sábado, agosto 10, 2013

Meus personagens me acompanham

Eu não sei se isso é certo ou aceitável no mundo literário, mas está acontecendo comigo. Aliás, sei muito pouco do universo das letras, já que minha formação não é artística e sim objetivista e jornalística. Ainda assim, tenho ousado escrever e literaturizar por aí com algum prazer. Desde que retomei a empreitada de ser escritor, alcancei a publicação de O bufo na coletânea Loveless, da Editora Escândalo, e nas próximas semanas terei O terceiro passo publicado na coletânea Contos de ocasião pela Editora Big Time. Seria lindo ter uma segunda publicação no meio, para que o terceiro passo fosse efetivamente o meu terceiro passo e até tentei, mas não aconteceu.

Enquanto O terceiro passo foi um reajuste de um texto antigo, escrito em 2008, O bufo foi uma escrita original preparada especificamente para o concurso do qual participei. Há um abismo entre os meus textos até 2008 e 2009 e agora, 2013, quando voltei a escrever. Um abismo que não tem boas justificativas, pois foi um período em que a minha capacidade criativa esteve forçosamente adormecida sob a pressão do medo de me expor ao mundo.


Eis que depois de O bufo encontrei pessoas dizendo repetidamente que a história deveria ter uma continuação, que os personagens não estavam ainda finalizados, que suas peripécias ainda deveriam conduzir a outros lugares. A princípio fiquei ofendido, pois achei que o meu conto não fosse suficiente em si mesmo para narrar uma boa história. Hoje já penso diferente: meus personagens cativaram os leitores ao ponto de quererem mais deles, de se preocuparem com suas aflições e de se encantarem com suas conquistas. Marcelo e Eduardo são dois personagens que, por essa incompletude do conto, resolveram seguir-me sussurrando suas experiências.

É daí que nasceu a Terapia alternativa, história que dá seguimento quase imediatamente aos eventos narrados nO bufo. Assim como a história anterior, ela também está fechada, porém aberta. Ela certamente pede por uma continuação e deve ganhá-la em breve, mas conclui a narrativa que planejei. Não é isso que define um conto, uma "narrativa breve e concisa, contendo um só conflito, uma única ação (com espaço ger. limitado a um ambiente), unidade de tempo, e número restrito de personagens"?

É também dO bufo que nasce O sexo é certo (título provisório), desta vez deixando um pouco Marcelo de lado e se focando em Eduardo, o amigo irreverente e promíscuo. Enquanto escrevia fui obrigado a reformular a história inúmeras vezes, percebendo que Dudu não era quem eu queria que ele fosse, mas como a sua própria personalidade sugere, ele era quem queria ser. Coloquei o ponto final e estou satisfeito com as criaturas que têm surgido a partir de meus dedos. Preciso agora encontrar casas de papel para abrigá-los e mostrá-los ao mundo, um processo infinitamente mais incômodo do que o de escrever, mas que faz parte.

Há ainda outros filhotes esperando para serem escritos, como A marcha da vadia, que também ocorrerá no mesmo universo, porém a partir de uma frase da Terapia Alternativa. Assim brincando de spin-offs vou escrevendo e dando seguimento a esse mundinho que é parte de mim e que, aos poucos, espero que seja parte também dos leitores.

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