segunda-feira, maio 21, 2007

Ouvindo a cidade

Como é difícil para as pessoas definir qual é o som da sua cidade. Respeito a dificuldade, eu mesmo comecei a encarar essa dificuldade frente ao trabalho experimental para rádio que estou fazendo. Eu e meu grupo estamos em busca de um mapeamento do som da cidade através dos olhos de quem mora nela.
Trânsito. Buzinas. Loucura. Gritos. Ônibus. Música alta. Por que todos os sons que chegam mais facilmente à mente das pessoas são os mais exaustivos, os mais dolorosos de serem acompanhados? Os mais caóticos, até?
Pássaros, um avião passando acima do parque num domingo de manhã, MPB, o vento.

O som está aí.
Imagino que da mesma forma que naturalizamos os impactos visuais, que enxergamos o todo e não as partes que o compõe, assim fazemos com o que é sonoro. Um barulho alto só nos choca enquanto estamos atentos a ele: nossa tendência é deixá-lo de lado tão logo nossa atenção seja capturada por algo mais momentâneo.
A luz forte do sol, entretanto, continua nos machucando. E não deixamos de senti-la nos incomodar, o que é importante de ser dito.

Estamos mais acostumados a depender da visão do que da audição.
Parece-nos incrível pensar que uma pessoa seja capaz de se localizar apenas através dos barulhos e silêncios que nos cercam. É possível. Complicado para nós que vivemos imersos no mundo visual.
Considero um desafio parar e escutar, representar o mundo através dos seus sons. Agora mesmo percebo o bater as bandejas do RU, o plac-plac das teclas pressionadas pelos meus dedos, vozes de conversas distantes, passos se aproximando, a cadeira chiando por ter sido movida, uma moto indo para longe, as rodas no asfalto, mais vozes, computadores ligados, coolers funcionando.
Não posso convidá-los a ouvir o mundo, posto que ainda não estou preparado para tanto. Lembro, porém, de quando meditei numa oficina do Forum Mundial Social (o último que tivemos aqui em Porto Alegre, início de 2005, se bem lembro). Olhos fechados, uma voz nos guiando, o não-silêncio lado a lado com o não-ruído. Percebendo tudo e ao mesmo tempo não se prendendo em nada foi possível ter uma leve compreensão de tudo que deixamos de lado a cada milésimo de segundo.

O mundo é fantástico.

Um comentário:

Maria Clara Spies disse...

Fáááááábrica de calcinhas!!!!

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