segunda-feira, junho 04, 2007

Visões de mundinho

Ontem dei-me conta de uma pequena questão. Estava a falar sobre o mundo virtual e as vantagens e desvantagens do MSN na vida de uma pessoa. Claro problema é o vício, a necessidade de ficar na frente do computador o tempo inteiro, que condiciona (a mim, pelo menos) a uma não realização de outras tarefas. O ponto positivo fica para a aproximação de pessoas d'outras formas distantes pelos tantos compromissos e acontecimentos em horários desconexos.
Sobre essa aproximação, porém, eu tenho alguns detalhes a comentar. Notei que a imagem mental que eu tenho de uma pessoa não leva em consideração aquilo que com ela "vivi" através da internet. São duas percepções distintas, a real e a virtual. O olhar é dotado de um poder magnífico, pois apreende diversas características que poderiam facilmente passar ignoradas – algumas passam sem lembrança, mas não sem uma pequena fagulha de referência mental para análises futuras. Essa característica própria do olhar de captar elementos tão diversos, complementares ou não, nos permite gerar uma imagem mental da pessoa física. Não ignoremos a audição, o olfato e o tato, talvez até o paladar, já que são sentidos que nos ajudam a atribuir (adivinhem) sentidos. A visão, porém, vale aqui como caráter ilustrativo ou alegórico.
Eis que o mundo virtual. Fotos, palavras, algumas vezes sons e imagens. Ainda assim, é uma percepção fragmentada de um todo, uma análise de uma parte que é apenas a ativa. Boa parte da linguagem passiva, ou seja, a não intencional, é perdida. Podemos considerar que webcams permitem essa apreciação, mas discordo, posto que os dois não estão participando do mesmo espaço, não estão interagindo com os mesmos elementos: a percepção não é completa. Conversas por chats, MSN, ICQ e e-mail são ainda mais ilustrativas nessa discussão, já que ali está apenas o que se deseja escrever. Nossas paradas, hesitações, dúvidas e questionamentos pessoais não são visíveis. As nossas reações são protegidas por uma tela. Temos, então, a criação de uma identidade virtual.
As duas são fundamentalmente diferentes por algumas questões que já beiram o senso comum, ao menos o daquelas pessoas que têm contato com a existência da internet. Por trás de um computador podemos esconder nossa timidez e mesmo nossos medos de que as coisas dêem errado. Estamos seguros contra a reação das pessoas, pois não a enxergamos, só imaginamos e acreditamos no que a outra pessoa nos diz (escreve).
Acontece de tempos em tempos das duas identidades serem confrontadas. A frequência com que isso acontece também altera a percepção que temos das pessoas. Alguém que muito pouco encontramos pessoalmente terá sua personalidade enxergada muito mais pelas suas considerações virtuais, ou seja, seremos influenciados bastante pelo que a pessoa diz ou acredita que é, e menos pelas nossas próprias leituras sobre a pessoa. Nossas análises serão baseadas não na pessoa puramente, mas sim nas ações dela.
Alguém que encontramos bastante pessoalmente, por outro lado, terá o virtual como uma ferramenta de auxílio e de aumento de interação social. Complicado, algumas vezes, considerarmos algumas das coisas que vemos pela internet e acreditarmos que são reais. Imagino que há uma tendência a duvidarmos daquilo que estranhamos justamente por acharmos que conhecemos.

Aprofundarei-me hora dessas.


xxxxxx


Ontem foi um dia de muitas considerações. Eu estava particularmente de bem com a vida, colocada a perspectiva de que um futuro mais interessante do que o que eu esperava estava surgindo. Mais feliz, também. Nessas idas e voltas de humor é que acontecem minhas maiores reflexões, bem como as trago aqui para vocês admiráveis leitores.
Sempre tive certo receio de contar ao mundo quem sou e o que já fiz por achar que sou ou fiz pouco. Trata-se de uma insegurança boba e que em qualquer pessoa eu apontaria como desnecessária para uma vida feliz. Não em mim, obviamente, pq eu não consigo apontar pra mim mesmo com tanta facilidade ^^.
Então percebi, refletindo, algo sobre a formação da experiência de uma pessoa. A história de alguém não vem apenas daquilo que ela viveu, experimentou, etc. Trata-se de uma soma de tudo aquilo que não foi vivido, também. Somos o que somos porque vivemos determinadas experiências e não fomos afetados por outras que, obviamente, não tivemos.
Sei que parece um pensamento bobo, e talvez até o seja, mas eu nunca havia considerado que aquilo que eu deixava de lado também influenciava quem eu me tornei.
Fico feliz em perceber, portanto, que todas as dores por me achar distante do mundo e das experiências do mundo significaram algo que quem esteve próximo e participante jamais terá. É fantástico pensar que mesmo a ausência nos seja tão significativamente educativa.
(o que não dispensa o fato de hoje eu prefirir muito mais o sim do que o não)

Um comentário:

Anônimo disse...

Humm... Adorei o text. ^^
Bjuss (L)

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