quarta-feira, setembro 19, 2007

Redenção

Hoje atravessei a Redenção para chegar ao centro. Gosto deste caminho repleto de árvores, água, pipoca, cachorros e pessoas. Sempre algo me chama o olhar, para o bem ou para o mal. O objeto do dia foi um casal gay que caminhava de mãos dadas.
É normal encontrar homossexuais altamente afetados cuja única vontade aparente é chocar. Em certa medida poderíamos considerar uma tarefa nobre, uma vez que é do espanto e ruptura (crise) que surgem novas ordens. Acontece que este casal era não somente discreto: eles estavam tão compenetrados na sua conversa que pareciam nem notar que havia um mundo acontecendo ao seu redor.
Fiquei um pouco incomodado de ter prestado tanta atenção. Casais héteros que distraídos caminham pela Redenção não me chamam. Eu estranhei os dois, antes de admirar a atitude corajosa. Procurei ao redor alguém que lhes apontasse o dedo, que risse deles ou que se espantasse, mas não achei ninguém.
Ambos tinham mais de 25 anos e provável situação financeira estável. Não quero, agora, debater sobre as vantagens da independência familiar e da capacidade de se sustentar sem responder a outras pessoas fora do espaço de trabalho. Foi a atitude simplória e romântica de passear de mãos dadas no entardecer que me tocou.
Não me interessa saber sobre o que conversavam, quem eram e o que faziam. O simples fato de ver que ações assim são possíveis já me motivou a lutar um pouco mais contra o mundo; e a favor, é claro.

A Redenção é o lar do alternativo. Tanto que o anormal, de diferente, porém constante, que é, tornou-se comum. Isso é bom.
O diferente assusta por não ser compreendido. Quanto mais pudermos ver e conhecer, mais o diferente não será exótico, apenas não igual. Preconceitos se desfazem apenas frente a novos conceitos.

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