sábado, março 31, 2012

Minha ética e o veganismo

Acabei de ler um texto sobre falácias do antiveganismo (ou alfacismo). Não, eu não sou vegan ou vegetariano e ainda não encontrei um argumento que me levasse a ser. Sim, eu sinto pena dos animais sofrendo. Não, eu não estou disposto a sair do meu caminho para mudar isso, pelo menos não agora. O que ficou martelando meu cérebro durante a leitura foi o embate ético desenhado pelo autor, que defende os direitos dos animais e, aparentemente, essa é a razão que lhe motiva a não comer carne.

Lendo as falácias, percebi que já usei uma delas. Bem, em minha defesa, sempre posso usar a ideia de que na ocasião eu era intelectualmente menos afiado. Explica, não justifica, mas resolve o argumento por aqui. Discuti uma vez sobre isso, apenas, e ainda por cima via Facebook. Não sei se eu fui agressivo, embora lembre de ter sentido agressividade por parte do outro filósofo envolvido. Eu parei a discussão, ou ao menos de participar dela, quando o fato de eu estar no mestrado foi levantado como motivo para eu "saber mais" do que ele sobre semiótica. Na ocasião, fiquei irritado por dois motivos: a) eu aprendi o que falei sobre semiótica na mesma disciplina que meu debatedor também frequentou, pois fomos colegas de faculdade; b) a presunção de que meus estudos de cultura visual precisam necessariamente passar pela semiótica.

Permeando tudo isso, fica aquele gostinho de "bah, mas ainda não achamos uma ética absoluta". Continuo tentando me convencer de que isso é o melhor, essa variedade muitas vezes caóticas. Tenho arrepios frente a qualquer ideia mais absoluta. Exceto, talvez, as minhas. Heh.

terça-feira, março 27, 2012

Ainda pensando no capitalismo

Escrevi aqui o seguinte:

Essa é a grande questão, aqui. É tudo tão mais barato do que estou acostumado, portanto é fácil pensar "ei, mas quando eu vou encontrar esses preços de novo?". Aí cogito novo computador, novo celular, um tablet, um e-reader (pois vem com a tecnologia do e-ink, que aliás é realmente muito legal) etc. E o dinheiro para pagar tudo isso, onde está? E o meu uso para essas coisas, que será só de manter caixinha na gaveta?

Relendo essa escrita, descobri-me feliz por não ter comprado novo computador, nem novo celular, tablet ou e-reader. Comprei quarenta e oito livros e, quando cheguei de volta ao Brasil, uma nova estante para guardá-los. Ela agora me impulsiona a querer mobiliar ainda mais a minha casa, a pensar em uma televisão, talvez uma nova mesa para meu computador e certamente uma cadeira mais ergonômica. Já que estou nessas, por que não bancos para sentar na minha bancada de mármore, onde preparo meus alimentos?

Escapei de um lugar onde poderia comprar inúmeros apetrechos tecnológicos para cair de volta em uma realidade na qual eu desejo mobílias. Comum a todos esses momentos é o desejo de consumir, de comprar coisas e ser dono. Para alguém que tem buscado trabalhar a própria capacidade de desprendimento, essa ânsia de ter é um bocado complicada de gerenciar. Estou trabalhando em um lugar, provavelmente começando em outro, pesquisando mais empregos e ainda sendo pago para estudar. Bem, essa última deve acabar em pelo menos um mês, se é que já não acabou. Eu estou vivendo o capitalismo (eu ia chamar de capitalismo selvagem, mas ei!, eu comprei livros, então deve ser um capitalismo civilizado).

O desejo de comprar é angustiante. Eu sinto que há um espaço na minha casa que carece de atenção, um lugar vazio que pede por conforto, por presença, por preenchimento. Enquanto não decido o que vai ocupar aquele espaço, se alguma coisa, dedicarei meus dinheiros a pagar por exercício físico (uma piscina e uma instrutora, por ora, mas talvez em maio eu cogite musculação) e cursos, eventos e encontros com amigos. No meio disso tudo, ainda tento encontrar qual é a medida, se é que existe, para viver em meio a um mundo de economias (algumas nada econômicas).

