segunda-feira, setembro 06, 2010

raposa antropo[loga]mórfica. Ou "relacionamentos"

Hoje acordei bastante pensativo, alimentado que estava de eventos, encontros e elementos. Certo, não eram as palavras que eu utilizaria normalmente, principalmente a terceira, mas achei interessante iniciar tudo com E. Pois então, estou em Goiânia já faz uns seis meses, se não contarmos as férias, e finalmente dei por conta de algo que todo mundo já me avisava aqui. Antes de comentar, porém, preciso fazer uma pequena introdução sobre minha postura teórica a respeito de relacionamentos.

Eu não acredito em monogamia. Percebam, antes mesmo de eu explicar as razões, que não estou falando em não crer em respeito, consideração, amor. O que não concordo é com essas atribuições serem dadas a uma pessoa só, quando existe um mundo gigantesco de possibilidades. Por quê? Bem, pelas minhas experiências, a probabilidade de um casal estabelecido eventualmente sentir atração física por outras pessoas é grande. Dentro disso, há uma larga chance dessa atração, estando contida, gerar desconforto. Essa pequena bolha crescerá e machucará a relação, provavelmente sendo utilizada, algum dia, para justificar (inconscientemente) o término.
Quando entendi que amar alguém não significa ser dono do corpo do outro, ficou mais fácil entender que a poligamia e, principalmente, o poliamor, são práticas possíveis. Remove-se o peso da pertença e do ciúme, liberando os corpos para flutuar entre desejos. É um voto de confiança, pois o medo de aparecer alguém melhor, alguém mais bonito ou algo assim, está ali e se for alimentado com insegurança, tende a se desenvolver.
Não consegui, ainda, experimentar essa relação ao seu máximo. O mais próximo que cheguei disso envolveu ficar com outras pessoas conforme a vontade viesse, mas manter a proximidade com uma pessoa. A inexistência de sentimento, porém, terminou tudo. Falta, sempre, a parte da confiança.
Aí acontece que me interessei por uma criaturinha, ao mesmo tempo em que perdi interesse por outros. Talvez seja algo passageiro e logo retorne meu sempre tão aflorado desejo, mas posso dize que hoje eu não desejo nenhuma outra pessoa, mesmo que em uma festa eu receba um "passe livre" pra fazer o que quiser, ficar com quem eu olhar etc.

Certo, agora uma pausa para analisar o povo goianiense. Quando vim aqui pela primeira vez, em dezembro, e fui a uma festa, descobri um peguetinho que alternava entre ficar comigo e sensualizar com seus amigos. Essa sensualidade toda envolvia abraços fortes, carinhos lascivos e esfregadas entre partes íntimas. Fiquei incomodado, mas tudo bem, era apenas uma noite, um menino que não entraria pra minha vida e uma incerteza de passar no mestrado.
Então cheguei em fevereiro e engatei um relacionamento de dois meses. Já inspirado nas minhas crenças, tentei algo aberto, mas houve um desencontro de entendimentos e acabou que nós dois tínhamos duas relações ao mesmo tempo, cada um com as suas regras. E ainda que eu não houvesse percebido, ainda, a semelhança, meu digníssimo também se envolvia em rituais de contato físico acentuado com seus amigos e, inclusive, com alguns desafetos. Bem, no caso dele, não existiam desafetos, ele sempre foi todo diplomático, todo "não quero perder meu lugar na noite". Bem, é a personalidade de cada um.
Terminamos, e eu segui pra minha rotina de pegações desenfreadas. Beijo, sexo, amasso, conversa, eventualmente algo divertido. Sem envolvimento sentimental, estive bastante livre de problemas com as questões que venho descrevendo.
Então comecei com o moço da química, que até hoje me rende referências das pessoas que souberam que eu estava me relacionando. Bem, realmente parecia que iria pra frente, na estrutura de uma relação não nomeada que, na mão dos dois, era bem compreendida. O seu fim não veio por desencontros, mas por insatisfação, mesmo. O modelo não era adequado para os dois, infelizmente. O que reparei, mas pela primeira vez não me incomodei, foi que a dança servia de desculpa para os mesmos afagos e agarramentos. Participei de alguns, especialmente os que não envolviam músicas, mas sim quatro ou cinco pessoas numa mesma cama.

Então cheguei ao hoje. Estou interessado em um certo nível que moveu algo de sentimento. E por entender que meu desejo por outros esmaeceu, chamei isso de "interesse monogâmico". Até o momento temos quinze dias de algo indefinido, tempo em que estamos apenas começando a conhecer uma pessoa. Já descobri que nossos gostos são muito parecidos, acho o sexo realmente agradável (coisa rara nas minhas experiências) e a companhia dele me alegra. Estar de mãos dadas, mesmo em silêncio, ou abraçados, ou cabeça no colo; tudo isso me deixa meio nas nuvens.
Porém, ontem descobri que o padrão goianiense também se aplica. Lá estavam as mesmas brincadeiras, as mesmas permissões. Senti ciúme.

Pensando sobre isso e como descreveria nesta escrita, me dei conta de que, ao pensar em ser monogâmico, lembrei-me de como um relacionamento podado socialmente costuma ser. Abandonei dos meus pensamentos todas as ideias de liberdade de corpos e fiquei agarrado às tradicionais noções de traição e controle das ações do outro.
Eu não tenho um relacionamento com regras estabelecidas, no momento. Tudo que tenho é "indefinição" e falta de vontade de ficar com outras pessoas, além de ciúme do corpo dele. Realmente senti que queria que fosse apenas meu para proteger num quarto afastado de todos. Estou confuso, agora que teorizo a respeito, pois sinto uma coisa, mas penso outra.

Ah, pra concluir minhas dúvidas, a maior parte dos goianienses defendem a monogamia. Desses que mencionei, apenas um apreciou a ideia de algo poli. Fico, então, confuso demais. Como resolver essas questões? Devo me agarrar aos sentimentos e permanecer triste por me sentir deixado de lado, enquanto corpo? Ou devo lembrar-me do que acho intelectualmente correto e entregar-me às trocas de carícias que essa cidade tanto preza?

Eu associei, como é tão fácil aos viventes da nossa cultura, reclusão à demonstração de sentimento. Se privar, sacrificar, como forma de se mostrar interessado. Não sair com os amigos, não deixar eu passar sem vir atrás, me procurar até encontrar, misturei tudo isso com a palavra "gostar". Como se fossem sinais obrigatórios, características fundadoras do sentimento. Isso tudo me prova que, apesar de meu raciocínio ser muito libertário, ainda meu coração não entendeu como deveria reagir ao mundo. [o que é curioso, devo dizer, se considerarmos que cérebro e coração deveriam ser uma coisa só]

Ainda não sei o que fazer, o que pensar, o que sentir.
Sei o que estou fazendo, pensando e sentindo.



* * * * *

(8) One day I'll grow up and be a beautiful woman
but for today I am a boy (8)

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