quarta-feira, setembro 08, 2010

Traição?

Depois de escrever o último post e ficar alguns dias sem acesso ao mundo virtual, segui pensando sobre um tema que havia me proposto discutir, mas deixei passar. O que significa trair alguém?

A resposta parecer ser bastante óbvia quando pensamos em um relacionamento devidamente estabelecido, com suas regras forjadas em toda tradição dos encontros a dois. Contudo, fico imaginando se é mesmo tão evidente. Pensemos, por exemplo, numa tórrida noite de sexo com um amante (e que palavra menos apropriada). Podemos considerar traição quando tudo que esteve envolvido com a outra pessoa foram momentos de prazer, trocas químicas e prováveis contatos físicos? Fico pensando se não seria o caso de considerar traição, juntamente, tudo que envolver o toque com outras pessoas. Apertos de mão? Beijos de cumprimento? Ora, sentir-me-ei traído a partir de agora se um amado meu se abraçar com outra pessoa.

Creio que a perspicácia já permitiu entender o que estou defendendo aqui, não é mesmo? Se o amante, que na verdade não ama, apenas transa, caracteriza traição, então o que está em jogo é uma questão de propriedade. O meu está sendo usado por outra pessoa. É o meu campinho, então eu escolho as regras. Sem a minha bola, ninguém joga. Eu aprendi, na minha formação cultural, que uma das formas de respeitar as outras pessoas é não ofender esse princípio básico de pertencimento. Contudo, ninguém nunca me disse que eu não sou de nenhuma outra pessoa além de mim mesmo. Será que esqueceram de contar que eu não pertenço a ninguém, que do meu corpo o único que pode fazer pleno uso sou eu?

Nesse ponto entra em questão o ciúme, gerado pela ideia de traição. Nos dias recentes me consumi de raiva por conta de uma situação bastante incômoda sob o olhar tradicional dos bons costumes. E como fui bobo ao me entregar a esses desvarios, uma vez que em momento algum algo meu foi violado. Raiva eu entenderia de sentir se houvessem me machucado, roubado ou algo parecido. Se uma promessa me tivesse sido quebrada, pois até o momento entendo que as palavras podem ser entendidas como extensão daquilo que é meu. Se alguém me promete um sorvete e não o dá, bem, há um problema. Um pequenino, mas ainda assim um problema. Porém, se um par romântico dança com outra criatura, sensualiza com amigos e inclusive se permite ser tocado por pessoas não tão amigas (ou com intenções posteriores)... do que posso reclamar? O que de meu há nisso tudo, além do ciúme?

Fiquei pensando, depois de horas me remoendo, se havia algo de acertado em ter raiva do moço da camiseta amarela, ou ainda da criança da floresta. Não foi fácil me convencer de que mesmo um beijo não poderia ser repreendido, não tanto pela inexistência de um compromisso firmado quanto pela não existência de um contrato de dominação. Eu não sou dono do corpo dela e, muito menos, de seus prazeres. Fui criado para acreditar que sim, mas não.

Não tenho certeza como devo encarar isso. Gostaria de ser capaz de eliminar todo ciúme que o mundo me impôs, mas não é tão fácil. Não tomarei atitudes drásticas, isso pra mim é certo. Não travarei confrontos sem fundamentos. Porém, acima de tudo isso, eu ainda tenho certas crenças que, mesmo mudando a cada minuto, ainda significam muito para mim. Esse é o conflito no meio do qual estou agora: acredito que a criança da floresta poderia ter pensado duas vezes antes de se permitir agarrar por uma pessoa com intenções ulteriores, mesmo que nada além de abraços e encoxadas tenha acontecido.

E se tivesse sido dado um beijo, como eu reagiria? O que pensaria a respeito?

Ainda não sei. Sinto, em mim, vontade de me agarrar a um relacionamento tradicional, dada a aparente segurança que ele traz. Certezas são tão menos problemáticas que dúvidas.

Eu queria ter certeza de que pensar tudo isso está me servindo para algo =)

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