La vida es más compleja do que lo parece - Jorge Drexler


Jorge Drexler é meu ídolo musical, das pessoas que eu saio do meu caminho para contar, cantar ou mostrar a alguém. Suas letras já conversaram comigo em inúmeras vezes, seja pela ternura, seja pelo aviso de que nem sempre as coisas são como deveriam. A letra dessa canção me acompanha em 2012, lembrando-me de manter minha atual filosofia:

No quiero que lleves de mi
Nada que no te marque,
El tiempo dirá si al final
Nos valió lo dolido.

Será que terá valido? Ninguém tem a resposta de antemão, as escolhas que fazemos são sempre orientadas apenas pela nossa imaginação, pelos nossos sentimentos e pela nossa capacidade de raciocinar.

Mejor, o peor, cada cual
Seguirá su camino.
Cuánto te quise, quizás,
Seguirás sin saberlo.
Lo que dolería por siempre,
Ya se desvanece.

Assim, sem saber, a gente segue caminhando. Sei que muitos não me sabem, sei que não sei o que alguns gostariam que eu soubesse. Saber, aqui, pode ser sentir. Eu não esqueço, porém, e das dores que sinto, sinto até aquelas que deveria, mas nunca senti. Sentir, aqui, pode ser saber.

Empolgação

Eu deveria estar dormindo, já sonhando com coisas que esqueceria na manhã seguinte. Não. Empolgado por um livro fabuloso de pesquisa sobre sexualidade e, especificamente, desejo sexual, estou aqui alucinado marcando datas e pesquisando caminhos para alimentar essa minha fome de saber. Talvez eu passe a noite inteira lendo: essa é a minha vontade. Sei que tenho compromissos a cumprir amanhã, o que também é algo que me deixa feliz, pois mantém minha vida caminhando e assumindo diferentes formatos.

Isso é algo que merece um pouco de tempo para pensar: quando entrei na faculdade, minha vida era uma nulidade de eventos. Eu não fazia absolutamente nada, não ia a festas, não encontrava amigos e não me relacionava afetiva ou sexualmente com outros sujeitos. Embora o ingresso na universidade usualmente seja o momento de soltura, aprendizagens e explorações, eu me encerrava em mim mesmo e assim evitava interagir com um mundo que ao mesmo tempo me assustava e me mantinha distante. É curioso como o nosso medo e desgosto acabam sendo correspondentes a uma reação muito similar por parte do restante da humanidade. Eu não via interesse nos outros, que por tabela também não percebiam nada de interessante em mim (ao menos ao ponto de vir a mim e conversar).

Eu poderia dizer que o que transformou o cenário foi meu ingresso no mercado de trabalho. Frequentemente eu acuso o início da vida sexual. Sejam quais forem os motivos, eu passei a me abrir para o mundo e, em resposta, fui recebendo retornos e participações que só aumentaram. Em 2004, quando entrei da faculdade, eu não acreditaria que em 2012 estaria com uma vida tão bem articulada. Ainda tenho rios para percorrer, pois não cheguei ao ponto que desejo em termos de conexões e proposições de trabalho e de reflexão. Estou em um momento em que tenho feito muito do que gosto.


Em tempo, hoje comprei uma estante. Graças aos meus amigos, fui capaz de trazê-la para casa já montada, poupando os custos de frete e de montador (uns R$ 80). Agora que meus livros já não estão jogados no chão, penso no que falta para completar minha moradia. Preciso de televisão? De uma poltrona? De algo mais? De algo?

terça-feira, março 20, 2012

Fazer as malas

Hoje vou ao meu escritório aqui na OSU para buscar todas as coisas que me acompanharam lá durante esses três meses. Tem um mapa-múndi, folhas diversas e até um livro. Tudo pedindo pra vir comigo para o Brasil. Essa é a parte fácil de fazer as malas: colocar nelas o que eu posso carregar comigo e que, portanto, não deixará de fazer parte da minha vida.

