terça-feira, junho 25, 2013
Aquela xícara de chá
Enquanto eu escrevo furiosamente – mas sem fúria nenhuma, apenas furor –, tu me observa ora de canto de olho, ora do canto da sala. Tu me sabe, entende que esses momentos não são de ninguém, não são de nós e certamente não são de mim mesmo. São do texto, das letras, da imaginação poética. Envolvido e encantado, demoro a perceber que tu já não está mais ali no canto a me esperar. Eu entendo, o amor às letras é tão antigo, tão de infância que não há como lutar contra ele, que está lá desde que me reconheci pela primeira vez. Algumas vezes adormecido, mas jamais esquecido. Como confrontar algo que é tão antigo quanto a minha identidade? Tu não é o primeiro a desistir, a ceder frente à impossibilidade de superar esse amor antigo. Daí que me assusto quando te noto ao meu lado. Não tinha fugido? Não, tinha ido fazer o que faz de melhor: com uma xícara de chá quentinho nas mãos, estava ali a cuidar de mim. Pelo jeito tu sabe bem escolher as tuas lutas e eu, os meus amores.
quinta-feira, junho 13, 2013
Sou um escritor
(postei originalmente no Facebook da Raposa)
A Raposa chega no seu restaurante favorito para almoçar. Come sozinha e depois vai pagar. No caixa, a dona do Acanto Restaurante pergunta sobre minha (aparente) solidão e respondo que almoço sozinho porque tenho mais "tempo livre" que meus amigos e amores. Ela me questiona sobre o que faço, isso claro, se eu lhe permito a curiosidade.
Não só "permito" como respondo: sou professor e escritor. Escritor de quê?, ela pergunta. Contos, eu respondo. Ao término da conversa, atrapalhada por outros clientes querendo pagar a conta, prometo levar um livro meu para que ela conheça.
Primeiro pensamento depois disso, caminhando para casa: puxa, eu deveria ter dito que sou iniciante e só tenho um livro.
Segundo pensamento: que nada, o fato de só ter um livro com texto meu publicado não faz de mim iniciante, faz de mim iniciado.
Terceiro pensamento: tão lindo eu me apresentar como escritor e não como qualquer outra coisa (estudante, revisor, diagramador, jornalista e tantas outras coisas que já fui).
Quarto e último pensamento: eu sou escritor sim e agradeço àEditora Escândalo por haver me lembrado disso com o livro Loveless.
Não só "permito" como respondo: sou professor e escritor. Escritor de quê?, ela pergunta. Contos, eu respondo. Ao término da conversa, atrapalhada por outros clientes querendo pagar a conta, prometo levar um livro meu para que ela conheça.
Primeiro pensamento depois disso, caminhando para casa: puxa, eu deveria ter dito que sou iniciante e só tenho um livro.
Segundo pensamento: que nada, o fato de só ter um livro com texto meu publicado não faz de mim iniciante, faz de mim iniciado.
Terceiro pensamento: tão lindo eu me apresentar como escritor e não como qualquer outra coisa (estudante, revisor, diagramador, jornalista e tantas outras coisas que já fui).
Quarto e último pensamento: eu sou escritor sim e agradeço àEditora Escândalo por haver me lembrado disso com o livro Loveless.
quarta-feira, junho 12, 2013
Aquele velho medo
Ontem desenterrei um medo antigo que achava que já havia matado. Mentira, sempre soube que ele só estava trancafiado em algum porão da minha mente. Ontem ele se viu livre das minhas amarras – tão frágeis! – e ainda zombou de mim.
Aconteceu durante um evento do programa de pós-graduação em Arte e Cultura Visual. Eu havia submetido um trabalho para apresentação e, selecionado, deveria apresentá-lo ontem. Perfeito, eu já tinha a apresentação ajeitada desde minha última participação em evento acadêmico, ano passado (em minha defesa, o público era completamente diferente, então ninguém foi obrigado a me assistir falando as mesmas coisas duas vezes). Até aí tudo bem, separei minhas coisas, levei o arquivo da minha apresentação na pendrive e no e-mail, cheguei lá e sem dificuldades instalei o arquivo para quando chegasse a minha vez. Quatro pessoas apresentariam na minha frente.
