quarta-feira, outubro 10, 2012

O impulso de publicar

Todo dia eu posto meus sonhos no Facebook, coisa boba, um hábito singelo. Aí hoje eu tive um pesadelo horrível envolvendo as coisas que mais me assustam na vida, e o primeiro impulso foi ir ao computador e relatar detalhadamente o pesadelo. Ao contrário do que faço todos os dias, eu não quero contar a ninguém esse sonho, exceto àqueles que mais confio. É uma coisa tão clara, para mim, que os elementos envolvidos no pesadelo sejam reflexos das coisas que me assustam quando acordado. Aliás, que me tiram o sono. Literalmente, como hoje.

Atualmente estou estudando/pesquisando algumas relações que começam ou se mantêm através do ato de publicar. Especificamente, fotos nuas de si próprio. O que me motiva é compreender as razões que levam as pessoas a se autopublicarem, a construírem uma exposição de seus próprios corpos que atravessa a internet e se torna incontrolável. Não tenho intenções de julgar essas práticas, tampouco considerá-las inferiores a relações construídas tradicionalmente. O que desejo é compreender o impulso e as relações afetivas criadas a partir desse impulso.

Até hoje não fazia sentido, para mim, pensar sobre a subjetividade do ser humano e as suas transformações ao longo dos séculos. Achava, ingenuamente, que isso tinha pouco a ver com o ponto que vivemos hoje. Esse sonho, juntamente com o fato de ontem eu haver me matado preparando para uma prova de concurso numa área que eu não domino, me iluminou a necessidade de repensar a forma com que me relaciono com o mundo e com as informações e conhecimentos. Aí por esses dias li O Show do Eu, de Paula Sibília (informações sobre ele aqui e aqui) e gostei, é um livro ótimo, mas não enxerguei a relação entre os processos subjetivos de construção do eu no passado e como foram avançando até hoje. Ingenuamente, não pensei nessas reflexões como contendo muita ligação com o que eu desejo estudar. No máximo, um histórico interessante.

O que percebi, com esse impulso de publicar, foi a necessidade de ser visto pelo outro para que meus medos ganhem confirmação real, ganhem existência. O que senti foi o desejo de me resguardar, de não expor todos os pedaços de mim, de minimamente manter um pedaço de mim que não é público, que não é para todos os olhos. Não quero que saibam meus medos. Isso me leva a questionar: será que esses sujeitos que desejo investigar também têm esses impulsos e também sentem necessidade de guardar fragmentos de si em um âmbito "privado"? Ou será que, tendo nascido numa época muito mais digital e em rede do que eu, eles não terão se contaminado com formas de ser de um passado não muito distante?

Eu queria ser escritor, ainda quero, e colocar em letras dramas, romances, aventuras e sentimentos. Alguns pensamentos, também, é o que mais tenho feito. O que mais me incomoda hoje é a pergunta: ainda existem leitores? O ato de ler é tão solitário que sarais poéticos me incomodam por serem compartilhados. Contudo, a dinâmica social contemporânea nos requisita que tudo seja compartilhado para se tornar validado. De preferência, rápido. Textos longos sofrem. Para a literatura, me parece que vivemos numa era dos contos, ao invés dos romances.

Sobre os jovens que se autopublicam, então, tenho uma nova questão: o que escolhem guardar para si? Como se constroem suas intimidades? O que é íntimo para eles? Acabei de perceber que eu tenho algo que seja íntimo para mim e que o é não por vergonha, mas por medo do mundo. Não quero que as pessoas saibam como me fazer mal. É diferente de postar fotos nuas minhas na internet, isso é simples e nunca me doeu. Eu não quero validar meus medos, não quero que eles sejam parte de como o mundo me enxerga. No fim das contas, continua sendo tudo sobre essa autopublicação, esse mostrar-se ao escrutínio do outro. O olhar do outro ainda é o que me dá existência. Certamente tenho muito mais a pesquisar!

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