Por outro lado, conheci algumas pessoas que eu gostaria muito que fizessem parte o elenco fixo da minha vida e não só de uma temporada. Eu já deveria estar acostumado, quem sabe até já esteja. É difícil estabelecer uma diferença sadia entre compreender e aceitar que a mudança é uma constante da vida, por um lado, e se fechar para sentimentos e instabilidades que a vida oferece, por outro. Ninguém quer sofrer, mas quando perdemos coisas e pessoas que ganharam valor sempre fica aquela dorzinha residual, algumas vezes maior do que conseguimos lidar.

Eu estou triste por saber que não compartilhei tudo o que podia e não aprendi tudo o que havia para aprender. Pode ser um convite para voltar. Pode ser uma memória não finalizada. Seja o que for, os ventos estão mudando e meu barco volta para o porto goiano por mais alguns meses. É o fim de mais uma temporada chegando e convidando à transformação.

No meio disso tudo, sei que cresci. Quando saí de Porto Alegre para viver em Goiânia pela primeira vez eu era arisco, ainda amarrado a amores passados e por isso mesmo incapaz de estabelecer novas relações. Hoje sei que, se eu não estiver aberto para cultivar emoções, meus jardins não florescerão. Não deixo de sentir falta dos amigos que vou deixando pelo caminho, dos brotos que poderiam crescer tanto!

Talvez essa seja a maravilha das sementes que eu tento plantar: elas não são minhas, elas são do mundo. Nossos ramos crescem, se entrelaçam, se separam e se afastam para quem sabe nunca mais se cruzar, porém muitas vezes voltam a se amarrar e a se sustentar uns nos outros. É o que eu desejo: sempre aumentar o jardim com flores e frutos cada vez mais coloridos e saborosos.

domingo, março 18, 2012

O que eu quero para 2012

Demorei a começar este texto não porque não sabia o que dizer, mas porque estava ensaiando como transformá-lo em letras. Estou talvez um pouco atrasado para resoluções de fim de ano, mas vida é esse conglomerado de dias e datas e momentos que a gente dá nomes especiais, então nem importa. De toda forma, peço desculpas se ofendo algum tradicionalista.

Decidi que em 2012 aprenderei a dizer não para as coisas. Isso pode parecer um retrocesso, considerando que ao longo de muitos anos não era a única resposta que eu conhecia, já que ela era segura e me protegia de uma variada coleção de riscos. Aí veio o período do sim para tudo, como bem minha amiga lembrou, e eu passei a abraçar uma diversidade de explorações físicas, intelectuais e emocionais. Pensei em incluir morais na lista, mas a verdade é que minha bússola ética mudou relativamente pouco, até onde percebo, de quando eu era mais novo até hoje. Deixei de ser tão espumante de ódio e de refletir sobre métodos de vingança, mas eu atribuo isso à maturidade e à compreensão de que o mundo é um pouco maior do que o meu umbigo. Talvez o fato de minha inclinação moral estar tão ligado à minha facilidade intelectual explique porque é tão comum eu conectar virtude e instrução, mas já estou convencido que caráter não é questão de sabedoria, mas sim de filhadaputice.

Estarei eu abraçando uma fase de não para tudo? Não, de jeito nenhum. Viu, já estou aprendendo a dizer nãos! A minha proposta é deixar de colocar os outros na minha frente. Eu tenho uma ideia mais ou menos clara do que estou procurando na vida, do que desejo experimentar e, principalmente, do tipo de pessoas com as quais eu quero compartilhar os meus momentos. Isso não significa que eu sei dar nome ao que busco na existência, mas ei!, ninguém aqui está tentando ser simplista.