Antes da primeira apresentação começar, a sala foi enchendo. Fiquei maravilhado com a qualidade do público, mestres e doutores e pós-doutores, todos do mais alto gabarito. Um deles, em particular, acordou dentro de mim esse monstrinho feito de medo e inconsistência de raciocínio. Fim das três apresentações, discussões, intervalo. Todo mundo saiu da sala. Dentro de meia hora seria a minha vez. Quando voltamos da interrupção menos da metade das pessoas retornou. Aqui uma crítica, embora eu enxergue o sentido: os três primeiros apresentantes eram professores gabaritados de altas instituições, enquanto os três restantes eram um mestrando e dois recém-mestres. Tudo bem, tudo bem, ainda não temos esse prestígio todo.
Durante metade da apresentação, tudo bem. Sala com algumas pessoas, mas ninguém para me deixar particularmente nervoso. Até que ele voltou, trazendo consigo não apenas a presença, mas também os medos e assuntos não resolvidos. Por horas durante o intervalo de quinze minutos imaginei conversas e respostas e perguntas e até mesmo tiradas altamente intelectuais que pudessem acontecer entre nós, mas o que transcorreu entre nós foi o silêncio. Levantei, apresentei o meu trabalho, e não sei se por cortesia ou desinteresse, meu monstrinho partiu logo após a minha fala.
Anos atrás, quando eu praticava aikido, uma arte marcial que prima pela harmonia e pela defesa, não pelo ataque, conheci um praticante faixa preta que era extremamente agressivo, ao menos para os meus padrões de raposa delicada. Eu não gostava dele, mas ao mesmo tempo nutria certa admiração. Eu tinha medo dele, na verdade. Encontrá-lo no tatame e treinar com ele eram suplícios para mim e, abruptamente, se tornaram motivos para desistir da arte marcial que eu já treinava havia três anos. Pensar nele por muito tempo significou despertar raivas e frustrações. Raiva de alguém que é completamente diferente do que eu gostaria que fosse, frustração por ter sido desafiado além dos meus limites e obrigado a enxergar esses contornos mais do que bem definidos. Hoje tenho certeza que o que me ofendeu e fez fugir não foi a agressão – controlada –, mas a percepção do meu próprio limite.
Tudo isso voltou ontem ao cruzar com alguém que teve o mesmo efeito de admiração e medo. Por bastante tempo troquei a admiração por raiva como justificativa ideológica para tocar a vida sem me aperceber dos limites que foram expostos feito ferida aberta. Tudo isso passava pela minha cabeça ontem depois das apresentações, depois dos encontros forçados, porém não dialogados. Não havia muito o que dizer além de oi e tudo bem, nem para mim nem para ele. Ou eles, pois se deixarmos esses medos e desconfortos se multiplicam fácil.
A vida, porém, essa velha ousada, não ia me deixar em paz. Cruzamo-nos no banheiro, só eu e ele, na porta, de modo que precisamos parar frente um ao outro. Foi o suficiente para uma pergunta e para a minha tão alardeada inteligência fugir correndo para algum lugar inalcançável. Respondi qualquer besteira que minutos depois não fazia sentido nem mesmo para mim. Fui embora com o peso de um encontro marcado pela minha inabilidade de resolver meus próprios medos.
Se aprendi alguma coisa ontem, foi que enterrar medos não os resolve. Eles continuam lá esperando uma fresta pela qual possam passar. E passam, ah como passam.
Aconteceu durante um evento do programa de pós-graduação em Arte e Cultura Visual. Eu havia submetido um trabalho para apresentação e, selecionado, deveria apresentá-lo ontem. Perfeito, eu já tinha a apresentação ajeitada desde minha última participação em evento acadêmico, ano passado (em minha defesa, o público era completamente diferente, então ninguém foi obrigado a me assistir falando as mesmas coisas duas vezes). Até aí tudo bem, separei minhas coisas, levei o arquivo da minha apresentação na pendrive e no e-mail, cheguei lá e sem dificuldades instalei o arquivo para quando chegasse a minha vez. Quatro pessoas apresentariam na minha frente.
