Creio que ele é muito claro quando canta "tu, por exemplo, tão a tempo e tão inoportuna". Fico pensando na vida a dois, nos amores que acontecem ou deixam de acontecer em cada esquina, em cada sorriso. Recentemente cheguei à conclusão de que estou pronto, estou aberto a gostar de alguém novamente, isso depois de um período bem longo e tenso de reclusão e frieza no qual eu mais machuquei do que fiz bem. Contudo, não basta que eu esteja aberto, sou apenas um.
Essa é realmente uma grande maldade da vida: se só um ama, não há relação. Não se trata nem de uma maldade daquele que não ama: ora, quem sou eu para julgar o momento de cada um, as experiências que levam aquela pessoa a, naquele instante, não compartilhar dos sentimentos do outro? Aliás, nada na vida obriga ou sequer sugere que, porque somos amados, devemos amar de volta. Ainda assim, esse é o nosso sonho e é nisso que investimos nosso tempo e nossa emoção.
Daí tu encontra uma pessoa e ela está machucada. Ou tu encontra alguém perfeito pra ti, mas teu coração está tão chamuscado que não consegue perceber ou receber ou lidar com o carinho ali depositado. Tão a tempo, mas inoportuna. Desencontros não acontecem apenas com pessoas que se amariam se vivessem no mesmo espaço geográfico: pessoas que vivem em estados sentimentais distintos também podem se perder. Mais uma vez, acho que é Drexler que tem algo a dizer sobre isso.
Em Sanar, ele canta lindamente que "as lágrimas vão ao céu e voltam aos teus olhos desde o amor. O tempo se vai, se vai e não volta. E teu coração vai sarar". Essa canção eu já compartilhei com meus amigos em momentos de tristeza, bem como já ouvi quando meu coração parecia dilacerado. "Mesmo que pareça mentira, teu coração vai sarar". Talvez a verdade ainda mais cruel do que os desencontros da vida seja que "ninguém nasce sabendo que morrer também é lei da vida". Porém, Drexler avisa: "quando menos esperar, teu coração vai sarar, vai sarar, e vai voltar-se a quebrar". Esse é o movimento que a vida faz: ela nos põe pra cima, nos faz amar, nos põe pra baixo, nos dói. O que a gente faz? Persiste.
As coisas acabam. Muitas delas nem começam. É assim que a vida segue seu rumo e a gente vai aprendendo com cada dia. Se recusar a aprender ou a deixar partir aquilo que se foi é uma das piores escolhas que podemos tomar. Não é fácil, é dolorido, deixa um vazio, tudo isso é verdade. Preencher esse vazio com ressentimento ou memórias, porém, nos faz viver de passado e não nos alimenta de vida, pois vida não é aquilo que passou, é aquilo que respiramos, sentimos e fazemos a cada segundo.
Já que até aqui escrevi com o Drexler como pano de fundo, vou terminar também com uma canção dele. O tipo de música que eu só consigo ouvir e acreditar quando estou de bem comigo mesmo. Se o Drexler precisa apenas da "guitarra e você", eu sou feliz com minhas letras e meus amores. Eu achava que precisava de férias, mas na verdade o que eu precisava era outra coisa: estar bem comigo mesmo o suficiente para suspirar novamente por alguém.
Esse é o único tipo de amor em que eu acredito: aquele que, para existir, não exige ser amado de volta. Será um lindo encontro, se for. Por outro lado, se não for, será a vida fazendo aquilo que ela faz de melhor: sendo caótica.