser "mais" do que são? (olha o machismo aí de novo) Temos também as famosas mulheres machistas, doutrinadas por um sistema que se sustenta em pisar nas mulheres e em obrigá-las a servir apenas de alimento para os desejos machos.

"O ódio é fácil; o amor exige coragem".

Acontece que é difícil escapar desse tipo de pensamento nocivo, por mais que ele seja contra nós mesmos ou contra pessoas que compartilham espaços semelhantes no mundo. Sofrer não é pré-requisito para a solidariedade. Para escapar do círculo vicioso do ódio (contra si mesmo, inclusive) é necessário aquele tipo particular de coragem sobre o qual escrevi recentemente. É coisa que se aprende, que se ensina, que se compartilha.

Odiar é um hábito ruim contra o qual temos que lutar. Se aceitamos alguém odiando perto de nós, estamos permitindo que alguém seja odiado. Ao fazermos isso pactuamos com dois pensamentos: que é certo odiar e que ninguém vai mover um dedo para evitar que outras pessoas sejam odiadas. A vida muda pelo exemplo e a coragem cresce junto. Fecharei esse texto com Gandhi: "Olho por olho torna todo o mundo cego". O ódio direcionado contra o outro nunca é algo positivo. Não quer dizer que o desgosto não possa nos motivar a agir, que a irritação e o desejo por mudanças não possam nos dar forças. Quer dizer apenas que não devemos repetir sobre os outros aquilo que odiamos que façam conosco. Espero que a moça-exemplo lá do começo leia esse texto e reflita.
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