Antes da primeira apresentação começar, a sala foi enchendo. Fiquei maravilhado com a qualidade do público, mestres e doutores e pós-doutores, todos do mais alto gabarito. Um deles, em particular, acordou dentro de mim esse monstrinho feito de medo e inconsistência de raciocínio. Fim das três apresentações, discussões, intervalo. Todo mundo saiu da sala. Dentro de meia hora seria a minha vez. Quando voltamos da interrupção menos da metade das pessoas retornou. Aqui uma crítica, embora eu enxergue o sentido: os três primeiros apresentantes eram professores gabaritados de altas instituições, enquanto os três restantes eram um mestrando e dois recém-mestres. Tudo bem, tudo bem, ainda não temos esse prestígio todo.
Durante metade da apresentação, tudo bem. Sala com algumas pessoas, mas ninguém para me deixar particularmente nervoso. Até que ele voltou, trazendo consigo não apenas a presença, mas também os medos e assuntos não resolvidos. Por horas durante o intervalo de quinze minutos imaginei conversas e respostas e perguntas e até mesmo tiradas altamente intelectuais que pudessem acontecer entre nós, mas o que transcorreu entre nós foi o silêncio. Levantei, apresentei o meu trabalho, e não sei se por cortesia ou desinteresse, meu monstrinho partiu logo após a minha fala.
Anos atrás, quando eu praticava aikido, uma arte marcial que prima pela harmonia e pela defesa, não pelo ataque, conheci um praticante faixa preta que era extremamente agressivo, ao menos para os meus padrões de raposa delicada. Eu não gostava dele, mas ao mesmo tempo nutria certa admiração. Eu tinha medo dele, na verdade. Encontrá-lo no tatame e treinar com ele eram suplícios para mim e, abruptamente, se tornaram motivos para desistir da arte marcial que eu já treinava havia três anos. Pensar nele por muito tempo significou despertar raivas e frustrações. Raiva de alguém que é completamente diferente do que eu gostaria que fosse, frustração por ter sido desafiado além dos meus limites e obrigado a enxergar esses contornos mais do que bem definidos. Hoje tenho certeza que o que me ofendeu e fez fugir não foi a agressão – controlada –, mas a percepção do meu próprio limite.
Tudo isso voltou ontem ao cruzar com alguém que teve o mesmo efeito de admiração e medo. Por bastante tempo troquei a admiração por raiva como justificativa ideológica para tocar a vida sem me aperceber dos limites que foram expostos feito ferida aberta. Tudo isso passava pela minha cabeça ontem depois das apresentações, depois dos encontros forçados, porém não dialogados. Não havia muito o que dizer além de oi e tudo bem, nem para mim nem para ele. Ou eles, pois se deixarmos esses medos e desconfortos se multiplicam fácil.
Você não pode se livrar de seus medos, mas pode aprender a viver com eles. - Mais chá? |
A vida, porém, essa velha ousada, não ia me deixar em paz. Cruzamo-nos no banheiro, só eu e ele, na porta, de modo que precisamos parar frente um ao outro. Foi o suficiente para uma pergunta e para a minha tão alardeada inteligência fugir correndo para algum lugar inalcançável. Respondi qualquer besteira que minutos depois não fazia sentido nem mesmo para mim. Fui embora com o peso de um encontro marcado pela minha inabilidade de resolver meus próprios medos.
Se aprendi alguma coisa ontem, foi que enterrar medos não os resolve. Eles continuam lá esperando uma fresta pela qual possam passar. E passam, ah como passam.
segunda-feira, junho 10, 2013
A busca por um apartamento
Decidi comprar um apartamento aqui em Goiânia. Já gastei dinheiro demais com aluguel e penso que essa compra pode redirecionar meu dinheiro para algo que, a longo prazo, seja totalmente meu, enquanto o aluguel vai lenta e permanentemente escorrendo a minha conta bancária. Hoje passei o dia caminhando no sol em busca de valores e possibilidades. O resultado foi, na maior parte das vezes, desanimador, mas há um fiapo de esperança, contanto que eu abrace a possibilidade de mudar completamente de vida.
Eu sabia que seria assim. Toda grande mudança vem com esse chacoalhar de experiências. Talvez nada significativo mude, ao fim desse processo todo, talvez eu tenha a possibilidade de encontrar uma vida completamente diferente. Não sei. Ainda é algo a se deixar o tempo resolver.
