terça-feira, dezembro 13, 2011

O que eu tenho chamado de lar

O que se está afirmando é que a nossa casa veio deixando de ser um lar, no sentido de constituir uma extensão de nossas emoções e sentimentos, veio deixando de ser um lugar expressivo da vida de seus moradores e da cultura onde se localiza. (O sentido dos sentidos, João-Francisco Duarte Jr.)

O que minha casa oferece para mim, em termos de emoções? É um lugar de conforto de resguardo, ou é simplesmente um espaço de acúmulo de tralhas, livros e memórias? O que eu sinto quando abro minha porta, além do alívio de escapar do sol? Costuma ser raro eu pensar na minha casa como lar, já que fui criado com pouco poder (ou vontade? Ou saber?) para interferir no meu quarto. Trouxe isso comigo para Goiânia, lugar em que todas as minhas interferências são possíveis de desfazer sem muito trabalho.


Na parede, papéis colados que lembram uma noite de amizade ou uma tarde de picolés de pequi (Peça, recebido das mãos de Gwavira Gwayá), bem como monstrinhos peluciados que me acompanham em dias felizes ou tristes. Livros literários, uma galinha de segurar portas que, promovida culturalmente, agora ergue livros. Um Hello Kitty discreta de uma festa esquecida. Percebo agora que todos meus adornos de parede são presentes. É difícil pensar detidamente sobre aquilo que vemos todos os dias. O tal do cotidiano se mascara tão rapidamente em outros pensamentos que soam mais importantes, que até chegam a nos surpreender quando lembramos que estão ali.





Meu lugar de trabalho é meu ambiente de sono e sonho. Deito, olho para as paredes e vez ou outra recordo de uma marca gaúcha, de um presente de amigo secreto ou de uma lembrança de amiga que não era nem é secreta. São fragmentos de uma vida que não me abandona, de dias risonhos e muitas vezes regados a vinhos, queijos e aprendizagens. Algumas nem acadêmicas, quem diria!


Uma raposa discreta na parede, observando o corredor, espreitando quem passa do quarto para a cozinha, da porta de entrada para a sacada. Ela me acompanha silenciosa e com uma marca de café. Logo eu, que não bebo dessas coisas que acordam a gente. Sempre fui do time dos que preferem dormir, dos que sabem que sonhar pode ser muito mais gostoso do que saber. Aliás, sonho tanto que até acordado me perco da realidade, resquícios de uma inexistência já antiga.



Por fim, meu vício. Quando chegava na casa do meu pai, a primeira coisa que eu pedia era papel e caneta. O que eu faria com eles não importava, contanto que eu sempre pudesse desenhar, escrever, imaginar e tracejar a tinta no branco. Branco porque não havia outras cores. Tinta porque nunca aprendi a usar lápis. Tenho medo de fazer riscos que durem pra sempre, aí acontece que meus rabiscos são tão fraquinhos que quase não se percebem. Daquelas coisas que a gente foi e vai e segue perdendo com o tempo.

Ou, às vezes, ganhando.

3 comentários:

Gwavira Gwayá disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gwavira Gwayá disse...

Que casa mais gostosa, que pessoa mais organizada! E que coisa boa encontrar entre seus recortes, a gravurinha do nosso Pequi Nique :)
Eu ando precisando inventar alguma ordem para minha casa... coisas para fazer nas férias...
Um beijo!

maria lucia disse...

Teu canto inspira paz. Um lugar pra sonhar, pra recordar tua história, fazer o que tu tem vontade. Cheinha de presentes? Não me admiro em nada! Ah, adorei encontrar meu desenho na parede!!! Nossa, como a gente pode ir tão longe?!! BJ

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