domingo, outubro 06, 2013

O que nos impede de agir?

Uma amiga quer transar com um cara, mas não teve coragem de dizer isso a ele. Ela não quer nada além de uma boa trepada com o sujeito, mas se pegou com medo do que ele poderia pensar dela, já que normalmente mulheres não tomam a iniciativa nem assumem que gostam de sexo. Sabemos que essa ideia de que mulheres não tomam iniciativa ou não gostam de sexo é fajuta. Não há nada dado no "ser mulher" que inclua frigidez ou falta de iniciativa. O que nós temos é uma complexa rede cultural ensinando os meninos a desde pequenos pegarem todas e as meninas a ficarem quietas para serem usadas. Como a gente muda isso? Através da educação, da família, das instituições sociais e... da ação. Absolutamente nada funciona como um exemplo mais poderoso do que a ação.

Minha amiga é feminista e tem interesse em lutar pelos direitos das mulheres e contra as opressões de gênero. Mesmo assim, se sente acanhada para agir em nome daquilo que acredita. Ela não é a única. Goethe já nos alertava:
Pensar é fácil, agir é difícil. E colocar nossos pensamentos em ação é a coisa mais difícil do mundo.
Quando fazemos algo que contraria as expectativas ou tradições (o machismo e a heteronormatividade infelizmente funcionam como tradições), podemos esperar algum tipo de reação. Afinal de contas, nós estamos afetando diretamente o modo como outras pessoas enxergam o mundo. Estamos lhes dizendo "não é assim que funciona". Isso dói e a tendência é tentar algo para interromper essa dor. Num mundo ideal, as pessoas assimilariam que seu modo de ver e viver é cruel e machuca outras pessoas e mudariam. Na vida real, as reações costumam ser mais violentas e opressivas.


Refletindo sobre isso, vejo que temos dois impedimentos básicos frente à ação "subversiva". A primeira delas acabei de mencionar, ou seja, a possibilidade de reação alheia. As outras pessoas provavelmente buscarão interferir no jeito que você deseja viver, essa é quase uma certeza da vida. São os guardiões das tradições ou dos próprios privilégios.

A segunda delas é mais complicada: precisamos estar abertos a nossas próprias resistências e limitações. Recusar preconceitos pode implicar deixar de rir em algumas situações que sempre pareceram engraçadas. Lutar contra a tortura de animais pode significar a necessidade de se reeducar e encontrar formas alternativas para se alimentar sem carne. Compreender o próximo pode requisitar que façamos uma releitura de nossas crenças mais profundas.

Em ambos os casos precisamos juntar coragem e, se possível, aliados, para que não precisemos lutar sozinhos. Infelizmente todo convite à mudança é uma luta, primeiro contra nós mesmos, depois contra o restante do mundo, mesmo quando aquilo pelo que lutamos é a paz ou a igualdade. Talvez principalmente nesse caso, aliás.

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