Eu sabia que seria assim. Toda grande mudança vem com esse chacoalhar de experiências. Talvez nada significativo mude, ao fim desse processo todo, talvez eu tenha a possibilidade de encontrar uma vida completamente diferente. Não sei. Ainda é algo a se deixar o tempo resolver.
sábado, junho 08, 2013
Pequeno projeto: abraçar quem a gente gosta
Em uma noite em que tudo estava mal e a ponto de explodir, ele entrou em casa apressado. Assalto, dia longo de trabalho, ônibus lotado – queria esquecer isso tudo. Olhou para um lado, olhou para outro, mas em canto algum encontrou o que precisava. Jogou-se no sofá para se relacionar com o desespero e a solidão, fragilizado pelo silêncio, mas então um pequeno som levantou-se em esperança: as chaves na porta. Quando ela se abriu, ergueu-se e sem limpar as lágrimas jogou-se aos braços da pessoa amada. Assalto, dia longo, ônibus lotado – tudo isso sumiu num instante que, enquanto durou o abraço, durou para sempre.
quarta-feira, junho 05, 2013
Pequeno projeto: cozinhar algo novo que fique gostoso
Conforme comecei a aprender a cozinhar, fui descobrindo que não estava apenas fazendo comida. O que eu fazia toda vez que acendia o fogo e borbulhava ingredientes não era cozinhar alimentos nem organizar refeições. Era feitiçaria, artesania, criação poética. Cada novo prato ou combinação abria um leque de possibilidades de atuação sobre a vida. Cozinhar é exatamente isso: atuar sobre a vida, sobre aquilo que nos mantém vivos.
Sempre admirei, quando criança, a maneira inventiva com que meu padrasto cozinhava. Percebia nele um grandioso prazer em transformar ingredientes soltos em prazer estésico, em sabor. Na época, para minha atual tristeza e, suponho, decepção passada dele, eu não me interessava em conhecer esses ofícios secretos que envolvem transformar o cru no cozido, no frito e no assado. Eu achava, e muitas vezes ainda me pego achando, que não precisava exercer nenhum poder sobre o mundo e que isso seria liberdade de verdade, viver sem me comprometer, sem colocar as mãos na massa (que metáfora apropriada!). Tolinho, eu.
Cozinhar algo novo que fique gostoso é parte do meu pequeno projeto para dias felizes porque é daquelas coisas que não envolvem apenas resolver problemas cotidianos: envolve encantar os paladares alheios, reunir pessoas queridas e dar sustento aos corpos. Envolve também ter algum controle ou influência sobre o que acontece na vida, ao invés de apenas deixar-se levar pelos rios do tempo.
Como todo conhecimento, o saber cozinhar também amplia a forma como vemos o mundo. Hoje percebo sabores que antes passavam em branco. Isso sem contar as amizades que se aprofundaram ao redor de mesas ou de fogões e os carinhos que se demonstram no cuidado quentinho de um prato gostoso. Cozinhar é algo sério e, principalmente, feliz. Cada minuto passado na frente do fogão me remete a todos os sabores que vivi, temperados com amores e cuidados de quem dedicou seu tempo a me permitir o paladar. Cozinhar não é perda de tempo: é investimento.
Sempre admirei, quando criança, a maneira inventiva com que meu padrasto cozinhava. Percebia nele um grandioso prazer em transformar ingredientes soltos em prazer estésico, em sabor. Na época, para minha atual tristeza e, suponho, decepção passada dele, eu não me interessava em conhecer esses ofícios secretos que envolvem transformar o cru no cozido, no frito e no assado. Eu achava, e muitas vezes ainda me pego achando, que não precisava exercer nenhum poder sobre o mundo e que isso seria liberdade de verdade, viver sem me comprometer, sem colocar as mãos na massa (que metáfora apropriada!). Tolinho, eu.
Cozinhar algo novo que fique gostoso é parte do meu pequeno projeto para dias felizes porque é daquelas coisas que não envolvem apenas resolver problemas cotidianos: envolve encantar os paladares alheios, reunir pessoas queridas e dar sustento aos corpos. Envolve também ter algum controle ou influência sobre o que acontece na vida, ao invés de apenas deixar-se levar pelos rios do tempo.
