segunda-feira, outubro 22, 2012

Desencontros

Todo mundo sabe que a vida não tem regras. Ou melhor, tem, mas elas são complicadas e ninguém entende. Ou, quando entende, geralmente morre ou vira monge budista isolado do mundo. Uma das brincadeiras mais safadas da vida (ou do destino, sei lá) é colocar duas pessoas em descompasso num mesmo lugar e fazer com que elas se olhem, se suspirem e se abracem. Se queiram, inclusive. Acho que o meu amado Jorge Drexler consegue dizer isso melhor que eu, com a música Inoportuna.


Creio que ele é muito claro quando canta "tu, por exemplo, tão a tempo e tão inoportuna". Fico pensando na vida a dois, nos amores que acontecem ou deixam de acontecer em cada esquina, em cada sorriso. Recentemente cheguei à conclusão de que estou pronto, estou aberto a gostar de alguém novamente, isso depois de um período bem longo e tenso de reclusão e frieza no qual eu mais machuquei do que fiz bem. Contudo, não basta que eu esteja aberto, sou apenas um.

Essa é realmente uma grande maldade da vida: se só um ama, não há relação. Não se trata nem de uma maldade daquele que não ama: ora, quem sou eu para julgar o momento de cada um, as experiências que levam aquela pessoa a, naquele instante, não compartilhar dos sentimentos do outro? Aliás, nada na vida obriga ou sequer sugere que, porque somos amados, devemos amar de volta. Ainda assim, esse é o nosso sonho e é nisso que investimos nosso tempo e nossa emoção.

Daí tu encontra uma pessoa e ela está machucada. Ou tu encontra alguém perfeito pra ti, mas teu coração está tão chamuscado que não consegue perceber ou receber ou lidar com o carinho ali depositado. Tão a tempo, mas inoportuna. Desencontros não acontecem apenas com pessoas que se amariam se vivessem no mesmo espaço geográfico: pessoas que vivem em estados sentimentais distintos também podem se perder. Mais uma vez, acho que é Drexler que tem algo a dizer sobre isso.


Em Sanar, ele canta lindamente que "as lágrimas vão ao céu e voltam aos teus olhos desde o amor. O tempo se vai, se vai e não volta. E teu coração vai sarar". Essa canção eu já compartilhei com meus amigos em momentos de tristeza, bem como já ouvi quando meu coração parecia dilacerado. "Mesmo que pareça mentira, teu coração vai sarar". Talvez a verdade ainda mais cruel do que os desencontros da vida seja que "ninguém nasce sabendo que morrer também é lei da vida". Porém, Drexler avisa: "quando menos esperar, teu coração vai sarar, vai sarar, e vai voltar-se a quebrar". Esse é o movimento que a vida faz: ela nos põe pra cima, nos faz amar, nos põe pra baixo, nos dói. O que a gente faz? Persiste.

As coisas acabam. Muitas delas nem começam. É assim que a vida segue seu rumo e a gente vai aprendendo com cada dia. Se recusar a aprender ou a deixar partir aquilo que se foi é uma das piores escolhas que podemos tomar. Não é fácil, é dolorido, deixa um vazio, tudo isso é verdade. Preencher esse vazio com ressentimento ou memórias, porém, nos faz viver de passado e não nos alimenta de vida, pois vida não é aquilo que passou, é aquilo que respiramos, sentimos e fazemos a cada segundo.

Já que até aqui escrevi com o Drexler como pano de fundo, vou terminar também com uma canção dele. O tipo de música que eu só consigo ouvir e acreditar quando estou de bem comigo mesmo. Se o Drexler precisa apenas da "guitarra e você", eu sou feliz com minhas letras e meus amores. Eu achava que precisava de férias, mas na verdade o que eu precisava era outra coisa: estar bem comigo mesmo o suficiente para suspirar novamente por alguém.

Esse é o único tipo de amor em que eu acredito: aquele que, para existir, não exige ser amado de volta. Será um lindo encontro, se for. Por outro lado, se não for, será a vida fazendo aquilo que ela faz de melhor: sendo caótica.

domingo, outubro 21, 2012

As temporalidades do coração

Tem algo de cruel no tempo. Ele está ali, passando para todos sem nunca descansar. Ainda assim, quando queremos que algo chegue, tomamos consciência de que o tempo existe e é bastante longo. Milhares de pensamentos cruzam a cabeça daquele que está ciente do tempo. E ele, em sua maldade intrínseca, apenas desacelera e continua a nos perturbar. O tempo, esse danado, não passa se queremos que ele se vá logo. Isso é especialmente verdade quando nós o temos de sobra, mas aqueles que amamos não. Podem ser amigos, amores, quem for: o tempo passa diferente para nós e para eles.

