domingo, setembro 19, 2010

Across the universe

Vinte e uma horas depois começo a me sentir no controle de algumas palavras, espero que suficientes para contar ao mundo o que está dentro de mim. Andava, até sexta-feira, com duas dúvidas cruéis sobre minha cabeça. Elas versavam, em primeiro lugar, sobre o que estou fazendo aqui no centro-oeste do país, e em segundo, o que atrai meu coração numa pessoa.

É muito difícil entender o que motiva uma pessoa a seguir seu caminho, seja ele qual for. Por muito tempo minha vida foi seguir caminhos grandes, trilhas que eu não precisasse muito esforço ou decisão depois que o caminho houvesse iniciado. Foi assim quando saí do colégio, desta forma ingressei na faculdade, fiz minha especialização e, agora, estou em Goiânia fazendo mestrado. Coloquei, como lugar de chegada, ser um professor e, assim, tocar as pessoas e impedir que suas vidas fossem sem sentido como a minha até então.

Aprendi, com a participação de algumas pessoas, o valor de certo sentimento. Permiti-me, depois de muito esforço, a amar meus amigos. Cada um a seu tempo e com sua maneira, fui sendo tocado e moldado, muitas vezes empurrado e outras levantado. Amando. Perdi o medo de beber, de fumar, de me jogar ao desconhecido. Perdi o medo de ter medo, também, e isso me mostrou que não posso dominar ou controlar tudo, mas sou muito bem capaz de conviver com meus monstros. Eles estão aqui, gritando, chorando, vivendo.

Em meio a tudo isso, porém, sinto-me sozinho. Pensando no universo como algo mais amplo, creio ser óbvio que não, que existem amantes que me querem bem, que me anseiam perto. Hoje assisti a Across the universe e não falho em pensar que uma vida sem amor é uma existência sem sentido. Como bom humano, não tolero a inexistência de sentido. A conclusão óbvia, me parece, é voltar para Porto Alegre e estar próximo dos que eu amo, independentemente de ser professor, estivador ou caixa de cinema. Não é lógico? Meus amores estão lá, vivendo suas vidas e sentindo minha falta, tanto quanto eu sinto a deles. Aqui em Goiânia estou sozinho, sem uma pessoa a quem eu possa pedir um abraço e esquecer-me de quem sou. Aquele tipo de conforto que não tem palavras, mas que inebria e preenche. Se demorei tanto para aprender a amar, que motivo me distancia das pessoas que amo?

Talvez seja egoísmo pensar em voltar agora. Aliás, existe altruísmo? Imagino se meu retorno não me pararia a viagem e me estabeleceria, novamente, fronteiras.

Descobri, por esses dias, que amo alguém aqui em Goiânia. Uma pessoa que já me ofereceu abraços que me deixaram feliz, cujo beijo encaixou no meu. Um alguém que me toca e acalma, anima, conforta. Uma pessoa que surgiu do nada, mas vê o mundo com olhos parecidos com os meus, que entende que nada tem sentido se nós não dermos um, que respira entre o cansaço das vidas cinzas (posso chamá-las de "vidas"?). Uma pessoa com cores que vão muito além da óbvia metáfora sexual.

Essa pessoa era uma estátua de areia e agora bateu o vento.
Eu não quero esquecer o jeito que fui tocado por esses grãos de felicidade, pela límpida certeza de ser amado. Maldita dúvida que permitiu a brisa voar. Por que estamos fadados a viver perdendo, quando podíamos estar ganhando? De fato, o céu azul e isso me faz chorar. Creio que o fará sempre, agora, assim como os campos de trigo fazem a raposa sorrir.


Eu não acredito em amor eterno, tampouco em alma gêmea. Meu romantismo não vai tão longe. Porém eu creio, com toda força, em duas pessoas que se gostam e se esforçam para que suas vidas funcionem em sintonia. Amar alguém não é desejar perfeição.

E ainda agora eu olho para o que já foi um ingresso, já foi uma pulseira, e agora é um coração.

Um comentário:

Anônimo disse...

\o/

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