Em resumo, eu direi não para as coisas que me fazem mal, que não me acrescentam e ou que não me dão prazer. Sim, eu estou saindo do armário: sou hedonista. Aí resolvi pesquisar o que significa hedonismo, para não sair falando bobagem. Vejam o que o Houaiss me ensinou:

Hedonismo. n substantivo masculino 
1.2 Rubrica: ética.
no epicurismo, busca de prazeres moderados, únicos que não terminam por conduzir a sofrimentos indesejados
1.3 Rubrica: ética.
no utilitarismo, procura do prazer individual, que somente se plenifica por meio de sua extensão para o maior número possível de pessoas
3 Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: psicologia.
teoria segundo a qual o comportamento animal ou humano é motivado pelo desejo de prazer e pelo de evitar o desprazer

Eu acabei de decidir que preciso ler mais sobre epicurismo e utilitarismo. Ao que parece, essas posturas filosóficas conversam bastante com a moralidade que norteia meus passos.

Para concluir, desejo apenas esclarecer que eu já sei dizer não para as coisas que ainda não aconteceram. Não quero ir a um lugar, não quero conhecer uma pessoa, não quero brincar de roleta russa e não quero usar drogas. O não que eu pretendo treinar é o difícil trabalho de podar as ervas daninhas que já estão enroscadas no jardim florido. Eu não tenho interesse em causar mal a ninguém e realmente sinto muito se minha ausência (ou a interrupção da minha presença) vai de algum modo machucar. Talvez eu devesse ter dito não desde o início e evitado dores futuras. O não que treinarei é, portanto, um reflexo desse desejo de antever machucados potenciais e negá-los de antemão.

É egoísmo quando a gente machuca agora para machucar menos no futuro?

quinta-feira, março 15, 2012

Amanhã vou cortar o cabelo

Quem me conhece há algum tempo sabe que periodicamente eu preciso fazer limpezas na minha vida. Com "limpeza" eu estou sendo bastante literal: as coisas vão se acumulando e acabam se transformando em pilhas imensas de livros, roupas e coisas para guardar ou jogar fora que continuam sempre esperando. Aí chega um dia e eu me vejo no espelho com um cabelo super comprido e desajeitado, com a barba por fazer (há semanas) e com o quarto numa verdadeira bagunça. A experiência tem me mostrado que isso é sinal de que estou me sentindo perdido e desmotivado.

Minha cura?
Tomar um banho, ajeitar tudo e cortar o cabelo. Se eu me sentir bem aprumado, as chances de eu aprumar a vida crescem. Sounds like a plan.

Alguns momentos de vazio

Eu sei que não é nada para se preocupar, que acontece every now and then. Ainda assim, estou envolvido num cobertor de falta de vontade que já tem me irritado. Preciso terminar minha dissertação, que continua carente de atenção (de tantos lados que nem vale a pena começar a reclamar), e fechar os ajustes para o meu retorno ao Brasil. Dentro de sete dias eu já estarei em território brasileiro. Dentro de seis eu já estarei partindo dos Estados Unidos.

Um balanço da viagem? Arrisco dizer que esses três meses me modificaram um bocado e apontaram alguns caminhos que eu estava ou recusando ou deixando para depois. De volta a Goiânia, chegará bem rápido o momento de decidir meus caminhos futuros. Se nada realmente significativo mudar, creio que Goiânia não será suficiente para me segurar. Eu quero o mundo.

Nada menos do que o mundo.

terça-feira, março 13, 2012

Take me to the riot - Stars


Existem algumas músicas com a estranha capacidade de animar meu coração. Bem, são músicas, não há nada de estranho nisso. Essa banda, Stars, tem um CD que consegue alterar todas as minhas emoções ao longo dos seus 40 minutos de canções. No caso dessa música em particular, a vontade de conhecer o mundo se amplia e o desejo de agir, de fazer, de não me deixar parar é o que domina. São sonhos de uma certa juventude, que talvez seja definida justamente por isso, por ainda não estar completamente amarrada nas obrigações sociais e, por isso, presa. O que significa ser jovem? Não sei, sempre penso que tem algo a ver com "não estar pronto", mas se pensarmos a vida como processo, só estamos prontos quando encerramos qualquer mudança. Isso tem nome: morte.