Cabeça vazia, oficina do diabo. Não é assim o ditado? Pois então, o sujeito fica em casa esperando, aguardando a ligação que nunca vem. Oh, ele não me ama! Oh, não vai rolar, meu deus, estou destinado ao inferno! Ou, quem sabe, a outra pessoa está ocupada? Quem sabe ela tem uma vida?

É isso, a gente fica num domingo pensando na vida, enquanto para outros sujeitos a vida está acontecendo. O que a gente faz? Ah, disso eu posso falar: a gente faz a vida acontecer aqui também. Amigos, trabalhos, leituras.

O que a gente faz? Vive.

O passado deixa marcas

Se tudo que aprendemos caminha conosco nas decisões futuras, então é mais que justo assumir que nossos saberes (e crenças) nos seguram, nos fazem resistir. Temos medo de repetir erros, pois sabemos que eles machucam. Aprendemos o que dói e nos fechamos em uma concha de proteção. Amar dói? Então não amemos. Funciona simples, mas nos priva de experiências que poderiam ser maravilhosas. Em algum momento, a gente precisa decidir se ama de novo ou se bloqueia mais um pouco.

Gostar de alguém é um risco. Não se trata apenas de a gente poder se machucar, mas também de podermos machucar outra pessoa, outro conjunto de subjetividades com o qual não sabemos como lidar. Eu sei que já machuquei algumas pessoas e que poderia ter feito diferente. Sei exatamente como deveria ter agido para que as coisas saíssem melhores do que saíram. Por que não o fiz? Não sei, eu simplesmente não consegui. Saber como agir e agir de acordo são duas coisas completamente diferentes.

Acho que um exemplo vem a calhar. Certa feita, no colégio, um amigo e um ex-amigo se desentenderam. Logo se agarraram e ficaram um ameaçando socar o outro. Eu vi, me aproximei e fiquei junto às pessoas que estavam olhando aquilo acontecer. Entreguei minha mochila para meu outro amigo, na típica postura de "vou fazer algo a respeito", mas aquilo era uma briga e eu não fazia ideia de como lidar com brigas, então travei. Eu não fiz nada. Meu amigo levou um soco do meu ex-amigo, que saiu correndo, e eu não fiz nada. Poderia ter impedido. Poderia. Não impedi.

Exemplo bobo? Talvez. Ele resume uma característica minha muito clara: nem sempre eu consigo fazer o que sei que deveria fazer. Isso acontece principalmente quando os sentimentos de outras pessoas estão em jogo. Eu não sei lidar com outras pessoas. Sei lidar comigo, sei o que me aflige, de onde vem, para onde vai. Não sei o que fazer quando é a vida de outro sujeito que está dependendo das minhas escolhas. O que machuca mais, ficar ou partir? Partir, então vou ficar mais. E fico, e quando vejo o partir é tão necessário que o ficar transformou-se em mais dor que o partir.

Aí a gente conhece novas pessoas e a sombra das escolhas do passado estão ali. Do meu passado. Do passado das outras pessoas. Ninguém chega numa nova relação limpo de influências. Quando damos "oi" a alguém, estamos carregando tudo aquilo que vivemos antes e esperando que a resposta não seja a mesma que encaixe naquelas experiências negativas que vivemos. Da mesma forma, se forem iguais demais às que deram certo, talvez seja um mal sinal, pois serão comparadas eternamente.

O que fazer, então? Como não se consumir no passado e esquecer que o presente está sempre batendo na nossa porta? Não sei. Queria saber, juro. Posso dar umas dicas de auto-ajuda, posso mesmo, mas eu não gosto de rabiscar aqui na Raposa sobre coisas que eu não consigo colocar em prática. O jeito é, tanto quanto possível, tentar fazer com que o passado não nos consuma, não nos impeça de viver coisas novas, de experimentar sabores diferentes. Vamos tentando...

sábado, outubro 20, 2012

Alguns silêncios

Como saber o que outra pessoa está pensando?

Faxina

Se tudo está conectado, então limpar a casa faz sentido como um exercício de limpar a alma. Ou o corpo. Cortar o cabelo, varrer o chão, passar pano e tirar as teias dos cantos. Tudo isso enfeia a gente por ficar ali muito tempo guardado, muito tempo sem cuidado. O que nos deixa bonitos não é a falta desses elementos, mas o cuidado para que eles não estejam ali. O cuidar de si.

E ser humilde o suficiente para, sentindo-se bonito, não pisar nos outros.

