quinta-feira, setembro 27, 2012

A montanha russa da vida docente

Eu realmente acredito que as nossas emoções são muito mais fortes e impactantes nas nossas decisões do que o nosso aparato racional. Sério. Exemplo? Aquele dia em que tu tinha que trabalhar, mas acordou tão indisposto por haver terminado um relacionamento de dois anos e meio no dia anterior que tudo o que conseguiu foi virar para o lado e dormir. Ou aquele clássico momento de absoluto tesão e pegação firme em que se percebe que as camisinhas acabaram.

Nossas emoções não são somente nossas. Como tudo na vida, elas são compartilhadas. Se eu estou com raiva de alguém, há uma larga probabilidade de esse alguém ter feito algo que despertou essa raiva. Não quero entrar no mérito de ser certo ou errado ficar raivoso por A ou B, mas sim apontar a interação humana como fundamental para a nossa regulação emocional.
Fonte: http://chrisbonney.deviantart.com/art/reflecting-anger-63866549
Aí entra em cena a minha vida docente. Que, como o título dessa postagem sugere, está sendo cheia de altos e baixos, movimentos vertiginosos, tonturas e excitações. Eu amo e me empolgo a ideia de trazer algo para um grupo de pessoas interessadas em esse algo. O cenário ideal da educação. Acontece que, muitas vezes por motivos que não dizem respeito a mim, nem todas as pessoas que estão lá toda semana estão interessadas em discutir e pensar sobre as questões que tento levantar.

Como um sujeito típico, eu sou influenciado pelo desânimo alheio e pela falta de interesse naquilo que estou propondo tanto quanto pelo brilho nos olhos, pelas conversas de intervalo e pelo retorno positivo. Como aluno, eu sempre tentei lembrar os professores dos quais eu gostava que eles estavam fazendo um bom trabalho, que estavam se esforçando e tal. Sendo essa a minha primeira experiência docente em uma sala de aula física – até hoje trabalhei muito com educação a distância –, as críticas e os embates em sala de aula têm um impacto maior do que imagino que terão dentro de dez anos. Eu olho para minha metodologia de ensino, para minha performance na frente da sala e para as propostas de trabalhos e atividades e me pego pensando se não deveria fazer diferente, se funcionaria em outro contexto, o que eu preciso fazer para encantar as pessoas.

Segue na minha imaginação aquela figura do professor que estimula os alunos, que é tão energético e sabedor que consegue transpirar excitação e transforma o ambiente educacional – a sala de aula – em algo realmente legal e empolgante. Já tive professores assim, sei que eles existem. A diferença é que hoje, ocupando o papel de professor e tentando viver o papel deste professor encantador, fica cada vez mais óbvio para mim que eu não sou capaz de fazer isso sozinho. Aqueles que me encantaram o fizeram porque eu estava aberto ao encanto. As matérias que me motivaram um dia já mudaram, as que não me atraíram começaram a despertar interesse tempos depois. Eventualmente alguém que esteja contigo na sala de aula se sentirá atraído pelo que está acontecendo ali. Sentir-se, aliás, é a palavra principal aqui.
Imagem do filme A Sociedade dos Poetas Mortos
Ontem, na aula de Gestão, insisti que os estudantes localizem suas paixões, aquilo que os movem a quererem acordar de manhã e irem para a vida. Eu sei o que me motiva a ser professor e é justamente a dependência da aprovação de outrem que me machuca. Eu quero abrir portas para outras pessoas, portas que eu queria que outros tivessem aberto para mim antes. Indicar caminhos que, se percorridos mais cedo, talvez tornem uma vida mais feliz antes. Agora, não amanhã, não daqui um ano.

Tem sido difícil acreditar (o tempo inteiro) que isso pode acontecer. Acredito em alguns momentos, desacredito em outros. Eu queria a ilusão da crença plena, confesso. Infelizmente, ela não está acessível. Depois que a gente aprende algo, não tem como desaprender. Depois que a gente começa a ver que algo está lá – incomode-nos ou não –, esse algo não desaparece. Não é curioso que eu ainda tenha dúvidas de por que as pessoas resistem a aprender?

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