Como todo conhecimento, o saber cozinhar também amplia a forma como vemos o mundo. Hoje percebo sabores que antes passavam em branco. Isso sem contar as amizades que se aprofundaram ao redor de mesas ou de fogões e os carinhos que se demonstram no cuidado quentinho de um prato gostoso. Cozinhar é algo sério e, principalmente, feliz. Cada minuto passado na frente do fogão me remete a todos os sabores que vivi, temperados com amores e cuidados de quem dedicou seu tempo a me permitir o paladar. Cozinhar não é perda de tempo: é investimento.
terça-feira, junho 04, 2013
Desculpas a um amigo
Nesse fim de semana de felicidades e sorrisos aprendi uma coisa importante sobre amizades: nem sempre liberdade para ser amigo significa que não machucaremos a quem gostamos. Aprendi isso com uma aula prática no percurso de um elevador.
Para começar, me defendo com a crença que amizades não devem ter limites, devemos poder dizer tudo para aquelas que compartilham laços de carinho e confiança conosco. Realmente acredito nisso, pois sem essa abertura, nós estaremos sendo parceiros, companheiros, colegas... mas não necessariamente amigos. Tenho ainda essa visão ingênua, porém esperançosa, da amizade como algo que transcende as relações humanos típicas, essas cheias de fingimentos e segundas intenções.
Mas, contudo, porém, entretanto... ter liberdade para falar qualquer coisa não significa que podemos falar qualquer coisa a qualquer hora. Algumas vezes me falta tato para perceber quando seria melhor ficar quieto, quando seria melhor deixar que uma ferida se feche um pouco, se cure um pouquinho, antes de colocar o dedo nela mais uma vez. Cada um tem o seu tempo e, principalmente, a sua vida para lidar. Eu ser amigo não me dá o direito mágico de entrar na vida alheia e bagunçar as temporalidades de cada um. O que eu ser amigo deveria me dar é o poder de escutar, de abraçar para curar e, num momento mais calmo ou menos dolorido, dizer e conversar.
Um bom amigo, algo que em vários momentos não fui (no fim de semana ou na vida), provavelmente escutaria mais do que diria. Um bom amigo não é aquele que toma as decisões por nós e nos diz (manda aos gritos!) o que fazer, mas sim aquele que nos dá a mão para ajudar a retomar um bom caminho ou para comemorar uma escolha feliz. Ter o poder de ser absolutamente sincero e transparente não quer dizer que isso seja a mesma coisa que ter que fazer isso sempre.
Algumas vezes, o silêncio é tudo que uma amizade precisa para cultivar reflexões, carinhos e, principalmente, presenças. Peço desculpas ao amigo que, ao invés de ouvir, fiz calar.
Para começar, me defendo com a crença que amizades não devem ter limites, devemos poder dizer tudo para aquelas que compartilham laços de carinho e confiança conosco. Realmente acredito nisso, pois sem essa abertura, nós estaremos sendo parceiros, companheiros, colegas... mas não necessariamente amigos. Tenho ainda essa visão ingênua, porém esperançosa, da amizade como algo que transcende as relações humanos típicas, essas cheias de fingimentos e segundas intenções.
Mas, contudo, porém, entretanto... ter liberdade para falar qualquer coisa não significa que podemos falar qualquer coisa a qualquer hora. Algumas vezes me falta tato para perceber quando seria melhor ficar quieto, quando seria melhor deixar que uma ferida se feche um pouco, se cure um pouquinho, antes de colocar o dedo nela mais uma vez. Cada um tem o seu tempo e, principalmente, a sua vida para lidar. Eu ser amigo não me dá o direito mágico de entrar na vida alheia e bagunçar as temporalidades de cada um. O que eu ser amigo deveria me dar é o poder de escutar, de abraçar para curar e, num momento mais calmo ou menos dolorido, dizer e conversar.
Um bom amigo, algo que em vários momentos não fui (no fim de semana ou na vida), provavelmente escutaria mais do que diria. Um bom amigo não é aquele que toma as decisões por nós e nos diz (manda aos gritos!) o que fazer, mas sim aquele que nos dá a mão para ajudar a retomar um bom caminho ou para comemorar uma escolha feliz. Ter o poder de ser absolutamente sincero e transparente não quer dizer que isso seja a mesma coisa que ter que fazer isso sempre.