=)

quinta-feira, outubro 18, 2012

Como lidar com nossos limites

O meu sonho mais antigo é o de ser um escritor famoso. Meu problema é que eu vivo numa era em que ninguém lê. Mentira. O meu problema é que eu uso isso como desculpa para não estimular minha escrita e não colocar minha cara a tapa, não arriscar, não tentar fazer as coisas de um modo diferente, não ir atrás de pessoas que leiam.

Acho que essa limitação autoimposta nasce na escola. É, é, nesse modelo estúpido de escola em que um cara aparece lá como o maioral e um bando de gente é ensinada que (1) não sabe as coisas que precisa saber para ser gente e que (2) só há uma resposta certa pras questões da vida. O TED tem uma palestra maravilhosa sobre como a escola mata a criatividade, vale a pena olhar, tem legendas em português.

O que acontece quando compramos essa ideia da resposta certa? Acreditamos que se nós não somos tão bons em matemática quanto outros colegas, então nós não somos bons em matemática. Diferença sutil, mas que na prática funciona como uma parede de cimento para o nosso cérebro. Ontem trabalhei na aula com a criação de cartões de visitas. Entre reclamações e sofrimentos, o pessoal fez. Eu não estava exigindo nenhuma maravilha do design, apenas itens pensados e esboçados para fazer sentido.

Mais de uma pessoa veio a mim dizendo "eu não sou criativo" e "eu não sei desenhar". Essas frases só fazem sentido se a gente acredita que há apenas um jeito de saber. Eu já falei sobre conhecimento, ignorância e aprendizagem algumas vezes aqui no blog. Em resumo, o que acredito é que não há apenas um jeito de saber escrever, desenhar ou criar. Existem infinitos. Alguns interessam mais ao mercado que outros? Sim, mas só porque ainda não se criou demanda para esses outros. Ai, mas é difícil mudar o sistema! Sim de novo, mas desde quando algo ser difícil virou motivo para que não tentemos?

x x x x

Dito isso, decidi retomar meu projeto de uma postagem por dia. Há tempos que eu venho e tento de novo, vamos ver se desta vez eu consigo.

quarta-feira, outubro 17, 2012

Uma história de amor

A gente se conheceu em uma noite que eu não dava nada pra vida. Era uma quarta-feira, alguns dias depois da virada do ano. No dia seguinte eu tinha que ir cedo para o trabalho, mas não me importava: eu quis sair, ir pra noite, dançar até não poder mais. Estava faltando algo na vida e eu tinha certeza que, fosse o que fosse, eu precisava procurar naquela noite. Por umas duas ou três horas, eu fiquei terrivelmente arrependido. Fui para uma festa cuja fila estava imensa e não andava nada. Não andou nada por horas. Horas! Aí eu decidi ir embora para outra festa. Não voltaria para casa sem dançar pelo menos um pouco, depois de tanto tempo na rua. Além do mais, eu não tinha mais como voltar, os ônibus já não circulavam àquela hora da madrugada.

Foi na fila da outra festa que te vi pela primeira vez. Havia o quê, cinco pessoas na minha frente? E tu furou a fila, passou na frente de todo mundo e, com teus amigos, entrou. Eu sei que tu me viu, eu te vi me vendo. Senti um misto de raiva com atração. Mais atração que raiva, é verdade. Bem mais. Aí entrei na festa, aquela coisa escura com luzes piscantes e músicas tunti tunti. Meu lugar favorito na cidade. Eu estava sozinho, então não quis dançar ainda. Preferia beber um pouco, deixar o álcool garantir meus movimentos, minha despreocupação. Aí eu te vi pela segunda vez, tu estava num canto parado, teus amigos estavam por perto, mas não perto o bastante. Trocamos olhares, tu me chamou para perto. Eu fui, claro. Como poderia dizer não para tanta autoconfiança?

Não lembro sobre o que falamos, exatamente. Signos. Ocupações. Futuros. Eu achava que tinha pouco tempo para oferecer, apenas dois meses. Tu tinha menos, alguns punhados de horas. Ali estavam todos os elementos necessários para uma ficada aleatória e nada mais. Só que não. Na hora de ir embora, fomos juntos pegar nossas mochilas. Era tu quem queria ir embora, mas para mim a noite perderia o sentido se tu fosse e eu continuasse. Na realidade, ela já havia me mostrado todo o sentido que havia em sair numa quarta-feira. Eu chegaria em casa ainda a tempo de dormir por umas três horas, o suficiente para respirar e aguentar um dia de trabalho. Inesperado veio o convite para ir à tua casa. Ainda hoje passo pela frente dela e lembro dos suspiros e sorrisos vividos ali.

