terça-feira, agosto 14, 2012

O segredo das raspas de limão



Fiz guisado com raspas de limão. Muitas. Desde que comecei a cozinhar, o meu problema tem sido basicamente temperar as comidas. Desde quarta-feira passada, porém, quando tive minha primeira aula de culinária, isso começou a mudar. Não é um curso nem nada: é uma amiga se dedicando a me ajudar. O lado (ainda mais) bom é continuarmos perto, convivendo e nos afetando.

Amanhã será noite de massas e vinho. Ou vinhos. Quando questionado, disse que queria aprender molhos, pois eles são a minha grande fraqueza. Acho que esse é o modelo de escola que eu queria para a vida: tu encontra alguém que queira e possa te ensinar, tu te aproxima, te aninha e aprende pelo convívio, pela disposição em compartilhar o que se sabe com alguém que quer aprender. Ah, filosofias!

E sabe que, de tanto olhar, até estou apreciando a foto?

domingo, agosto 12, 2012

Eu tive um sonho

Meus sonhos e minhas lembranças do que sonhei não costumam ser tão organizadas como os de hoje. Começou tudo com um lago e pessoas nadando e um menino que eu conheci brevemente em um evento aqui em Goiânia. Como ele não mora aqui, não tivemos muita chance de conviver, tampouco de desenvolver as potencialidades da nossa relação. Sempre fico pensando o que viraríamos, se amigos, se namorados, se desconhecidos. No sonho, entrei no lago com ele, que estava também com a família, e passamos algum tempo nadando juntos, conversando e tal. Embora o "e tal" possa ser considerado, em certos círculos, como pornográfico, foi bastante leve, muito mais fofo do que hardcore. No sonho eu tinha meu atual celular, que estava no meu bolso e por isso não molhou (?). Aí no meio da coisa toda eu parei para mandar um e-mail e verificar a situação do presente de formatura de um amigo. Como nada estava se resolvendo, dei um pulo na casa do irmão desse amigo e conversamos sobre os presentes possíveis, quem faria o quê etc. Não fosse o bastante, ajudei a mãe do moço do lago a encontrar um restaurante, ao mesmo tempo em que fui na casa do meu pai, que no sonho tinha uma loja (online?) de carpintaria.

Ou seja: meu sonho foi louco.

sábado, agosto 11, 2012

O segundo sol - Cássia Eller



Hoje estou pensativo, e o CD da Cássia Eller só está ajudando. Ouvi essa música pela primeira vez em um passeio de carro com a minha família. Estávamos cruzando uma cidade que estou em dúvida se é Novo Hamburgo, Cachoeirinha ou São Leopoldo. Eu ainda achava até uma semana atrás que ela cantava "derrubando com as sondas de Antar", e não "com assombro exemplar". Antar, Antares, sabe?

Essa música sempre me remete a algumas lembranças de escola, particularmente por volta da sétima série. Eu era ainda BV. É, Boca Virgem, nunca tinha beijado ninguém e, como qualquer criança da minha idade, isso assumia proporções absurdas de pressão e desejo de deixar de ser. É como não saber falar de sexo após uma certa idade - dependendo do contexto, a partir dos treze ou catorze, se tu ainda não te gaba sobre haver transado, tu é virgem e todos vão rir -, o que eu certamente passei muito tempo sem saber. Aí ocorre que um dia eu tinha aula de Educação Física e o céu ficou verde. Sim, verde, pergunta para qualquer colega meu e eles vão afirmar com veemência que também lembram dessa mesma tarde. Eu acho tão espantoso que as pessoas ainda lembrem disso, mas pelo menos não foi uma alucinação apenas minha. Por volta do mesmo período havia uma previsão de Nostradamus de que o mundo acabaria. Acho que acabaria inclusive naquele dia. Ou seja: céu verde, mundo acabando.

Minha tarefa na Educação Física era, junto com as meninas e os garotos que não curtiam futebol, ficar dando voltas na quadra. Tudo bem, era até divertido aquele momento de caminhada conversante. O que não era divertido eram as perguntas do tipo "o que fazer se o mundo for mesmo acabar hoje?", que pululavam entre meus colegas. Eu não queria confessar o que estava na minha cabeça o tempo inteiro: beijar aquela colega que eu tanto gostava. Sim, aquela, pois nessa época era inconcebível para mim querer ou desejar um menino. (Bem, não tanto inconcebível quanto impossível de pensar. Eu sabia que tinha tesão, que queria, que isso me atraía e que eu até tentaria avançar sobre um ou outro moço, sempre sem sucesso, mas não conseguia manifestar isso linguisticamente nem mesmo para mim. Era esquisito, ainda preciso estudar mais sobre isso.)