Algumas vezes, o silêncio é tudo que uma amizade precisa para cultivar reflexões, carinhos e, principalmente, presenças. Peço desculpas ao amigo que, ao invés de ouvir, fiz calar.
segunda-feira, junho 03, 2013
É preciso ser prático para voar
Eu não sou uma raposa prática. Penso e escrevo sobre tudo que cruza meu caminho, mas na hora de agir a coisa fica meio travada. Não que eu não faça as coisas, volta e meia vou lá e faço mesmo. Na maior parte das vezes por impulso. Foi assim com o lançamento do livro que hospeda meu primeiro conto. Ia, não ia, ia, não ia, aí minha mãe falou que eu gostaria de estar lá, concordei e comprei as passagens.
Passagem barata comprada, um mês depois vou ao aeroporto com o digníssimo. Também comprei a dele, umas duas semanas depois da minha, para o mesmo dia e mais ou menos o mesmo horário. O mesmo voo não foi possível. Tudo bem, fazer o quê? Estamos no guichê para fazermos o check in e descubro que vamos para aeroportos diferentes. Ele Congonhas e eu Garulhos. Detalhe: eu já havia organizado com meus amigos de me encontrarem em Congonhas. Horário certo, lugar errado.
Diga-se de passagem, essa não foi minha única confusão prática envolvendo companhias aéreas. Final de dezembro do ano passado tive a linda surpresa de descobrir a função do check in quando perdi um voo por não realizar o danado. Logo, ele serve para confirmar que você estará no voo e, caso não seja feito, significa que a sua vaga será ocupada por outra pessoa. Isso acontece trinta minutos antes do voo partir, o momento exato em que cheguei porque esqueci que precisava ligar para a companhia de táxi com antecedência. Que culpa eu tenho se os táxis não são instantâneos?
Foi como quando eu viajei para os Estados Unidos. Para variar, estava atrasado. Véspera de natal, nenhuma companhia de táxi respondia às minhas ligações. Saí com um malão enorme na rua procurando por um táxi livre e desimpedido, mas pelo jeito todos taxistas têm famílias com as quais passam o dia 24 de dezembro. Fui salvo pela sorte (de encontrar um colega), já que o juízo (de me organizar e antecipar) faltou. Pelo que a vida tem mostrado, espero continuar com um estoque de sorte no bolso por bastante tempo, porque o juízo está demorando pra aparecer...
Passagem barata comprada, um mês depois vou ao aeroporto com o digníssimo. Também comprei a dele, umas duas semanas depois da minha, para o mesmo dia e mais ou menos o mesmo horário. O mesmo voo não foi possível. Tudo bem, fazer o quê? Estamos no guichê para fazermos o check in e descubro que vamos para aeroportos diferentes. Ele Congonhas e eu Garulhos. Detalhe: eu já havia organizado com meus amigos de me encontrarem em Congonhas. Horário certo, lugar errado.
Diga-se de passagem, essa não foi minha única confusão prática envolvendo companhias aéreas. Final de dezembro do ano passado tive a linda surpresa de descobrir a função do check in quando perdi um voo por não realizar o danado. Logo, ele serve para confirmar que você estará no voo e, caso não seja feito, significa que a sua vaga será ocupada por outra pessoa. Isso acontece trinta minutos antes do voo partir, o momento exato em que cheguei porque esqueci que precisava ligar para a companhia de táxi com antecedência. Que culpa eu tenho se os táxis não são instantâneos?
Foi como quando eu viajei para os Estados Unidos. Para variar, estava atrasado. Véspera de natal, nenhuma companhia de táxi respondia às minhas ligações. Saí com um malão enorme na rua procurando por um táxi livre e desimpedido, mas pelo jeito todos taxistas têm famílias com as quais passam o dia 24 de dezembro. Fui salvo pela sorte (de encontrar um colega), já que o juízo (de me organizar e antecipar) faltou. Pelo que a vida tem mostrado, espero continuar com um estoque de sorte no bolso por bastante tempo, porque o juízo está demorando pra aparecer...
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