Acho que essa noite sozinha teria sido suficiente para aquecer meu coração, para disparar o feitiço do amor.  A verdade é que foi. No dia seguinte eu já estava avisando minha confidente sobre a felicidade e a possibilidade de namorar. Sim, eu sou assim, todas as vezes em que me apaixonei o amor veio de primeira, em poucas palavras, em rápidos olhares. O meu coração sempre sabe, e ele bem soube quando passamos horas ainda conversando na cama, discutindo a vida, os caminhos do mundo. A nossa história nunca foi sobre sexo, mesmo que sexo estivesse ali o tempo inteiro. Mesmo essa primeira noite, que não era para ter absolutamente nada sexual – ainda lembro do aviso "é para dormir, não para transar" – teve sua parcela de sedução e gozo. Certamente valeu a pena dormir apenas uma hora e ir feito zumbi para o trabalho.

Lembro de todas as vezes que nos vimos desde então, os lugares, as ocasiões, os motivos. Ainda hoje, se preciso mencionar uma história de amor que não deu errado, é de ti que eu lembro. Porque realmente não deu errado: apenas nossos caminhos nos afastaram, talvez temporariamente.

Ainda estou te devendo a leitura de uma certa carta em francês.
Obrigado por existir.

Sete anos

Ontem me parei a ler postagens antigas aqui da Raposa Antropomórfica e finalmente caiu a ficha de que escrevo este blog há sete anos. Claro, umas pausas aqui e outras ali, mas no geral foram sete anos de registros e reflexões sobre ser eu mesmo. Existem muitas ideias realmente bacanas guardadas aqui e muita coisa que ainda me toca, preocupa, anima ou entristece.

Sensação boa de existência =)

terça-feira, outubro 16, 2012

Falta de perspectiva

Estava ouvindo umas músicas antigas e lembrei-me de um episódio que vivi há vários anos. Eu tinha entre 13 e 14 anos, acredito, e fui convidado por um amigo para ir até a sua escola, onde haveria um show de bandas estudantis. Raríssimas vezes eu havia saído de ônibus, acho que não mais do que uma ou duas efetivamente sozinho (descontados os trechos casa-escola, que ainda assim eram raros). Ou seja: para mim, era incrivelmente assustador enfrentar o mundo desta forma e desbravar uma parte desconhecida da vida.

Cheguei na hora em que a banda do meu amigo estava tocando. Lembro de ir caminhando pela rua que levava ao colégio e estar ouvindo a música a distância. Quando me aproximei, confirmei que era a sua banda e aquele momento ganhou um tom especial. No fim das contas, passamos mais algumas horas lá, entre salas de aula, shows de outras bandas e comidinhas. Até uma roda punk rolou, estava na moda. Em alguns momentos, eu conversei com pessoas. Se hoje isso ainda é difícil para mim, que dirá naquela época, em que eu estava ainda mais enclausurado em meu próprio mundinho?

Aí estávamos indo embora, meu amigo e eu. Quando o ônibus se aproximou, um bando de guris veio se despedir de nós. Normal, estávamos todos juntos curtindo a tarde. Um deles, me deu um abraço e um beijo no rosto. Ele era baixinho, cabelo preto comprido, estilo roqueirinho, all star, roupa preta. Aquele movimento singelo - que pode até hoje significar absolutamente nada e ter ficado cristalizado apenas na minha memória - criou em mim uma marca profunda. Até aquele momento, e por muitos anos depois dele, a possibilidade de ser beijado por um menino não fazia parte da minha imaginação.

Como é triste não ser capaz de imaginar que algo seja possível, que possa fazer parte da nossa vida. Até pelo menos meus 19 anos, eu realmente não vislumbrava a possibilidade de amar outros rapazes e de existir sexualmente. Por muito tempo, tive dificuldade de acreditar sequer que eu pudesse ter bons amigos. Trabalhar. Ir a festas.

A vida era algo que não fazia sentido para mim, que eu era incapaz de dar sentido.

O menino roqueirinho plantou uma sementinha. Tivéssemos convivido por mais tempo, talvez o impacto de sua existência houvesse me libertado das amarras da inexistência mais cedo. Eu poderia ter raiva dele, do mundo, de todos que não me deram a mão. Poderia odiar. Já odiei, aliás. Planejei vinganças intermináveis, reviravoltas, momentos em que eu riria da desgraça alheia, que gargalharia frente àqueles que um dia já olharam feio para mim, que já riram de mim.

Aí um dia tudo fez sentido: por que eu queria isso tudo? Que diferença faria? Meus anos de inexistência voltariam? Ganhariam sentido? Não. Talvez tudo o que eu conseguisse seria tirar o sentido da existência de outras pessoas, algo que certamente eu não desejo para ninguém.