Fiquei um bom tempo naquele dia ensaiando como me aproximaria da dita colega e lhe beijaria. Não seria possível falar, pedir, ela talvez quisesse outras pessoas. Ou quem sabe me amasse tanto quanto eu a ela, óh!. Sério, a Disney e a Sessão da Tarde contaminavam muito o meu entendimento do que era amor e como ele se processa. Não que eu saiba hoje, verdade seja dita. Cheguei à conclusão de que eu não sei me relacionar com pessoas. Não sei ser namorado, não sei ser amigo, só sei ser eu e estar aqui, o que muitas vezes não é suficiente. Há quem goste, verdade, mas eu sinto que deveria fazer um esforço, algo voltado para isso, mas simplesmente não acontece. Passa despercebido. Ou só percebo depois. É, eu sempre percebo depois. Em alguns casos, anos depois.

Pensei tudo isso enquanto esperava a água temperar. Sério, eu deveria pagar meu chuveiro como se fosse um analista.

Traçados de uma ingenuidade infantil

Certa vez recebi um trabalho corrigido, isso já no primeiro semestre da faculdade, no qual o professor me chamava de ingênuo. Esse sempre foi provavelmente o adjetivo que mais me ofendeu ao longo de toda a vida, basicamente por ser uma afronta ao meu (autodeclarado mais que suficiente) intelecto. Tudo bem, minha escrita tinha um quê forte de ingenuidade, mesmo. Afinal de contas, que propriedade tinha eu para afirmar que fumar não envolvia absolutamente nada de prazer, eu que nem havia chegado perto de um cigarro até então e que passava meus dias sentado no meu quarto brincando com Comandos em Ação?

Aí fui agora tomar banho ao som de Cássia Eller, mas resolvi não abrir o chuveiro enquanto curtia a Malandragem. Já cantei tantas vezes essa música, gosto dela sobremaneira e especialmente a parte do "eu ando na rua, eu troco um cheque". Por quê? Ora, lá pela terceira ou quarta série, numa aula de Português, a professora nos pediu que fizéssemos uma apresentação de teatro. Era em grupo, então aconteceu de um dia eu sair de casa e ir encontrar meus colegas. Lembro nitidamente que meu colega se atrasou um tanto grande, ao ponto de me irritar. Eu tinha horário para voltar para casa, mais de uma vez tive que pedir uma extensão a algum responsável (tia, mãe, padrasto, não lembro quem era) em função do trabalho de escola. Quando meu colega chegou, combinamos que faríamos como o Sai de Baixo, em que os atores improvisavam. Oi? Chegou o dia da apresentação e lá eu fui com meus colegas. Apaixonado pela Malandragem da Cássia Eller, eu havia feito um cheque de papel e umas notas de dinheiro, também desenhadas. E sim, em meio àquela confusão que foi a nossa "peça", eu disse "vou trocar um cheque", mostrei o papel e saí da sala. Depois voltei todo pimpão com minhas notas de dinheiro desenhadas, e ainda mostrei à professora orgulhoso do meu feito. Aquilo, para mim que nem entendia direito a noção de dinheiro, era enorme. Fico em dúvida se ela percebeu isso, resolveu que era um momento meu e deixou-me vivenciá-lo, ou se era simplesmente despreocupada com aquela atividade e estava apenas ocupando seu e nosso tempo para que o ano passasse.

Nessas coisas de escola as memórias são muitas. Uma vez a professora saiu da sala, mas não sem antes proibir um colega de ir ao quadro para responder a um exercício. Ele insistiu em querer ir e eu, prestativo e confiante na autoridade da professora, tentei segurá-lo. Eu realmente fiz força para obedecer e fazer cumprir as ordens da docente. Ignoremos brevemente o fato de que força era algo que eu não tinha (acho que ainda não tenho, fique registrado). Aliás, ignoremos de todo, sim? Naquele instante tudo o que fazia sentido era parar o menino, impedi-lo de ir ao quadro. Já gastei várias horas da minha vida adulta tentando compreender o que se passou naquele dia, que mecanismo poderoso de coerção (ou de inspiração) a professora tinha sobre mim.

