Esse final de semana eu li algumas coisas sobre o menino que se matou em 2006 com o auxílio de um forum sobre suicídios. Essa não é, contudo, a principal informação sobre o caso: o garoto está sendo aclamado como algo próximo de um gênio da música, que em poucos anos de prática e criação evoluiu demais.
O que aconteceu para uma pessoa de quase dezessete anos roubar a própria vida? Seria tão fácil aceitar a morte dele se ele não tivesse deixado um legado marcante. É mais fácil aceitar a morte de alguém que não promete nada, de alguém que nunca renderia frutos. O que acontece quando alguém que está acima da média resolve sair fora do jogo?
Não é justo.
Ser um gênio é algo maior do que a maioria das pessoas pode sequer sonhar em entender. Significa estar acima da média, acima dos que estão acima da média; é um dom. Aí entra a pergunta: se alguém é um gênio desconhecido, logo não é um gênio? Ou é apenas mais uma alma incompreendida que vaga pelo mundo?
Pelo que eu li, o principal problema do menino era a falta de confiança em si mesmo, um ego tão abalado que precisava de constante alimentação de todos os lados. Não no sentido do egocentrismo, mas algo como uma bateria de celular que descarrega em questão de horas.
Recentemente minha confiança no meu texto voltou. Veio repentina, alimentada por um ego recém reencontrado. A sensação de ter certeza do que se está fazendo, de ter uma direção na vida, é muito boa. Não digo que esta é a resposta para todos os meus problemas, mas talvez seja o começo das soluções.
Sempre tive muito medo de mostrar minhas criações. Isso me manteve afastado de qualquer tipo de avaliação, uma forma segura de não ser abalado por críticas desfavoráveis. Uma atitude que pode ser enxergada como covarde, se não eufemizada como excesso de cuidado.
O pai do garoto suicida reuniu 23 músicas do filho – muitas dessas conhecidas e reconhecidas ao longo do mundo pelos diversos amigos virtuais do rapaz – e um CD está para chegar. Todos que têm contato com ele admitem a fagulha da genialidade ali presente. A mídia especializada está em cima desse trabalho como louca.
É um sucesso.
Pode ser uma comparação infeliz, mas eu sempre tive retorno positivo nas poucas vezes que arriscava levar meu trabalho ao ar. Eu já me considerei um gênio da literatura, mas isso foi antes de ser apresentado ao mundo das pessoas grandes, um mundo maior que um colégio isolado no canto da cidade.
A vida é uma série de camadas, através das quais nós podemos ir passando, cada uma nos levando a diferentes níveis de retorno e reconhecimento. A família, os amigos, os amigos dos amigos, os professores, os colegas, as cidades, os países. Até onde podemos ir é uma combinação de nossos esforços e nossos talentos.
Hoje eu sei que há um mundo bem grande pra ser vivido. Talvez eu não seja um gênio da escrita, mas um bom talento eu tenho. Desse talento eu posso fazer muito brotar, inclusive talvez o reconhecimento de genialidade. E alguma coisa é impossível nesse mundo?
Fiquei pensando hoje, depois de ler as matérias que li, o que aconteceria se o CD que agora está sendo esse sucesso absurdo tivesse sido lançado há dois anos atrás, antes da morte do menino. Seria a fama capaz de salvar a vida de um pequeno gênio?
Ou seria a morte o ato final da genialidade recém descoberta?
2 comentários:
essa história de lançamento de cd pós suicídio, sucesso e quais poderiam ser os rumos tomados se as coisas acontecessem em ordem diferente dão um bom roteiro de filme, hehehe, vamos filmar?!?!?!
Você usa as palavras de um jeito delicioso. Caí aqui por acaso e vou salvar nos meus favoritos.. ;)
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