Uma vez eu estava reclamando da vida com um amigo. Um dos poucos com os quais eu conseguia conversar, a primeira pessoa que realmente me escutou e ajudou a lidar com o momento em que finalmente entendi que gostava de guris. Ele me disse algo que até hoje faz muito sentido: foi ter deixado de viver tudo isso que me tornou quem eu sou hoje, seja isso bom ou ruim. Eu seria outra pessoa se tivesse vivido outras coisas. Uma obviedade, é claro, mas uma obviedade que a gente frequentemente esquece e deixa passar ou nos afogar em agonia.

Hoje em dia não sinto mais vontade de voltar ao passado e corrigir tudo, ou de encontrar aqueles que me machucaram - não foram poucos - e tecer vinganças. O que sinto é medo de voltar a ser quem eu era, uma pessoa que não vai atrás de seus sonhos, uma pessoa que sequer vislumbra que pode sim ter sonhos. Uma pessoa cuja existência não tem sentido nem para si mesmo.

quarta-feira, outubro 10, 2012

Mapas mentais

Resolvi trabalhar com meus estudantes de Redação Publicitária II uma proposta de mapa mental. O que é isso? É uma representação gráfica que conecta conceitos, ideias, questões, respostas, datas, imagens, livros, sites, enfim, qualquer coisa. Qual o seu objetivo: visualizar e ampliar as nossas possibilidades de raciocínio dentro de um determinado tema.

Como exemplo, observem este que encontrei rapidamente na internet sobre figuras de linguagem. Ele é simples e todas as ligações partem de uma única palavra. É um modo de fazer. Outro exemplo, apesar de inglês, está aqui e apresenta a mesma estrutura de começar a partir de uma palavra ou expressão e ir se desdobrando em várias outras.

Achei no Google Imagens sem referência de autoria...

Com a paciência e intenção certas, é possível fazer mapas mentais que costurem muito mais elementos entre si, inclusive elementos que aparentemente não teriam relação nenhuma. Observem o exemplo a seguir.

Achei aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mapa_mental_da_wikipedia.png#filelinks

Por fim, um último exemplo, desta vez de minha autoria, pode ser encontrado aqui mesmo na Raposa Antropomórfica. Trata-se de um trabalho realizado para uma disciplina. Ao contrário dos mapas que venho mostrando, porém, ele não conecta conceitos, mas sim estabelece uma narrativa a partir de questões, citações e imagens. Eu particularmente gosto do resultado final, embora ache que seja possível torná-lo muito mais complexo e interessante, além de não linear.

Essa é a proposta de trabalho que temos pela frente: construir um mapa mental das possibilidades para campanha de conscientização da prevenção contra AIDS. Para tanto, podemos partir de pelo menos termos centrais: HIV/AIDS e Prevenção. Com o que podemos conectar cada um? Podemos pensar em "prevenção" ligada com "segurança", "consciência", "atenção"... "Segurança" podemos conectar com o profissional de segurança (uma imagem, talvez), com um cinto de segurança, com um capacete de obreiro, com um abraço (que se tivéssemos em algum lugar o conceito de carinho, amor, amizade, poderia também estar conectado aqui). E por aí vai para todos os termos. Esse mapa só para de crescer quando quisermos. O importante é não nos censurarmos, qualquer conexão que fizermos deve entrar no mapa.

Qual a utilidade dele? Permitir que criemos ligações entre elementos que, de outra forma, talvez não passassem pela nossa cabeça ou demorassem muito a passar. Usaremos esses mapas criados para pensar sobre os anúncios e slogans com os quais trabalharemos.

O impulso de publicar

Todo dia eu posto meus sonhos no Facebook, coisa boba, um hábito singelo. Aí hoje eu tive um pesadelo horrível envolvendo as coisas que mais me assustam na vida, e o primeiro impulso foi ir ao computador e relatar detalhadamente o pesadelo. Ao contrário do que faço todos os dias, eu não quero contar a ninguém esse sonho, exceto àqueles que mais confio. É uma coisa tão clara, para mim, que os elementos envolvidos no pesadelo sejam reflexos das coisas que me assustam quando acordado. Aliás, que me tiram o sono. Literalmente, como hoje.

Atualmente estou estudando/pesquisando algumas relações que começam ou se mantêm através do ato de publicar. Especificamente, fotos nuas de si próprio. O que me motiva é compreender as razões que levam as pessoas a se autopublicarem, a construírem uma exposição de seus próprios corpos que atravessa a internet e se torna incontrolável. Não tenho intenções de julgar essas práticas, tampouco considerá-las inferiores a relações construídas tradicionalmente. O que desejo é compreender o impulso e as relações afetivas criadas a partir desse impulso.

