Eu tenho um método. Aliás, não necessariamente um único, mas ainda assim um modo como eu opero as coisas. Esse padrão (paradigma?) se marca por alguns pontos necessários: local para escrever fisicamente, pois a plataforma digital não me serve senão para versões finais; acesso irrestrito à internet, pois gosto de pesquisar enquanto trabalho; dicionários e livros ao meu dispor, o que frequentemente é trocado por um computador bem equipado e uma boa e velha pesquisa em bancos de dados; um período de tempo reservado para o trabalho, do contrário me perco em várias coisas que me atraem e acabo deixando de lado o que deve ser feito; e interesse.
É uma das "regras" da monografia, o interesse pela pesquisa. Não pelo ato de pesquisar e estudar em si, mais exatamente sobre o objeto que escolhemos. A idéia é que, ao passar um semestre ou mais convivendo com uma mesma realidade, não acabemos desmotivados por ela nos ser cansativa e chateante. Meu projeto de monografia, que será entregue daqui um mês, falará sobre como pretendo analisar a Revista Aplauso em busca de alguns referenciais do significado de cultura dentro do jornalismo (especializado) cultural. O fato de eu não saber se meu objeto de presta a isso, de estar nervoso ante a possibilidade de não conseguir realizar meu estudo e de tremer toda vez que penso na quantidade de leituras que ainda não fiz, com certeza não ajuda.
Certa vez eu conversava com uma vizinha sobre desafios. Ela disse que eu gostava deles, e pelo dever com a verdade fui obrigado a corrigi-la: não gosto de desafios, apenas de deixar claro do que sou capaz. Essa minha necessidade, que muitas vezes é interpretada como arrogância - saber o que se pode fazer, quais são as qualidades e, por tabela, os defeitos - é exatamente o que me deixa assustado agora. Eu tenho certeza de que sou capaz de fazer uma pesquisa monográfica de qualidade e me titular graduado em comunicação social.
Não saber o caminho, entretanto, me incomoda terrivelmente. Quase a ponto de me desestabilizar. Acho importante entender o que está acontecendo, como está e por quê. Entretanto, não sei o que vem pela frente, quem terei que confrontar e qual será o grau de desafio. Isso me deixa com medo. Tudo bem, mesmo com medo a gente segue adiante, não é assim que funciona?
Não necessariamente.
Aqui vejo necessária uma distinção entre o que somos e sabemos que somos, frente ao que os outros acham que somos e o que parecemos ser. O básico é que, conhecendo meus defeitos, eu não vou propagandeá-los por aí. Então boa parte da certeza absoluta costuma ser muito mais "efeito pavão" do que realidade. Como é fácil imaginar, medos não são superadas por coragens falsas.
Vai ser difícil esquecer o tempo que eu treinei aikido. Não consigo mais precisar o tempo, precisaria fazer uma pesquisa em recibos e escritos para identificar quando parei. Treinei por cerca de dois anos e meio. Parei porque os desafios se tornaram maiores do que eu estava disposto a superar. Uma palavra? Medo. Inventei para mim mesmo que estava ficando sem tempo e que o ritmo de treino estava chegando num nível que me desagradava. Eu sou muito convincente quando quero acreditar em alguma coisa, e mais ainda quando quero fugir de algo.
Não seria errado dizer que estou com medo do futuro, hoje. Preocupação assim é novidade pra mim, porque ao contrário da maioria, senão totalidade, das outras vezes, eu não tenho como escapar por outro lado. Ou melhor, tenho, mas é um atraso e uma fuga tão grande que não conseguirei de nenhuma forma disfarçar. Se eu não conseguir enganar a mim mesmo, não adianta.
Nessa brincadeira eu continuo seguindo, agora um semestre mais lento. Um semestre extra desnecessário, na verdade, mas que ao menos me garantirá uma segurança a mais nesse caminho ainda invisível. Eu não sei ver o futuro, mas consigo analisar os padrões e criar hipóteses. A minha atual é que, construindo o caminho que estou, chegarei ao final do curso ano que vem, em dezembro, e que tudo dará certo.
Meus passos seguintes, entretanto, são mais confusos e esfumaçados. Estou estudando lingüística; lendo ficções, renomadas ou não; e desde quinta estou procurando materiais sobre antropologia. Minha única certeza até o momento é que pretendo seguir o sonho velho de ser um professor, e minha passagem para esse futuro é a Academia.
Eu sou muito racional e analítico. Porém, sou muito mais emocional do que eu gostaria, quase uma criança. Da mesma forma que não costumo estar errado, e isso é mais uma constatação do que um achismo, eu preciso de apoio moral e de conforto, do contrário simplesmente vou caindo pelo caminho. Meu jeito tende a afastar as pessoas por várias razões, entre elas o ar de superioridade que me cerca. Anos usando esse ar como uma defesa frente a quem aparecesse, não é de estranhar que seja tão complicado me libertar.
Minha organização é caótica. Sempre acabo me achando, mas uma linha reta não consegue acompanhar a forma como eu penso, por conta de eternos loopings. Estabeleço relações entre pontos extremamente abstratos e assim vou seguindo. O que anoto, esqueço. O que me dizem, marca. Ainda tenho dificuldade de entender completamente porque eu deixo de fazer coisas que julgo importante para preservar uma relação, quando na verdade fazer as coisas que eu gostaria é, além da atitude mais racional, o modo que me parece mais claro de preservar as coisas. Eu não sei quanto de cada pessoa deve se manter intacto em um relacionamento, quanto cada um deve se doar ao outro, nada disso. Sei, ou acredito, que duas pessoas que se relacionem devem fazer o máximo para tirar proveito disso. De preferência, na forma de felicidade. Casais precisam perseguir os mesmos objetivos.
É verdade que me considero mais do que muita gente, simplesmente por eu ser capaz de enxergar algumas coisas que passam invisíveis para outros. É verdade que eu misturo meu racionalismo exarcebado com meus fluxos emocionais. É verdade que eu não sei o que eu preciso para ser feliz. Entre tudo isso, também é verdade que eu não preciso ouvir tudo isso. Eu me conheço bem demais para precisar que joguem contra mim meus problemas.
Não venho aqui escrever com muita freqüência quando estou contente ou tranqüilo. Ao que parece, sou dos que acreditam que é a tristeza que movimenta as letras. Não... O que acontece é que, em busca de alguma resposta, eu preciso enxergar os elementos escritos, dispostos em diagrama. Sou do tipo que trabalha com exemplos, que sem exemplos não vai longe. Um conceito não me é nada se não pode ser aplicado em algo que eu conheça ou que venha a conhecer.
Talvez esteja aí meu medo do futuro: não sabendo o que vou fazer nos dias seguintes, não consigo enxergar para que serve tudo isso que estou fazendo, todo o esforço e todos os planos. Algum dia terei certeza de que valeu a pena (ou não), mas hoje eu tenho apenas a dúvida.
Muita coisa se resolveu de uns tempos pra cá. Ainda ter tanta coisa para resolver, pelo resto da vida, é apavorante. Tendo em consideração que abandonei a arte cujo princípio era me ensinar a enfrentar a mim mesmo, como poderei vencer? Digo, eu certamente perdi uma batalha grande lá atrás quando desisti de treinar. Por outro lado, depois disso venci uma enorme, um nó que vinha desde pelo menos a quinta série, e hoje aceito quem eu sou. Por que é tão difícil aceitar quem eu quero ser, então? Ou será que eu simplesmente não quero? Ou quero tanto a aprovação de quem me cerca que é mais prático eu ser o que esperam, ao invés do que eu acredito que me fará, de alguma forma, feliz?
So many questions...
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