Chamem de síndrome de Peter Pan, se quiserem. Pelo menos nesse caso fico feliz que outra característica normalmente associada à juventude é não se importar.

sábado, março 10, 2012

Ranma 1/2

Ranma 1/2

Quando criança, conheci Ranma 1/2, a história de um lutador de artes marciais que quando molhado em água fria virava mulher e, quando molhado em água quente, voltava a ser homem. Na época eu ainda não pensava em discutir questões de gênero ou de sexualidade, nem imaginava as complicações que essa mudança constante de corpo poderia sugerir. Hoje, porém, eu penso nessas coisas e acordei com o cérebro filosofando sobre a importância que esse mangá teve na minha infância. Ainda não estou preparado para escrever sobre isso, então fica apenas o convite para que os leitores saibam mais a respeito desse rico e divertido mangá/anime!


Pornografia acadêmica

Meus interesses em sexualidade têm mudado de uma perspectiva teórica para um olhar e acompanhamento mais firmados nas experiências vividas. Seria, talvez, uma mudança da literatura para o jornalismo ou antropologia, em termos de narrativas. O resultado disso é que tenho pensado cada vez menos em desejos e cada vez mais em corpos e práticas. Com isso em mente, me deparei com o seguinte texto:
Ultimately this is why I've gotten involved in porn: to fuck with shame, to assert muself as a sexual being, to contest the idea that I have to be either gay or straight, to interrogate and experiment with the pornographic productions of youth and race, and to pedagogically link my sexuality with my activism and personal politics. Albeit, much of this is done in problematic and unresolved ways, it is only through this highly personal engagement with and questioning of pornography that sexualized images, fantasies, and stereotypes can be challenged and reinterpreted (Zeb Tortorici, Queering pornography, no livro Queer youth cultures, p. 213-214).
 O que Zeb traz na forma de um comentário sobre sua descoberta do mundo da pornografia e de sua vergonha em lidar com a mirada dos outros sobre as suas explorações do desejo de enxergar o corpo dos outros como objeto é algo que eu consigo conectar com minha própria experiência. Embora eu nunca tenha participado de qualquer ação especificamente pornográfica, houve um momento da vida em que encontrei-me inclinado a desafiar minhas próprias noções do que acreditava ser correto ou não em termos de experiência sexual. Muito de como me comporto, do que sinto e do que desejo reflete a forma como fui e sou socialmente talhado. Creio que ter consciência disso é o mínimo que posso fazer enquanto um pesquisador de sexualidades.

Por alguma razão, porém, a moral vigente é dúbia e conflitante. Por um lado, temos a sexualidade exacerbada da mídia e da facilidade de acesso que as tecnologias contemporâneas proporcionaram e a cada dia expandem. Por outro, temos o tabu que segue marcando os sujeitos e lhes impedindo uma exploração segura ou, quem sabe, sadia, de seus corpos e prazeres. Essas duas mentalidades e posturas coexistem: fingir que apenas uma opera em nossa sociedade é ingenuidade (por nossa sociedade, refiro-me aos lugares onde eu vivo, particularmente algumas cidades do Brasil cujos contextos são distintos entre si, mas as regras de comportamento afetivo-sexual não são completamente distintas).

Esse não é um tipo de conflito que eu considere positivo. Somos convidados a explorar os corpos exibidos midiaticamente, mas ao mesmo tempo somos recriminados por esses desejos. As regras funcionam de maneiras diferentes para sujeitos diferentes, talvez numa maldosa releitura dos "direitos iguais na medida de suas igualdades e desiguais nas desigualdades". As mulheres não podem ser sexuais. Os homens devem, mas somente se forem sexualmente ativos e provedores. A situação se complica quando envolvemos outras questões, como orientação sexual (a "cultura gay" é facilmente associável com libertinagem, o que não vem sem um estigma) ou corpos não normativos (meu exemplo típico é a obesidade, mas tenho certeza que cor de pele, altura, tamanho da genitália e tantos outros fatores têm papéis importantes nisso).