Até hoje não fazia sentido, para mim, pensar sobre a subjetividade do ser humano e as suas transformações ao longo dos séculos. Achava, ingenuamente, que isso tinha pouco a ver com o ponto que vivemos hoje. Esse sonho, juntamente com o fato de ontem eu haver me matado preparando para uma prova de concurso numa área que eu não domino, me iluminou a necessidade de repensar a forma com que me relaciono com o mundo e com as informações e conhecimentos. Aí por esses dias li O Show do Eu, de Paula Sibília (informações sobre ele aqui e aqui) e gostei, é um livro ótimo, mas não enxerguei a relação entre os processos subjetivos de construção do eu no passado e como foram avançando até hoje. Ingenuamente, não pensei nessas reflexões como contendo muita ligação com o que eu desejo estudar. No máximo, um histórico interessante.

O que percebi, com esse impulso de publicar, foi a necessidade de ser visto pelo outro para que meus medos ganhem confirmação real, ganhem existência. O que senti foi o desejo de me resguardar, de não expor todos os pedaços de mim, de minimamente manter um pedaço de mim que não é público, que não é para todos os olhos. Não quero que saibam meus medos. Isso me leva a questionar: será que esses sujeitos que desejo investigar também têm esses impulsos e também sentem necessidade de guardar fragmentos de si em um âmbito "privado"? Ou será que, tendo nascido numa época muito mais digital e em rede do que eu, eles não terão se contaminado com formas de ser de um passado não muito distante?

Eu queria ser escritor, ainda quero, e colocar em letras dramas, romances, aventuras e sentimentos. Alguns pensamentos, também, é o que mais tenho feito. O que mais me incomoda hoje é a pergunta: ainda existem leitores? O ato de ler é tão solitário que sarais poéticos me incomodam por serem compartilhados. Contudo, a dinâmica social contemporânea nos requisita que tudo seja compartilhado para se tornar validado. De preferência, rápido. Textos longos sofrem. Para a literatura, me parece que vivemos numa era dos contos, ao invés dos romances.

Sobre os jovens que se autopublicam, então, tenho uma nova questão: o que escolhem guardar para si? Como se constroem suas intimidades? O que é íntimo para eles? Acabei de perceber que eu tenho algo que seja íntimo para mim e que o é não por vergonha, mas por medo do mundo. Não quero que as pessoas saibam como me fazer mal. É diferente de postar fotos nuas minhas na internet, isso é simples e nunca me doeu. Eu não quero validar meus medos, não quero que eles sejam parte de como o mundo me enxerga. No fim das contas, continua sendo tudo sobre essa autopublicação, esse mostrar-se ao escrutínio do outro. O olhar do outro ainda é o que me dá existência. Certamente tenho muito mais a pesquisar!

segunda-feira, outubro 08, 2012

Como a gente sabe quando não sabe de algo?

A pergunta do título é capciosa. Talvez o mais próximo de uma boa resposta seja: "a gente não sabe". É como perceber que algo não está lá: precisamos ter algum motivo para suspeitar que algo deveria estar lá.

Darei um exemplo a fim de iluminar a questão. Hoje estava eu em casa e resolvi colocar roupa na máquina de lavar. Coloquei, liguei e ela ficou lá fazendo seus barulhos irritantes. Eu, obviamente, fui tratar de outros afazeres e, por isso, desliguei da minha atenção aquele ruído que nunca parava. Até que veio o silêncio, que alívio! Somente horas mais tarde me dei conta de que havia algo de errado. No caso, o silêncio, pois a casa deveria estar repleta de barulhos.

Contudo, eu só pude estranhar o silêncio porque sabia que houve ou deveria estar havendo ruído. Essa é a grande questão do conhecimento: a gente só percebe o que conhece, o que sabe que está ou pode estar lá.

Achei essa imagem no http://www.apseudociencia.com/2011/03/vamos-falar-de-coisa-seria.html

Vou tentar outro exemplo, também da minha própria experiência. Recentemente fui assistir à defesa de mestrado de uma amiga na antropologia. Ela escreveu o texto no feminino e utiliza "escurecer" ao invés de "esclarecer", duas decisões linguísticas de ordem política. Em resumo, a língua é construída historicamente e carrega preconceitos e relações de poder, transparecendo e reforçando preconceitos. É o caso, por exemplo, da língua ser manifestamente machista, uma vez que um grupo composto por oito mulheres e um homem ainda deverá ser chamado de ELES, não de ELAS. A presença de um pênis é suficiente para anular invisibilizar qualquer feminino.

