terça-feira, outubro 01, 2013

Minorias preconceituosas

Ser parte de minorias não te impede de ser preconceituoso. Ponto. Exemplo básico que ouvi esses dias: uma moça negra lésbica viu um rapaz hetero branco de cabelos claros sentado na mesma mesa que ela e amigos em comum e disparou "você é tudo que eu desprezo".

Pausa para avaliar o quanto essa pessoa foi cretina. É, idiota mesmo, trouxa, palhaça, inadequada para o convívio com outros seres humanos. De onde veio esse desprezo todo por uma pessoa baseado numa série de informações superficiais? O que há de tão odioso em ter uma cor de pele, um pênis e uma namorada? No mundo dessa gentil moça, muita coisa. Não vou negar nem de longe que zilhões de ofensas e ações cruéis ao longo da história vieram das mãos de sujeitos com essas mesmas características, só que nada disso faz dele perpetuador desses atos.

Trago-a como exemplo para refletirmos brevemente sobre esses paradoxos ambulantes. Homossexuais homofóbicos e mulheres machistas, por exemplo. Volta e meio vejo gays criticando pessoas "afetadas", ou seja, homens afeminados e mulheres masculinas. Sério, gente? Além da obviedade de o comportamento alheio não ter nada a ver com a gente se não estiver prejudicando ninguém, qual é o problema de um homem agir afeminadamente? (seja lá o que for isso, discussão complexa que vamos guardar para outro dia) Tem a ver com pensarmos que mulheres são inferiores aos homens? (olha o machismo aí) E mulheres masculinas, será que não gostamos porque estão ousando ser "mais" do que são? (olha o machismo aí de novo) Temos também as famosas mulheres machistas, doutrinadas por um sistema que se sustenta em pisar nas mulheres e em obrigá-las a servir apenas de alimento para os desejos machos.

"O ódio é fácil; o amor exige coragem".

Acontece que é difícil escapar desse tipo de pensamento nocivo, por mais que ele seja contra nós mesmos ou contra pessoas que compartilham espaços semelhantes no mundo. Sofrer não é pré-requisito para a solidariedade. Para escapar do círculo vicioso do ódio (contra si mesmo, inclusive) é necessário aquele tipo particular de coragem sobre o qual escrevi recentemente. É coisa que se aprende, que se ensina, que se compartilha.

Odiar é um hábito ruim contra o qual temos que lutar. Se aceitamos alguém odiando perto de nós, estamos permitindo que alguém seja odiado. Ao fazermos isso pactuamos com dois pensamentos: que é certo odiar e que ninguém vai mover um dedo para evitar que outras pessoas sejam odiadas. A vida muda pelo exemplo e a coragem cresce junto. Fecharei esse texto com Gandhi: "Olho por olho torna todo o mundo cego". O ódio direcionado contra o outro nunca é algo positivo. Não quer dizer que o desgosto não possa nos motivar a agir, que a irritação e o desejo por mudanças não possam nos dar forças. Quer dizer apenas que não devemos repetir sobre os outros aquilo que odiamos que façam conosco. Espero que a moça-exemplo lá do começo leia esse texto e reflita.

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