Fica, portanto, o questionamento: de que forma minhas explorações intelectuais interferem na minha vivência diária das sexualidades, das afetividades, das corporeidades? O contrário também é válido: como minhas experiências interferem, atravessam e informam as possibilidades de reflexão intelectual?

Priapus weighing his phallus, 1st century

Para finalizar esse pequeno texto, apenas uma consideração sobre uma imagem de Priapus, deus grego da fertilidade, onde podemos notar um pênis bastante grande sendo pesado em uma balança. Hoje essa imagem talvez cause espanto e seja, inclusive, fruto de debates acalorados sobre pudores e morais. Em outros tempos, talvez tenha sido apenas uma pintura a ser apreciada e até mesmo reverenciada. É sempre bom termos em mente que a maneira como pensamos sobre o mundo é cultural e, portanto, deve ser sempre questionada.

sexta-feira, março 09, 2012

Sexo sem proteção


Eu sei que não deveria rir disso, mas desde que li a expressão alfabetização sexual, sinto como se tivesse encontrado o ponto no qual devo investir meus esforços educacionais. Pelo menos enquanto eu tiver liberdade para construir meus próprios cursos de extensão na educação a distância. Fico em dúvida, verdade, entre continuar trabalhando com sexualidade ou investir em procedimentos de escrita, mas talvez valha a pena até me ocupar de um modo de juntar ambos. Quem sabe eu não comece um curso de escrita erótica?

O meu ponto fraco capitalista

Eu sou viciado em livros. Uma biblioteca é uma explosão orgásmica para mim, mas uma livraria com preços baixos (um sebo, então!) consegue me jogar aos céus. Por quê? Ora, eu posso ter um livro.

Sim, sim, eu entendo a ideia da impermanência e que nada é, tudo está e logo deixará de ser, mas esse não é o momento para sermões zen. Aliás, acabei de entender o motivo pelo qual filósofos escreviam em diálogos: fica mais fácil de organizar pensamentos antagonistas e colocar pontos em conflito, fomentando literalmente um diálogo.

Meu professor aqui na Ohio State University escreveu a tese de doutorado dele construindo uma peça na qual diversos personagens conversavam. Não sei se valeria a pena investir em ter doze personas, como ele fez, mas creio que ao menos dois ou três já conseguiriam construir uma série de argumentos interessantes.

Talvez seja o caso de investir nesse tipo de texto para a escrita de um material educativo. Não sei vocês, mas eu me dou super bem com narrativas e, justamente por isso, também com diálogos e conversas. É, farei isso para meu próximo texto aqui na Raposa Antropomórfica. Peço desculpas de antemão pelo texto desconectado e perdido, mas a empolgação da ideia me deixou tonto. E ei, esse é um blog, se tem algum lugar em que tenho direito de exercer o fluxo de consciência, é aqui!

quinta-feira, março 08, 2012

Estranged sex - Sandra Torralba

Vale muito a clicada nesse link, mas é importante notar que alguns lugares talvez sejam entendidos como impróprios para a visualização das imagens que ele contém. Por quê? Porque são imagens de sexo e de corpos nus. Mais do que isso, são imagens que colocam em questão algumas das nossas noções acerca do que é sexualidade e de como nos relacionamos com ela(s).

A minha favorita é a da masturbação com a empregada no quarto. Ah, como o mundo seria melhor se "a mãe que encontra o filho se masturbando e isso é uma vergonha para sempre" não fosse uma esquete em filmes de comédia e, por tabela, na vida. Tenho lutado com a noção de tabu e de moralidade, principalmente a partir do momento em que eles começam a interferir nas possibilidades de realização erótica dos sujeitos. O que Sandra Torralba faz, ao meu ver, é justamente nos apresentar algumas dessas questões e dizer "ei, veja que absurdo".