Depois da defesa da minha amiga, saí conversando com outros amigos justamente sobre esses usos políticos da linguagem e, em particular, os dois exemplos que citei. Disse que concordava com o uso do "elas" para grupos majoritariamente compostos por mulheres, mas que não via sentido para o uso de "escurecer" no lugar de "esclarecer". Nesse momento, meu amigo lançou a pergunta: não seria possível que eu não concordasse com o "escurecer" por falta de embasamento teórico? A razão pela qual eu consigo compreender e concordar com a troca do masculino pelo feminino é, justamente, eu saber das pressões e conflitos existentes nesse campo. Será que, por eu não ter interesse em estudar questões relacionadas a racismo, isso impacta negativamente na forma como eu enxergo movimentos sociais étnicos?

Aí, buscando imagens para essa postagem, cruzo com essa e, por curiosidade, resolvo olhar o site de onde ela veio.

Imagem encontrada em: http://materdei1.blogspot.com.br/2012/09/memes-catolicos-contra-revolucao-2-parte.html

Confesso que me sinto enojado de colocar essa imagem na Raposa Antropomórfica. O mundo é o que a gente acredita que ele seja. Se a pessoa que fez essa imagem e que a compartilha defende que não é homofóbica, apenas não concorda com essa "baixaria", isso diz muito de como ela pode se relacionar com sujeitos que estejam envolvidos com essa "baixaria". Diz muito, também, sobre o quanto essas pessoas estão abertas ao diálogo, a ouvir e, principalmente, a considerar o outro como um ser humano.

Aí a pessoa diz que não é homofóbica. Claro, a gente sabe que essa é uma palavra pesada e que não é legal estar associado a ela. Contudo, a pessoa diz ter vergonha na cara - os viado não têm - e não concordar com "essa baixaria". Até que me provem o contrário, "essa baixaria" da foto é um bando de gente caminhando por uma avenida, dançando com músicas animadas e pedindo reconhecimento social. Se a ideia era reclamar de outras coisas - das quais estou ciente porque estudo -, então faltou apontá-las.

Isso me preocupa. Existem inúmeras coisas que eu não sei, mas que mesmo assim configuram a forma que eu me relaciono com o mundo. Aquilo que eu enxergo depende daquilo que eu sei, daquilo que eu acredito que é certo. Posso ver uma marcha de orgulho ou uma baixaria. A conclusão óbvia é que não importa o que realmente está ali, importa a maneira como o que está ali será interpretado. O que eu posso fazer sobre isso? Não sei. Quero ser o cara aberto e legal e dizer "vamos ouvir os outros", mas não quero ouvir quem venha me falar de violência e preconceito. Também não quero ouvir quem se dispõe a atacar, muito mais do que defender. Isso tudo muda o meu mundo, muda o que eu percebo, o que eu sei que está certo e o que eu sei que está errado. Mais que tudo, eu sei que saber não significa nada. Saber é acreditar.

No fim das contas, é só isso: saber é acreditar. Se eu sei que algo está faltando, é porque eu acredito que algo deveria estar ali. Seja o barulho de uma máquina de lavar, seja respeito às mulheres. O que me incomoda é que eu estava pronto para recusar o "escurecer" sem qualquer reflexão mais aprofundada simplesmente por achar que não está certo e ponto. Sem pensar sobre. Sem discutir. Sem nada.

Simplesmente por acreditar que a forma que eu entendo o mundo é a forma correta de se entender o mundo. Não é muita arrogância? Já falei disso por aqui antes, quando discuti o que é etnocentrismo. Não acho que tenha sido suficiente. A gente pensar uma vez na diversidade não nos torna defensores dela. O tal do pensamento crítico não é algo que se tem ou não, é algo que se pratica, que se vive. Aliás, me parece que é algo que devemos aprender o quanto antes: não somos, estamos.

Como, então, a gente sabe quando não sabe de algo?
Não sabe.
O que posso recomendar, no fim das contas, é que estejamos abertos a ouvir e a perceber coisas que até então não sabíamos que estavam lá. Se vamos concordar ou não, acreditar junto ou desacreditar, isso é o de menos. Ouvir, estar aberto a ser tocado, sentir-se humilde o bastante para não ser aquele que tem o domínio da verdade, esse sim é um exercício difícil, mas necessário para um mundo mais justo. A parte triste disso tudo é que as palavras desse blog só farão sentido para alguém que esteja disposto a ir atrás de um mundo mais justo.

Você não soube me amar

Tem aquela música do Blitz, Você não soube me amar. Acho linda, sempre gostei. Só que tem algo que me irrita nesse "saber amar", algo que nesse fim de semana ficou muito (mais) claro para mim: se relacionar não é um, são dois. Não basta que uma pessoa ame perdidamente se a outra não tiver interesse. O mesmo vale para diversos níveis do gostar, eu posso amar muito, mas se meu outro só me ama de levinho, a coisa estará com dificuldades.

