quarta-feira, setembro 22, 2010

Metáfora

Cheguei a uma metáfora interessante para explicar o que me ocorreu. Imaginemos um homem com fome, em meio a outras pessoas que também, mais ou menos, sentem a mesma coisa. Não falo vontade de comer, aquele desejo passageiro e, em teoria, inferior. Fome, necessidade, impulso vital que, faltante, nos leva à morte. Como isso é uma metáfora, a morte também o é, mas seria o equivalente a um vazio existencial, uma perdição de sentido.

Pois era eu um homem com fome em uma terra que ninguém dispunha de comida. A questão aqui não é a solidariedade de todos termos fome juntos e ninguém conseguir comer, longe disso. Cada um só come um prato, ou de um cozinheiro, enfim. É uma metáfora, oras, se esforcem.

Aí vem o dia em que alguém me traz um prato de comida. Ali, lindo, suculento. Tenho fome, então as particularidades de seu sabor não me importam tanto. A fome desaparece, satisfeita por uma comida que há muito não era experimentada. Logo após isso o cozinheiro se dá conta de que colocou um pouco mais de tempero do que deveria, e por isso o prato deveria ser recolhido e nunca mais servido. Afinal, que pecado, eu poderia reclamar e eventualmente desgostar de ser temperado demais, de menos, salgado, doce, frito.

Então eu pergunto: existe maldade maior do que oferecer comida a alguém com fome e, por achar que não está perfeita, recolhê-la logo depois de passá-la frente aos olhos do esfomeado?


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Algo em mim diz que eu deveria sentir raiva, quando tudo que eu sinto é vontade de abraçar, ser abraçado, beijar e ser beijado, tudo em duplinhas fofas. O que me matava nunca foi a falta de atenção, mas sim não ter certeza de que eu era gostado. E quando essa certeza veio, e agora não falha, o resto me foi retirado.
Gostaria de saber que, se entrasse correndo de novo no banheiro, um olhar de preocupação viria atrás de mim. Que se eu deitar, poderei receber um abraço amado. Que deitar em camas separadas é um absurdo desnecessário em quase qualquer situação.

É, mundinho, eu continuo amando.

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