domingo, abril 27, 2008

Ocupações do corpo

Eu ando meio ocupado ultimamente, como a freqüência de postagens tende a demonstrar. Não consigo parar em casa, e quando estou parado em casa quero estar legitimamente parado, mas muitas vezes fico estudando.
Isso tem nome: últimos dois semestres da faculdade e curso para concurso. É, me rendi aos ataques capitalistas e estou estudando num cursinho para tentar passar num concurso da UFRGS. A perspectiva não é das mais animadoras: oito horas, mil duzentos e cinqüenta de salário, uma ou outra vantagem não divulgada. Abriu agora edital pro concurso da Caixa, mais ou menos mesmo salário, mas muito mais vantagens e seis horas. É de dar com a cara no muro.
Muitos projetos passando na cabeça, a maioria sendo engavetado. Antes de começar esse curso, eu escrevi um conto. Fiquei tão feliz quando consegui tirar da minha cabeça uma idéia de tempos e transformá-la numa história legível.

Ah, a felicidade. Oh, a ocupação.
Tenho que escrever uma matéria hoje, não tenho as fontes nem as imagens necessárias. Ai ai, o que será de mim nesse mundo cruel do jornalismo que não quero? ^^

quarta-feira, abril 09, 2008

la vie d'un étudiant

"Coisa boa poder escolher não ir na aula". A frase foi da minha orientadora, hoje pela manhã, quando falei que havia acabado de desistir da aula que deveria estar assistindo agora.

Compreenda-me o mundo que não se trata de uma relevante produção intelectual aquela disciplina: seria o equivalente a passar três horas olhando televisão, mas sem a possibilidade de colocar num canal que passasse algo interessante.

Um dia eu serei professor, muito em breve serei um empregado sem as liberdades de movimento que hoje tenho. Existe uma certa melancolia na frase dela, uma ligação com um passado onde o poder de ir e vir ainda estava nas mãos dela, as escolhas ainda não pesavam de maneira tão definitiva.
Ontem escrevi um pouco sobre escolhas. Continuo em dúvida se as escolhas que ando fazendo são as mais apropriadas para me deixar feliz em algum tempo futuro. Prefiro seguir acreditando que sim, mas não dá pra ter certeza. O certo é que, ao olhar pra trás, quero sorrir pensando nos caminhos que segui.

terça-feira, abril 08, 2008

Ais

Neste exato momento não quero nada. Aliás, reformulo: eu quero o nada. Silêncio puro, nada para pensar, nada para sentir. Um espaço vazio de existência por um dia, por uma semana. Eu não quero férias, não, não, só se fossem na França. O que eu quero é a certeza de que minhas escolhas valerão a pena daqui uns anos, que eu poderei colher todos os frutos que desejo comer.
É difícil dar esses passos de formiga esperando atravessar estradas de gigantes.

Eu não estou apenas com medo, eu estou um pouco cansado, também. O calderão de idéias está fervilhando, e se eu não colocá-lo para criar logo ele apagará uma vez mais, sabe-se lá por quanto tempo.
Nhai, por quê é assim?

domingo, abril 06, 2008

Gênio morto

Esse final de semana eu li algumas coisas sobre o menino que se matou em 2006 com o auxílio de um forum sobre suicídios. Essa não é, contudo, a principal informação sobre o caso: o garoto está sendo aclamado como algo próximo de um gênio da música, que em poucos anos de prática e criação evoluiu demais.
O que aconteceu para uma pessoa de quase dezessete anos roubar a própria vida? Seria tão fácil aceitar a morte dele se ele não tivesse deixado um legado marcante. É mais fácil aceitar a morte de alguém que não promete nada, de alguém que nunca renderia frutos. O que acontece quando alguém que está acima da média resolve sair fora do jogo?
Não é justo.

Ser um gênio é algo maior do que a maioria das pessoas pode sequer sonhar em entender. Significa estar acima da média, acima dos que estão acima da média; é um dom. Aí entra a pergunta: se alguém é um gênio desconhecido, logo não é um gênio? Ou é apenas mais uma alma incompreendida que vaga pelo mundo?

Pelo que eu li, o principal problema do menino era a falta de confiança em si mesmo, um ego tão abalado que precisava de constante alimentação de todos os lados. Não no sentido do egocentrismo, mas algo como uma bateria de celular que descarrega em questão de horas.

Recentemente minha confiança no meu texto voltou. Veio repentina, alimentada por um ego recém reencontrado. A sensação de ter certeza do que se está fazendo, de ter uma direção na vida, é muito boa. Não digo que esta é a resposta para todos os meus problemas, mas talvez seja o começo das soluções.
Sempre tive muito medo de mostrar minhas criações. Isso me manteve afastado de qualquer tipo de avaliação, uma forma segura de não ser abalado por críticas desfavoráveis. Uma atitude que pode ser enxergada como covarde, se não eufemizada como excesso de cuidado.

O pai do garoto suicida reuniu 23 músicas do filho – muitas dessas conhecidas e reconhecidas ao longo do mundo pelos diversos amigos virtuais do rapaz – e um CD está para chegar. Todos que têm contato com ele admitem a fagulha da genialidade ali presente. A mídia especializada está em cima desse trabalho como louca.
É um sucesso.

Pode ser uma comparação infeliz, mas eu sempre tive retorno positivo nas poucas vezes que arriscava levar meu trabalho ao ar. Eu já me considerei um gênio da literatura, mas isso foi antes de ser apresentado ao mundo das pessoas grandes, um mundo maior que um colégio isolado no canto da cidade.
A vida é uma série de camadas, através das quais nós podemos ir passando, cada uma nos levando a diferentes níveis de retorno e reconhecimento. A família, os amigos, os amigos dos amigos, os professores, os colegas, as cidades, os países. Até onde podemos ir é uma combinação de nossos esforços e nossos talentos.
Hoje eu sei que há um mundo bem grande pra ser vivido. Talvez eu não seja um gênio da escrita, mas um bom talento eu tenho. Desse talento eu posso fazer muito brotar, inclusive talvez o reconhecimento de genialidade. E alguma coisa é impossível nesse mundo?

Fiquei pensando hoje, depois de ler as matérias que li, o que aconteceria se o CD que agora está sendo esse sucesso absurdo tivesse sido lançado há dois anos atrás, antes da morte do menino. Seria a fama capaz de salvar a vida de um pequeno gênio?
Ou seria a morte o ato final da genialidade recém descoberta?
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