Outra música que eu gosto muito é Miss you love. Acho que é do Silverchair, mas eu ouço a versão do Damien Rice. A conheci ainda em 2010, quando me apaixonei por um menino que amava o jeito que eu o amava, mas não me amava de volta. É simples assim: eu queria casar, namorar, ter trinta e sete filhos, ficar junto o tempo inteiro. Ele queria... bem, até hoje não sei o que ele queria, mas não era isso tudo, era outra coisa.

É a mesma coisa que acontece todas as vezes em que queremos algo e a outra pessoa não. Ou quer diferente. Amizades funcionam porque as pessoas decidem que querem a mesma coisa para si, ou estão dispostas a compartilharem suas vidas num nível semelhante com outra pessoa. Amizades acabam quando isso não faz mais sentido. O mesmo vale para amores, namoros e ficadas, excetuando a parte em que nos investimos mais, damos emoção e atenção em níveis maiores.

Talvez seja por isso que suspiramos tanto por histórias de amor: sabemos que são possíveis, mas tão incrivelmente raras! Ainda assim, esperamos que cada troca de olhares possa nos levar àquele estado de suspiros e palpitações, que cada beijo possa transformar a maneira como vivemos. Ai, ai, esses relacionamentos... O que me deixa mais chateado é saber que não tenho culpa por não amar, e triste por saber que quem não me ama também não tem.

sexta-feira, outubro 05, 2012

Escrevendo por aí

Essa semana duas ocorrências me deixaram espantado e ao mesmo tempo maravilhado com o mundo e com as possibilidades de que uma voz se propague.

Na primeira, um rapaz com quem eu troquei algumas mensagens em uma "rede social" secundária descobriu a Raposa Antropomórfica e comentou sobre ela. Assim, do nada, navegando pela internet. Na segunda, uma moça que lê a Raposa há tempos descobriu, nas fotos do último post, que eu sou amigo das amigas dela.

Acho que é isso que me fascina na vida: essa potência de improbabilidade. É, também, o que me inspira a falar, escrever e viver na internet: ela é real, ela marca, ela amplia alcances. Eu estava tão desacreditado de continuar escrevendo virtualidades, mas aí aparecem na mesma semana duas pessoas que me leem e eu nem sabia! Isso me deixa pensando: o quanto a gente pode saber do que realmente acontece? Quero dizer, eu dou aula, o quanto eu posso saber do que meus alunos pensam de mim e da minha aula? O mesmo vale para relacionamentos: o que a outra pessoa pensa? O que ela expressa? Ao mesmo tempo que a vida tem essa teia de relações e ligações altamente improváveis, também é invisível.

x x x

Eu sempre quis ser um escritor. Acho que, desde criança, essa é a única certeza que nunca mudou. "Quero ser um escritor famoso". Meu padrasto pegava no meu pé, por que tinha que ser famoso? Eu não entendia aquela história de que se eu fosse um bom escritor, ser famoso seria consequência. Na minha lógica de criança, era óbvio que não. Acho que foi na faculdade que percebi que eu não era único, que outras pessoas passavam pelas mesmas coisas que eu – em medidas diferentes – e principalmente que eu não era o único capaz de escrever. Tampouco necessariamente o melhor a dominar as letras e as palavras. Isso acabou comigo e, paralelamente, com as minhas escritas.

Aí do nada surge um leitor e diz que foi tocado pela minha escrita. Do nada, dois dias depois, surge uma leitora e diz que me acompanha há tempos. Preciso mesmo dizer o quanto isso é importante para mim?

quarta-feira, outubro 03, 2012

Babá de gata

Eu sou um cara versátil, ainda mais atualmente (ah, essas piadas internas). Além de trabalhar como revisor, tutor e professor, também ofereço serviços como babá de gata. Para provar, algumas fotos =)





Tá bom, essa última é meio comprometedora, mas não me denunciem, OK?

terça-feira, outubro 02, 2012

Decisões esquisitas

Estou pensando em iniciar um site próprio, fora das regras do blogspot ou do wordpress. A razão é simples: sites dedicados a temas como nudez e sexualidade têm sido apagados sem maiores explicações dentro do blogger e isso é, para mim, um problema, pois pretendo lidar com esses assuntos cotidianamente. Pesquisando preços e possibilidades, até que tudo está dentro do que eu esperava. A questão é: terei eu a motivação para justificar o abandono do blogger e rumar para um espaço próprio? Será que esse é um investimento que vale a pena, financeira e qualitativamente?

Ai, ai...
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