Algumas de suas fotografias estão expostas no Museu do Sexo, em New York. Eu mais que recomendo.


terça-feira, março 06, 2012

The shared room


If something, this trip to New York made me realize how thankful I must be not only that the world exists, but also that I had (and still have) the beautiful chance to meet amazing people. My travel was possible not only by the help of academic life, from CAPES and UFG to OSU, but also by the hand offered by individuals. In this particular case, I really need to thank Morgan by the invitation to share a room with her during this week. More than just help me save money, this offer proved once more that it is OK to trust and help people. 


I look forward for the chance to pay this back, not necessarily to her, and certainly not just as a means to feel free from any kind of debt. This amazing gesture suggests to me the kind of open person I want to be. She had absolutely no reason to go out of her way and deprive herself from privacy by inviting me to share her room and bed. But she did and that added to my faith in life =)


Thank you, Morgan!

Museum of sex





A entrada parece uma sex shop, ao ponto de me deixar constrangido para entrar. Fiquei pensando, depois, sobre a bobagem que é eu ter ficado com vergonha, especialmente vi pessoas rindo frente à exposição inicial sobre sexo, no primeiro andar. Basicamente, filmes, alguns pornográficos, alguns eróticos, alguns bastante populares (como se fossem categorias excludentes...) eram exibidos ao lado de placas que contextualizavam ideias sobre homossexualidade, sexo oral, penetração anal, entre tantos outros, e suas explorações no cinema.

Meu eu Pesquisador se reanimou ao encontrar um espaço em que a sexualidade não apenas é estudada, mas explorada e demonstrada sem pudores. Minha viagem a New York foi maravilhosa, mas não teria sido completa sem a deliciosa visita ao Museu do Sexo!

Palavras impróprias

"Atenção: a exposição Sanja Ivekovic: doce violência contém linguagem que pode não ser apropriada para alguns espectadores.

No MoMA, vi esta placa e fui atacado pelo pensamento: o que torna uma palavra apropriada para um determinado contexto? Nós sabemos, desde sempre, que devemos tratar os mais velhos com respeito, que homens não entram em banheiros femininos e que as coisas são como são para manter a ordem social. Mas... o que isso significa?

A referência da placa foi a, provavelmente, relatos de mulheres violentadas por homens, tanto fisicamente quanto moral ou sexualmente. É a violência que pode não ser apropriada? Ora, óbvio? Não consigo imaginar o quanto essa mesma placa não seria importante em momentos de agressão não apenas contra a mulher, mas de todas as formas: guerras, uso excessivo de força policial etc.

Talvez as palavras na placa devessem ser trocadas por algo como "Atenção, a exposição contém linguagem que pode te tirar da zona de conforto e fazer pensar um pouco sobre as violências que tu normalmente ignora, mas que acontecem mesmo assim".

New York (12)

Visões do alto de The Empire State. Penso que um dia de sol deve propiciar vistas ainda mais bonitas, mas já fiquei bastante satisfeito com o que tive oportunidade de ver.







segunda-feira, março 05, 2012

New York (11)

The Holy Family with the Infant Saint John the Baptist
Caravaggio, Oil in canvas.

Agora eu pergunto: sou o único que vê malícia nessa pintura, ou um menino não está bolinando o outro?

New York (10)


Como tudo que diz respeito à cultura visual, imagens são lidas, interpretadas e reconstruídas por aqueles que as vêem. Esqueçamos os espectadores passivos, isso é coisa do passado.

New York (9)


Acho poético, mesmo que triste, que a Liberdade seja tão pequena quanto sua Estátua. Não tive a chance de chegar perto dela, ou melhor, preferi aproveitar as horas que ocuparia no barco para visitar o Metropolitan e, por isso, acabei não me aproximando da digníssima Estátua da Liberdade. Fica na lista das coisas que farei quando eu voltar.

New York (8)

Quando a gente fala em emergência da Cultura Visual, a coisa fica um pouco mais complicada e intensa se, ao olharmos para o lado, tudo o que vemos são cores e luzes.