Um último exemplo, esse dos mais irritantes. Acho que já o contei aqui na Raposa Antropomórfica, mas se o fiz, foi há mais de dois ou três anos. Estava no centro da cidade com meu irmão e aquele que na época era o seu melhor amigo. Ele decidiu fazer um experimento e mostrar algo engraçado ao amigo. Claro, o alvo da brincadeira era eu. Lá estava eu, cuidadosamente atento a seguir meu irmão em meio àquela multidão. Não sabia bem como proceder caso o perdesse de vista. Aliás, sempre morri de medo, quando pequeno, de me perder de quem estivesse me guiando, já que aquela manada de gente e de prédios imponentes mais me assustava do que se explicava. Eu era uma criança assustada, ao ponto de querer chorar num dia que me soltei da mão de minha mãe e caminhei mais rápido que ela, passando então a não mais a enxergar e sentir-me, por alguns segundos, completamente perdido na vida. Bem, de volta ao meu irmão. Ele disse, e eu ouvi, algo como "olha isso", apontando para mim. E saiu caminhando. Eu, claro, fui atrás. Ele deu a volta em uma velha que estava ali parada e eu fiz o mesmo. O amigo riu. O irmão riu. A velha reclamou: "nessa idade e ainda não sabe andar sozinho". Nem sei para onde estávamos indo, só sei que guardei essa memória com tanta força (e raiva) que até hoje ela me incomoda.

Viram? Eu era um anjo!

Estou aqui mencionando todas essas peripécias para sustentar um argumento: acho que ainda hoje não deixei de ser ingênuo. Acho que, na verdade, nunca deixarei. A única coisa é que hoje eu troquei ingênuo por sonhador, por distraído. Há quem pense que eu não me importo com as pessoas - e eu bem que repito isso para parecer malvado -, que eu não sairia do meu caminho para interferir (positivamente) na vida de outrem. É bem verdade, mas não por consciência ou vontade. É simplesmente por não saber como, qual é o momento que pode, qual que não pode. Aquela coisa de não dançar para não chamar atenção, para não ser risível. Ingenuidade e medo, isso sou eu. Eu acrescentaria "paixão" a essa fórmula, mas ultimamente são poucas as coisas que têm sustentado um fervor que mereça esse nome. As aulas, agora, acho que estão sendo dignas dessa intensidade. A questão é: e o medo de falhar? E a dúvida se eu não estou sendo menos do que deveria, mais distraído do que deveria, menos rápido e esperto do que deveria?

Deveria. São as tais das ideias prontas (tradicionais, absorvidas da experiência etc) que me contaminam e me fazem observar o que delas eu não tenho. Inseguranças. Aliás, não é medo, é insegurança. Eu não tenho medo de fazer as coisas, apenas não acho que elas vão dar certo. É bem diferente. E arriscar nunca foi meu forte, porque implica sair do campo seguro da distração (ingênua) e avançar sobre outros mundos, outras realidades, outras pessoas.

Ai, essas reflexões antes do banho... Deixa eu correr para debaixo do chuveiro, agora, pois estou com um leve friozinho.

sexta-feira, agosto 10, 2012

Diário de professor: primeira semana

Nesta semana conheci minhas turmas de Produção Gráfica e de Metodologia Científica. De primeiro, a melhor parte está sendo ser chamado de "professor" o tempo inteiro. É diferente, curioso, mas foi o que esperei e construí ao longo de anos, então é justo ganhar agora.

Acho que, no momento, o que mais me incomoda é a distância estabelecida entre os alunos e eu. São cinco ou seis anos de diferença entre nossas idades, mas eu agora sei que há uma barreira me impedindo de, no intervalo, sentar com eles no bar e conversar firulas. Na verdade, eu não sei se precisa ser assim. Talvez eu possa ser visto como o cara que está "forçando aproximação", ou talvez seja exatamente esse o tipo de contato que falta entre professores e alunos. Da forma como eu entendo a educação, diluir essas posições e processos pode facilitar e engrandecer o todo. Acho que vale a pena investir nisso!

terça-feira, agosto 07, 2012

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