domingo, abril 11, 2010

you're not a single lady, buddy

Decidimos, Vivian e eu, ter filhos. Luan e Sara, gêmeos. Vamos criá-los livres de cacarecos morais, de repreensões absurdas e expectativas irrealizáveis de felicidade. Terão liberdade para escolher seus caminhos, desejos e questionamentos. Sexo não será um tabu. Religião não será um tabu. Política não será um tabu. Nada será um tabu.

Pausa para comentar o título. Assisti essa semana um vídeo em que três crianças, duas meninas e um menino, cantavam Single Ladies, da Beyoncé, no banco de trás de um carro. Crianças felizes e animadas, braços pro alto, tudo contente. Então o pai, de forma bastante sutil, proferiu as palavras mágicas "you're not a single lady, buddy". Resultado: silêncio seguido de choro interminável. Muito engraçado, é claro.
O problema disso está na repressão que a criança sofreu. Ali, naquele momento, ficou claro que ele não podia ser uma menina, ou dançar como uma menina. O que isso significa, pro futuro do ex-single lady? Que ele deve ser um menino, que meninos não fazem determinadas coisas. Uma questãozinha inocente como cantar uma música e se identificar com uma mulher, hoje, uma coisa complexa como não brincar de boneca ou não chorar, amanhã. Daí pra homem ser melhor que mulher, então, um pulo.
Não estou dizendo, fique claro, que o pai estava propositalmente podando o filho. O tanto de desculpas que ele pediu, quando fez o pequenino chorar, explicita que provavelmente ele nem notou o que estava fazendo. Contudo, ele fez.

Aí voltamos ao Luan e a Sara. Mesmo que eu e a Vivian sejamos muito liberais, como vamos ter certeza que não constrangeremos nossos pimpolhos, um dia? Digo mais: mesmo que consigamos lutar contra todas as opressões típicas criadas no lar, como vamos proteger os dois das influências repressoras de quem vive num mundo marcado pela escuridão intelectual?
Ouvi dizer que estava acontecendo uma espécie de escândalo porque a Angelina Jolie permitia que sua filha se vestisse como menino. Um parêntese, agora, por favor. "Como menino", que diabo é isso? Onde está escrito o que um menino pode ou não fazer, usar, comer? Achei super admirável a postura dela em dizer que os filhos serão o que quiserem, independente de quão excêntricos eles possam parecer (ou mesmo ser). Tudo bem que vivemos em um mundo onde permitir excentricidades costuma ser um privilégio de manutenção muito cara, já que ignorantes tendem a reagir de formas extremas (muitas vezes violentas) contra o que não concordam, entendem ou aceitam.

Luan e Sara, como viverão livres num mundo tão preso?
Será que esse desejo de liberdade projetado pelos pais não pode, eventualmente, destruir a cabecinha ainda inexistente de vocês e projetá-los como monstrinhos acríticos e hedonistas?



...
e por que isso seria errado?

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