New York (7)


Ando apaixonado por esculturas e pinturas modernistas, de preferência as cheias de cores. Será que se eu tivesse sido exposto a essas produções antes eu as perceberia como hoje? Será que meu encantamento vem de já ter estudado o tanto que estudei?

New York (6)




O Central Park não me causou a melhor das impressões, mas o coitado sofreu com chuva e inverno. Ainda assim, consegui criar algumas imagens para recordar desses contrastes bonitos (e alguns nem tanto) que existem por aí.

New York (5)


Minha visita foi basicamente turística. Comprei um city pass e, com ele, tinha descontos para visitar diversos pontos turísticos. O que eu não sabia é que os ingressos para museus são doações e, portanto, nós escolhemos exatamente quanto estamos dispostos a pagar. Os vinte e poucos dólares que eles cobram é apenas uma sugestão. Fiquei com raivinha quando soube, mas acredito ter sido um dinheiro bem investido.

Estava procurando na minha máquina alguma foto que eu tenha tirado de obras de arte, mas foram poucas, bem poucas. Que pena, queria discutir as diferenças entre ver pinturas pessoalmente (e sentir a textura das pinceladas) e ter em mãos apenas reproduções, mas isso ficará para uma outra ocasião!

New York (4)


O Guggenheim é, dos museus que visitei em NY, o meu favorito. Não sei se porque é pequeno e, portanto, digerível em um dia, ou se porque foi o primeiro que visitei. Achei a arquitetura do museu tão parecida com a da Fundação Iberê Camargo, até fui pesquisar se não foram feitos ambos os prédios pelo mesmo arquiteto, Álvaro Siza, mas não, e aparentemente a construção em Porto Alegre é menos instável e dependente de reformas constantes que sua prima (?) em New York.

A visita ao Guggenheim me trouxe uma surpresa curiosa. Após subir as escadas do metrô, fui perguntar onde poderia encontrar o Central Park (meu ponto de referência para o museu) a uma mulher que estava em frente a uma banca de rua. Ao meu lado, uma outra mulher parou, presumivelmente esperando para também pedir informações. A moça da banca não apenas me explicou, como também perguntou onde eu estava indo e, ao saber, indicou o modo de chegar ao Guggenheim e ao Metropolitan. Ocorre que a outra mulher estava justamente querendo saber essa segunda direção.

Então fomos juntos conversando por três longas quadras, enquanto nosso caminho era ainda o mesmo. Em uma questão de minutos, descobri uma francesa que canta em bares e que vai a NY uma vez a cada um ou dois meses como parte de sua vida artística. Conversamos sobre arte, sobre museus, sobre a vida. Penso que também falamos de morar com outras pessoas, mas provavelmente estou já misturando as experiências que tive. Sensação gostosa de que a vida vibra!

New York (3)


Do lado do hotel, para o caso da minha fé estar abalada. Bem, para o caso da minha fé estar abalada e haver se transformado em outro tipo de fé...

New York (2)


Mais de uma vez achei estar sonhando. As cores, as pessoas, os idiomas falados com pressa por turistas, nativos, vendedores, mendigos e todos demais passantes... tudo isso se soma numa bolha cosmopolita de sensações e descobertas que não se encerram em uma simples descrição. Evidentemente, esse também é um baita centro do capitalismo e, portanto, tem muito a ser questionado e, muitas vezes, repudiado.

New York (1)


Esta foi a primeira foto que tirei em New York e foi desse jeito que eu soube que estava na Grande Maçã. Eu tinha recém saído do metrô e estava tentando ainda encontrar meus caminhos em Manhattan, mas não pude resistir e corri para tirar a máquina fotográfica do bolso e registrar a limosine. Acho que tenho tanto a dizer sobre essa cidade que não terei textos ou fotos suficientes para explicar. O que tenho certeza é que tenho tanto mais a descobrir do que tive a viver nos rápidos e corridos cinco dias em que fiquei lá.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...