domingo, julho 31, 2011

Aprendendo

Existe algo de peculiar na maneira como eu aprendo, o que portanto se reflete no modo como eu ensino.

Sexta-feira fui ao chorinho, um evento semanal que acontece a céu aberto em uma avenida de Goiânia, e lá cruzei com um aluno meu da educação a distância em artes visuais. Ficamos um largo tempo conversando, e em certo instante ele disse algo como "é, eu reparei que você não entende de cultura popular quando eu perguntei sobre isso e você falou que iria perguntar para sua orientadora". Logo em seguida, quando ele me perguntou sobre o que eu estava pesquisando no mestrado e eu comentei que tinha ligação com a ideia de conhecimento, ele me perguntou quem eu estava utilizando para estudar.
Há algo nessas duas situações que me incomoda: o que o menino em questão avalia que significa entender algo e como o conhecimento deve ser construído na academia. Eu não encarei a questão quem você está usando como mera curiosidade intelectual, mas sim como um meio de testar minha postura epistemológica e aferir meu conhecimento sobre o assunto. Aferir meu conhecimento. Tive um professor na faculdade que dizia que conhecimento é algo que se empilha, vamos aprendendo e cada vez sabendo mais. Quantidade.

Vou chamar minha forma de aprendizado de holística. Eu realmente não tenho interesse em saber o que Fulano, Sicrano ou Beltrano falam a respeito de um determinado assunto, salvo se de alguma forma eles me tocam, se eu posso dialogar com eles.

Um dia inventei de discutir sobre teoria queer com um amigo que morava no quarto ao lado, e nossa discussão girava em torno de se afirmar gay ou se manter sem nomeações, e qual das duas opções seria mais apropriada como uma manifestação política que se dispusesse a enfrentar preconceitos. Em certo momento, o fato de eu estar recém me aproximando da teoria foi posto em questão, como se o queer fosse o único caminho através do qual eu pudesse chegar nas mesmas conclusões que seus teóricos chegaram (o que presume, aliás, que ler e estudar quem escreve é antes de qualquer coisa uma tentativa de assimilar, ao invés de se afetar). Tive a oportunidade de mencionar um caso em que, nos meus tempos (virginais) de escola, recitei uma das bases da teoria queer sem, obviamente, jamais ter lido algo a respeito. Para mim era óbvia a constatação que eu fiz, e cheguei a ela pelas trilhas da minha experiência de vida.

O que fica implícito nessa noção quantofrênica do conhecimento é que ler mais significa saber mais. Talvez isso até esteja correto. Contudo, mais me preocupa saber melhor, no sentido de conseguir empregar esse conhecimento que venho adquirindo (e enfrentando) para guiar o que um ex-professor meu chamou de "projeto de existência". Aliás, deixe-me riscar o ex, pois fora do ambiente acadêmico ele segue me ensinando muito, logo seria ingenuidade tirar-lhe o papel de professor.
Até pouco tempo atrás eu tinha certeza de que desejava ser professor (essa certeza esmaeceu, embora as razões para que eu a tenha imaginado inicialmente permaneçam as mesmas), porém a ideia de que o professor é aquele que sabe muito me incomoda demais. Não sei se tenho condições e se minha forma de aprendizado me permite encarnar esse papel, mesmo que seja apenas durante períodos em que eu esteja sendo avaliado como digno ou não de ser professor (nas instituições que podem me conferir esse poder).

Essa é a minha atual crise: vale a pena pagar o preço cobrado para me enquadrar, ou existirão alternativas para que minha vida siga tendo sentido e prazer da forma como eu imaginei que deveria ser?

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